Economia

Economista alerta que política de juros elevada nos EUA provocou retração profunda no setor imobiliário

O economista Robert Bessent afirmou que a manutenção de juros elevados pelo Federal Reserve — o banco central dos Estados Unidos — pode ter desencadeado uma recessão silenciosa no mercado imobiliário norte-americano. Segundo ele, os impactos dessa política já estão visíveis em diversos indicadores, como a queda nas vendas de imóveis residenciais, o aumento da inadimplência em financiamentos e o recuo expressivo das construções novas no país.

De acordo com a avaliação de Bessent, o ciclo de aperto monetário adotado pelo Fed, que elevou as taxas de juros para conter a inflação após a pandemia, acabou provocando um esfriamento prolongado na economia real, especialmente em um dos setores mais sensíveis à variação de crédito: o imobiliário. “Os efeitos da política de juros altos já ultrapassaram o ponto de equilíbrio. O mercado habitacional norte-americano entrou em uma fase de retração que se aproxima de uma recessão técnica”, destacou o economista.

Os dados recentes confirmam a avaliação. O número de vendas de casas usadas caiu para o menor nível em mais de uma década, e a construção de novas moradias registra uma desaceleração constante. Além disso, o custo dos empréstimos imobiliários atingiu patamares que não eram vistos desde o início dos anos 2000, tornando a aquisição da casa própria um desafio para milhões de famílias.

Com a taxa básica de juros norte-americana estabilizada acima de 5%, o financiamento de longo prazo tornou-se inviável para uma parcela significativa dos consumidores. Esse cenário tem provocado o que especialistas chamam de “paralisia do mercado”, em que compradores e vendedores recuam ao mesmo tempo, reduzindo o número de transações e pressionando os preços.

Bessent explicou que o problema não se resume apenas à redução da demanda. O encarecimento do crédito também afeta o lado da oferta, uma vez que construtoras e incorporadoras enfrentam custos financeiros cada vez maiores para manter projetos em andamento. Muitas empresas do setor, especialmente as de médio porte, já relatam dificuldades de caixa e retração de investimentos em novas obras.

O impacto sobre o emprego também é perceptível. O mercado de construção civil, que tradicionalmente serve como termômetro da economia, mostra sinais de enfraquecimento, com redução no número de contratações e suspensão de obras em várias regiões. Esse movimento, segundo analistas, pode gerar um efeito dominó, afetando indústrias ligadas ao setor, como a de materiais de construção, móveis e eletrodomésticos.

Apesar disso, o Federal Reserve tem mantido a postura de cautela, argumentando que a inflação ainda não está completamente sob controle. Bessent, no entanto, acredita que essa estratégia pode ter ido longe demais. “O Fed conseguiu frear a inflação, mas o custo foi alto demais para o setor imobiliário. Estamos vendo uma contração semelhante à de crises anteriores, mas de forma mais gradual e concentrada”, disse.

Outro ponto levantado por economistas é o aumento das desigualdades regionais. Mercados antes aquecidos, como Califórnia, Texas e Flórida, registram quedas acentuadas nos preços e aumento da vacância em imóveis comerciais. Já regiões com menor dependência do crédito imobiliário mostram resiliência, o que revela uma recuperação desigual e fragmentada.

A possibilidade de uma recessão mais ampla ainda divide opiniões. Parte dos analistas acredita que o restante da economia norte-americana segue estável, impulsionado pelo consumo e pelo mercado de trabalho robusto. No entanto, Bessent e outros especialistas alertam que, se o setor imobiliário continuar em queda por mais trimestres, o impacto poderá se espalhar para outros segmentos, elevando o risco de desaceleração mais profunda.

Em meio a esse cenário, investidores acompanham com atenção os próximos movimentos do Federal Reserve. Há expectativa de que, diante da desaceleração no mercado habitacional, a autoridade monetária possa reduzir gradualmente os juros em 2025 para evitar um agravamento da crise. Até lá, o setor imobiliário dos Estados Unidos continua enfrentando um dos períodos mais desafiadores desde a crise financeira de 2008, com um futuro ainda incerto e dependente das decisões de política monetária que virão.

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