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‘Nebraska’ de Bruce Springsteen: por que continua a gerar debates

Lançado em setembro de 1982, Nebraska representa uma guinada inesperada na trajetória de Bruce Springsteen. Gravado quase integralmente em seu quarto, com uma fita de quatro trilhas, e sem a banda habitual, o álbum adotou um som minimalista e lo‑fi, com apenas voz, violão e ocasionalmente harmônica. Essa estética crua contrastava fortemente com os álbuns de rock mais amplos que o antecederam, fazendo de Nebraska uma obra à parte na discografia do artista.

As músicas mergulham em personagens à beira do colapso: trabalhadores que falham, irmãos em conflito, crimes, estradas e esperanças frustradas. A faixa‑título, por exemplo, usa o assassinato em massa de Charles Starkweather como cenário e retrata o narrador em primeira pessoa. Essa imersão na margem da sociedade, somada ao som íntimo, fez o álbum ressoar profundamente e continuar a gerar debates sobre suas camadas e ambiguidades morais.

Nebraska não se encaixa em um gênero específico; situa-se num limbo entre folk e rock, com a produção deliberadamente imperfeita — crepitação da fita, microfones simples e voz ao vivo —, tornando o registro parte da emoção transmitida. A sensação de ouvir “uma pessoa sozinha no quarto gravando para você ouvir” intensifica o vínculo com o ouvinte, alimentando sua aura de clássico e motivo de discussões persistentes.

Apesar de não ter alcançado o sucesso comercial de outros álbuns de Springsteen, Nebraska construiu reputação ao longo do tempo, sendo citado como marco para gravações domésticas e narrativas introspectivas no rock. Artistas de diversos gêneros apontam o álbum como inspiração, e ele segue sendo referenciado em debates sobre álbuns que mudaram o jogo.

Springsteen comentou que, se tivesse de escolher um único álbum para representá-lo “daqui a cinquenta anos”, escolheria Nebraska. Gravado num momento de introspecção profunda e questionamento pessoal, o álbum possui um valor simbólico que se estende além das músicas individuais. Novas edições, documentários e releituras continuam a gerar matérias e discussões, reforçando sua relevância cultural.

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