Economia

Isenção de até R$ 5 mil é vitória, mas ainda está longe de uma reforma tributária completa

A recente aprovação da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil mensais foi comemorada pelo governo como um passo importante voltado ao alívio do orçamento de trabalhadores e aposentados. A medida tem forte apelo político e simbólico, pois atinge diretamente a base da pirâmide de renda, onde o impacto do custo de vida é mais sentido. No entanto, apesar de representar um avanço concreto, especialistas e economistas avaliam que a mudança não resolve os problemas estruturais do sistema tributário brasileiro — e, por isso, não pode ser chamada de uma reforma completa.

A conquista da isenção ampliada significa, em primeiro lugar, um aumento do poder de compra imediato para quem recebe salários mais baixos, justamente o grupo que tem menor margem de manobra para enfrentar inflação, juros altos e endividamento. O governo aposta que colocar mais dinheiro diretamente no bolso de milhões de brasileiros pode estimular o consumo, reativar a economia e gerar impacto positivo sobre o comércio e os serviços.

Contudo, a discussão não se limita ao benefício direto. O que muitos apontam é que o Imposto de Renda no Brasil permanece desigual: quem ganha por salário continua pagando proporcionalmente mais, enquanto altos rendimentos originados de dividendos, fundos exclusivos e outras formas de renda concentrada seguem com tributação reduzida ou inexistente em algumas categorias. Ou seja, a correção da faixa até R$ 5 mil resolve uma distorção importante, mas não enfrenta o núcleo da desigualdade tributária, que está na diferença entre quem vive de trabalho e quem vive de renda acumulada.

Outro ponto crucial é o impacto fiscal. Ao ampliar a isenção, o governo abre mão de uma parte significativa de arrecadação. Para não aumentar o déficit público, é necessário compensar essa perda em outras frentes, seja por meio do aumento de tributos sobre grandes patrimônios, seja pelo combate mais rigoroso à sonegação, seja pela revisão de subsídios e renúncias fiscais que hoje beneficiam grupos muito específicos. Sem contrapartida, qualquer avanço social corre o risco de se transformar em desequilíbrio econômico.

Além disso, a mudança aprovada não simplifica o sistema tributário, que continua sendo um dos mais complexos do mundo. O contribuinte brasileiro convive com um conjunto de regras detalhadas, declarações anuais extensas e níveis de burocracia que afastam o país de boas práticas internacionais. A reforma ideal, segundo analistas, deveria unificar regras, simplificar cálculos, distribuir carga de forma progressiva e tornar o sistema mais transparente.

Do ponto de vista político, a ampliação da faixa isenta reforça o discurso do governo junto à classe trabalhadora e cria uma narrativa de redução de desigualdades. No entanto, a reforma estrutural completa exigiria enfrentamentos mais profundos, como mexer em privilégios fiscais históricos, rever isenções corporativas e enfrentar grupos de alto poder econômico e influência política.

Em resumo, a isenção até R$ 5 mil é um avanço real e traz alívio imediato, mas não resolve o problema central: o Brasil segue sendo um país onde quem ganha menos paga proporcionalmente mais, enquanto os mais ricos encontram diferentes caminhos para reduzir sua carga tributária. A vitória, portanto, é significativa, mas parcial — e o debate sobre uma transformação completa do sistema tributário permanece aberto, exigindo coragem, negociação e visão de longo prazo.

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