Politica

Disputa antiga entre Globo e Collor volta ao centro do debate após denúncia sobre transferência de emissora para nome da esposa

A relação turbulenta entre o ex-presidente Fernando Collor de Mello e o Grupo Globo voltou a ganhar força no cenário político e midiático. A emissora voltou a acusar Collor de ter recorrido a uma manobra irregular para manter o controle de uma rede de televisão, colocando a propriedade em nome de sua esposa, o que, segundo a Globo, configuraria uma tentativa de contornar limitações legais e aparentar cumprimento das normas apenas de forma superficial — algo descrito como “para inglês ver”, expressão usada no sentido de fazer parecer correto aquilo que, na prática, não se sustenta.

A controvérsia envolve a concessão de um canal regional, cujo controle direto, pela legislação, exige critérios rigorosos de transparência e conformidade com regras de propriedade cruzada e vínculo político. Para a Globo, a operação que colocou a emissora em nome da esposa de Collor seria uma estratégia para manter o domínio sobre o grupo de comunicação, preservando decisões editoriais e administrativas, enquanto o registro formal indicaria outra titularidade.

O episódio reabre uma disputa que tem raízes na década de 1990, quando Collor, ainda como presidente, travou enfrentamentos diretos com a Globo durante seu mandato. Naquele período, divergências políticas, acusações de manipulação jornalística e embates narrativos marcaram a relação entre governo e a emissora. Desde então, qualquer movimentação envolvendo o nome de Collor e concessões de mídia tende a reacender faíscas históricas.

Collor, por sua vez, tem se defendido afirmando que não há irregularidade na transferência e que o processo estaria amparado por exigências legais e documentais. Segundo seu discurso, trata-se de uma reorganização patrimonial comum em grupos familiares e que a acusação seria mais um capítulo de perseguição política e midiática. O ex-presidente argumenta ainda que a Globo tenta preservar sua influência na discussão sobre concessões e comunicação regional, interferindo indiretamente no equilíbrio do mercado e dos poderes institucionais que o regulam.

O caso também movimentou especialistas em direito de mídia e concessões públicas. Há quem defenda que, se Collor mantiver influência direta sobre a linha editorial e administração da emissora, mesmo com o canal registrado em nome da esposa, configura-se uma violação ao espírito da lei — que busca impedir concentração política e midiática. Outros apontam que, sem provas formais do comando informal, seria difícil sustentar a acusação juridicamente, tornando o embate mais político do que técnico.

No ambiente político atual, o tema ressoa com ainda mais força. A discussão sobre controle de meios de comunicação, independência editorial e uso de concessões para fortalecimento de influência política permanece sensível e recorrente. A denúncia pública da Globo, portanto, não se limita à disputa entre grupos e figuras históricas: ela reforça o debate sobre quem controla a comunicação no país e como esse poder dialoga com o Estado, com processos eleitorais e com a opinião pública.

Ao mesmo tempo, o episódio expõe como relações entre mídia e poder continuam permeadas por rivalidades, alianças pontuais e reconfigurações estratégicas. Nesse tabuleiro, o caso Collor volta a ser símbolo de um país onde a influência política não se encerra com o fim de um mandato, e a disputa pela narrativa é tão importante quanto qualquer cargo formal.

Se haverá consequências práticas, investigações ou desdobramentos concretos, ainda não está claro.
Mas uma coisa é certa: o conflito entre Collor e Globo, longe de ser passado, continua sendo parte da história viva do Brasil — e volta ao noticiário sempre que os interesses de comunicação e política se cruzam no mesmo corredor.

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