Atleta de vôlei relata pânico após bala atravessar carro: “Não percebi o tiro, parecia um soco”
A jovem jogadora de vôlei Júlia Rocha Marques de Azevedo, de 28 anos, viveu uma noite de terror no último domingo (23), quando foi alvo de um ataque enquanto voltava para casa de carro com o pai, no bairro da Tijuca, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Criminosos abriram a porta do veículo e dispararam contra eles, sem anunciar assalto. Um dos tiros atingiu as costas da atleta, atravessou o carro e perfurou seu corpo, mas, por um milagre, não causou ferimentos graves.
O que aconteceu
Segundo o relato da própria atleta, à noite retornava para casa após uma visita à avó, acompanhada do pai. Quando o carro se aproximava da Rua Conde de Bonfim, criminosos — que já estavam com um veículo à espreita — abriram repentinamente a porta do automóvel em que estavam, sem nenhuma palavra de aviso, e efetuaram disparos. Foram três tiros: dois atingiram a lataria do veículo e um três perfurou a estrutura do automóvel e acertou Júlia. O pai fugiu imediatamente com o carro, e a jovem só sentiu algo errado depois de chegarem em casa.
Na confusão, ela não teve noção de que havia sido baleada. “Passei a mão nas costas e não tinha sangue. Quando cheguei, senti uma dor forte na coluna, mas não onde a bala entrou. Só depois percebi que tinha levado um tiro”, contou a atleta.
Para ela, a sensação foi comparável a um soco violento. A confusão, o medo de que os atiradores continuassem disparando e o susto fizeram com que o impacto real só fosse sentido no momento em que se viu em segurança, longe do carro e com o próprio corpo.
Atingida de raspão — mas por milagre
Apesar da gravidade do ocorrido, os resultados dos exames deram um alívio: o projétil não perfurou órgãos vitais, não atingiu a medula espinhal — estava a cerca de 1 milímetro da coluna — e passou a menos de 1 centímetro da bexiga. A bala entrou pelas costas e saiu pelo quadril, sem causar lesões que pudessem gerar sequelas.
Em suas redes sociais, Júlia usou a frase “nasci de novo” para expressar a gratidão por ter sobrevivido a algo que poderia ter sido ainda pior — paraplegia ou morte.
Recuperação e impacto na carreira
Atualmente, a jogadora está em casa, fora de perigo, mas em repouso. O clube que ela defende, o Tijuca Tênis Clube, anunciou que ela ficará afastada por um período para se recuperar com calma. A previsão é de que ela retorne aos treinos em cerca de um mês, com expectativa de atuar no próximo jogo oficial do time.
Apesar do susto e da interrupção temporária, Júlia, com a serenidade e o espírito de atleta, já projeta sua volta: “Vou voltar mais forte”, disse em suas redes sociais. Para ela, a experiência serviu como um alerta — da fragilidade da vida e da necessidade de valorizar cada instante.
O contexto mais amplo: violência e insegurança nas grandes cidades
O caso de Júlia Azevedo trouxe à tona, mais uma vez, o drama da violência urbana nas grandes metrópoles brasileiras. A ousadia dos criminosos — que atiraram sem anunciar assalto, numa rua movimentada, contra uma mulher dentro de um carro com o pai — expõe o nível de insegurança e a aleatoriedade desse tipo de crime.
Para a atleta, o impacto não é apenas físico, mas emocional e psicológico. O trauma de ter a própria vida ameaçada, de ver a bala passando rente à coluna e ao risco de perder a mobilidade ou até a vida pode deixar cicatrizes profundas. A sensação de impotência, de que tudo aconteceu rápido demais, e o susto de só perceber que havia sido baleada depois de algum tempo revelam o poder de choque desse tipo de violência.
A força do desabafo
Nas redes sociais, Júlia agradeceu a todo o apoio recebido — direção do clube, corpo médico, policiais que prestaram socorro e, especialmente, às mensagens de carinho de fãs, amigos e colegas de esporte. Ela lembrou que a vida é um bem precioso e que, por um milagre, escapou de um destino trágico.
O pai dela, que dirigia o carro, também falou sobre o susto, emocionado. Para ele, a sensação de quase perder a filha e conviver com a imprevisibilidade da violência urbana reforça a urgência de debates sobre segurança pública, proteção de cidadãos e justiça social.
Conclusão: sobrevivência e esperança
O relato de Júlia Azevedo é um alerta duro e triste sobre o Brasil de 2025: o risco pode estar em uma volta para casa, num carro com quem se ama, na paz da noite. Ainda assim — e talvez por isso — sua sobrevivência, sem sequelas graves, inspira gratidão, reflexão e, sobretudo, solidariedade.
Ela sobreviveu a algo que poderia ter destruído sua carreira, sua família, sua vida. O trauma existe, mas também existe a esperança — de recuperação, de volta ao esporte e de que, de alguma forma, possa transformar dor em força.
Em um país que vive tantos episódios de violência, a história de Júlia serve como um grito de alerta e, ao mesmo tempo, um lembrete de resistência: a vida é frágil, mas vale lutar por ela — com coragem, resiliência e esperança.

