Politica

Boulos critica governadores alinhados a Bolsonaro e acusa discursos de exploração política da violência

O deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP) fez duras críticas a governadores aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro, acusando-os de usar episódios de violência pública para promover discursos de cunho político e eleitoral. Segundo Boulos, determinadas lideranças estaduais têm transformado tragédias e operações policiais em palanques ideológicos, o que ele classificou como “demagogia com sangue”.

As declarações do parlamentar ocorreram durante uma entrevista concedida a jornalistas no Congresso, em meio às discussões sobre segurança pública e à recente escalada de confrontos entre forças policiais e facções criminosas em diferentes regiões do país. Boulos afirmou que é inaceitável que governadores utilizem o sofrimento da população como instrumento de autopromoção, sem apresentar soluções estruturais para o problema da violência.

De acordo com o deputado, o aumento de operações policiais de grande porte, muitas vezes marcadas por abusos e letalidade, vem sendo tratado por certos governos estaduais como demonstração de força política, quando, na prática, revela a falta de um plano consistente de segurança. Ele destacou que o combate ao crime organizado exige investimento em inteligência, integração entre forças e políticas sociais, e não apenas ações midiáticas.

Boulos citou ainda que o discurso de “tolerância zero”, adotado por alguns gestores estaduais, não tem apresentado resultados duradouros e tende a agravar o ciclo de violência. Para o parlamentar, a retórica punitivista é usada como ferramenta eleitoral, apelando ao medo e à indignação popular, mas sem enfrentar as causas profundas da criminalidade. “O que o Brasil precisa é de responsabilidade e estratégia, não de espetáculo”, afirmou.

O posicionamento de Boulos repercutiu fortemente entre parlamentares de diferentes partidos. Enquanto aliados políticos defenderam suas declarações como um alerta necessário, opositores afirmaram que o deputado tenta deslegitimar a atuação das forças de segurança. Representantes de estados governados por aliados de Bolsonaro, como São Paulo, Goiás e Santa Catarina, rebateram as críticas e sustentaram que as operações policiais recentes foram pautadas pela legalidade e pela necessidade de resposta ao avanço do crime.

Analistas políticos observam que o embate reflete o acirramento do debate sobre segurança pública no país, um dos temas mais sensíveis do cenário nacional. A discussão ocorre em um momento em que o governo federal tenta avançar com o Marco Legal do Combate ao Crime Organizado, enquanto diferentes estados reforçam operações para conter o domínio de facções. A crítica de Boulos, segundo especialistas, também busca demarcar posição política em meio à disputa por protagonismo no tema.

Em suas declarações, o parlamentar ressaltou que a violência no Brasil não pode ser enfrentada apenas com armas e viaturas, mas com políticas integradas que envolvam educação, emprego e urbanização de áreas vulneráveis. Ele defendeu a ampliação de programas sociais e de inclusão, argumentando que a redução da desigualdade é um dos caminhos mais eficazes para diminuir o poder de recrutamento das facções criminosas.

Governadores bolsonaristas reagiram com veemência. Alguns classificaram as falas de Boulos como “desrespeitosas” e “ideológicas”. Já entre aliados do deputado, o discurso foi interpretado como uma tentativa de reposicionar o debate público, tirando o foco de narrativas que exaltam a violência como solução. Para esses parlamentares, a fala de Boulos busca alertar para o risco de normalizar ações que colocam em risco a vida de inocentes em nome de resultados políticos.

O episódio evidencia uma divisão crescente entre dois modelos de segurança pública em disputa no país: um, baseado no endurecimento policial e na ampliação de operações repressivas; outro, centrado na prevenção, na inteligência e na reconstrução de políticas sociais. Essa polarização tem se tornado um dos eixos centrais da política brasileira, especialmente às vésperas de disputas eleitorais municipais.

Para observadores do Congresso, as declarações de Boulos também servem como estratégia para reforçar seu perfil de oposição e projetar sua imagem como defensor de uma abordagem humanista e estruturante da segurança pública. O deputado, que vem se consolidando como uma das principais vozes da esquerda nacional, tem reiterado que não se opõe às forças policiais, mas ao uso político de suas ações.

Ao encerrar sua fala, Boulos reafirmou que o país precisa de líderes comprometidos com a vida, e não com o espetáculo da violência. “Não é na dor do povo que se constrói projeto político”, declarou o parlamentar, em tom de crítica àqueles que, segundo ele, tentam transformar tragédias em oportunidade de capital político. Suas palavras sintetizam a tensão atual entre discursos de endurecimento e propostas de reconstrução social — um embate que, ao que tudo indica, continuará moldando o debate público brasileiro nos próximos meses.

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