Inflação ao consumidor na China tem leve avanço em outubro, enquanto preços ao produtor seguem em queda e reforçam quadro de desaceleração industrial
A economia chinesa apresentou sinais mistos em seus mais recentes indicadores de preços, divulgados nesta segunda-feira (10). O Índice de Preços ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês) registrou alta modesta de 0,2% em outubro na comparação anual, enquanto o Índice de Preços ao Produtor (PPI) — que mede os custos na porta das fábricas — caiu 2,1% no mesmo período. Os dados refletem o desafio contínuo do governo chinês em reaquecer a demanda doméstica e reverter a deflação industrial.
De acordo com o Escritório Nacional de Estatísticas da China, o aumento do CPI foi impulsionado principalmente pela recuperação nos preços de alimentos frescos e energia. Mesmo assim, o ritmo de alta permanece fraco, reforçando a percepção de que a economia ainda enfrenta dificuldades para retomar um crescimento mais vigoroso do consumo interno.
Especialistas apontam que o comportamento do CPI está diretamente ligado ao enfraquecimento do poder de compra das famílias e à cautela dos consumidores diante de um cenário de incerteza no mercado de trabalho e desaceleração do setor imobiliário. Apesar dos estímulos recentes, os gastos das famílias continuam abaixo dos níveis esperados, o que limita o avanço dos preços ao consumidor.
Enquanto isso, o recuo de 2,1% no PPI, embora ligeiramente menor do que em meses anteriores, mostra que os preços industriais seguem pressionados pela baixa demanda global e pela lenta recuperação da manufatura. Esse é o 19º mês consecutivo de retração no indicador, evidenciando a persistente fraqueza das exportações e a dificuldade das empresas em repassar custos ao mercado.
O setor industrial chinês enfrenta um ambiente desafiador, marcado pela concorrência crescente de outros países asiáticos e pela queda de pedidos externos. Analistas destacam que a desaceleração da economia global e as tensões comerciais com o Ocidente continuam pesando sobre a capacidade de recuperação das exportações chinesas, especialmente nos segmentos de eletrônicos, máquinas e produtos químicos.
Para tentar conter os efeitos da desaceleração, o governo da China vem adotando uma série de medidas de estímulo, incluindo reduções de juros, facilitação de crédito e incentivos fiscais a empresas estratégicas. Pequim também vem ampliando investimentos em infraestrutura e inovação tecnológica, na tentativa de sustentar o crescimento em setores como inteligência artificial, energia limpa e veículos elétricos.
Economistas observam, no entanto, que o impacto dessas políticas tem sido gradual. O mercado imobiliário, um dos pilares do crescimento chinês nas últimas décadas, continua fragilizado. A baixa confiança dos compradores e o elevado endividamento das construtoras dificultam uma recuperação mais robusta, o que acaba reduzindo o efeito multiplicador sobre o consumo e a produção industrial.
Em termos mensais, o CPI avançou 0,1% em relação a setembro, mostrando estabilidade de preços, enquanto o PPI permaneceu praticamente inalterado, o que reforça o cenário de inflação controlada, mas com pouca tração econômica. Esse quadro aumenta a pressão sobre as autoridades para adotarem novas medidas de estímulo ao consumo e ao investimento privado.
O Banco Popular da China, equivalente ao banco central do país, indicou recentemente que continuará com uma política monetária “prudente, porém flexível”, priorizando o apoio ao crédito e à liquidez dos mercados. Analistas internacionais acreditam que a autoridade monetária poderá anunciar novos cortes nas taxas de juros ou injeções adicionais de liquidez ainda neste trimestre, caso os indicadores de atividade não mostrem melhora consistente.
Para o governo chinês, o desafio é duplo: sustentar o crescimento sem criar bolhas de crédito e, ao mesmo tempo, restaurar a confiança dos consumidores e das empresas. A leve alta do CPI e a queda contínua do PPI mostram que a economia ainda caminha em terreno instável, com sinais de recuperação em alguns setores, mas com deflação persistente na indústria pesada.
Em síntese, os números de outubro reforçam o diagnóstico de uma economia em transição. A China busca reequilibrar seu modelo de crescimento, reduzindo a dependência de exportações e construção civil, enquanto tenta impulsionar o consumo doméstico e a inovação tecnológica. Apesar dos desafios, o governo mantém a meta de crescimento anual em torno de 5%, apoiando-se em estímulos pontuais e na resiliência do setor manufatureiro mais avançado.
Com o cenário global ainda incerto e a demanda internacional enfraquecida, os próximos meses serão decisivos para avaliar se as medidas adotadas por Pequim serão suficientes para sustentar a recuperação e afastar o risco de uma deflação prolongada que possa comprometer a segunda maior economia do mundo.

