Criador de “Tremembé” afirma que série evita glamourizar criminosos
O jornalista e roteirista Ullisses Campbell, autor do livro que inspirou a série Tremembé e também integrante da equipe criativa da produção, declarou que a obra foi concebida com o propósito claro de não transformar os criminosos retratados em heróis.
Campbell ressaltou que os personagens retratados na série, embora famosos, “continuam sendo humanos”: vivem, amam, odeiam, cometem erros e pagam por eles — mas não merecem admiração. Ele afirmou que “essas pessoas estão dentro da penitenciária cumprindo penas e continuam sendo humanas, amando, odiando, se divertindo, lendo, fazendo sexo. Elas continuam vivendo como nós aqui fora. O que incomoda é quando você coloca o criminoso e a pessoa que está do lado de fora no mesmo ambiente, mas essas pessoas pertencem à mesma sociedade”.
O autor explicou ainda que, embora haja um fascínio por figuras como Suzane von Richthofen — “acho que o brasileiro tem um fetiche pela Suzane”, disse ele — isso não significa que o público as veja como modelos a seguir. O objetivo do livro e da série é “aproximar a realidade” e mostrar que, muitas vezes, “você não precisa ser um monstro para ir para lá”, no sentido de alertar sobre como pessoas comuns podem cometer atos extremos.
Na entrevista, Campbell destacou que, ao escrever e adaptar a série, houve preocupação ética e jornalística: buscar processos públicos, consultar arquivos, trabalhar com a verdade dos autos e não dramatizar para exaltar. Ele frisou que o foco da narrativa é o convívio entre os presos no “presídio dos famosos”, mostrando disputas de poder, relações internas e cotidiano — sem romantizar o crime.
Para Ullisses Campbell e para a produção de Tremembé, o objetivo é expor consequências, cenários e relações humanas complexas, mas sem dar o estatuto de herói ou ídolo aos personagens centrais.

