Economia

China avalia sediar encontro anual com Brasil para expandir comércio global de carnes

O governo brasileiro estuda, em conjunto com autoridades chinesas, a criação de uma Cúpula da Carne anual na China, com o objetivo de ampliar o diálogo comercial e consolidar o país asiático como principal destino das exportações do setor. A proposta surgiu durante recentes tratativas bilaterais e reflete o interesse mútuo em fortalecer a parceria em torno de um dos mercados mais estratégicos para ambas as economias: o de proteína animal.

O evento, que poderá se tornar um fórum fixo de negociações e cooperação tecnológica, teria como foco o aumento do intercâmbio comercial, a redução de barreiras sanitárias e a busca por acordos que estimulem a sustentabilidade na cadeia produtiva. Segundo integrantes do Ministério da Agricultura e do Itamaraty, o formato anual da cúpula permitiria acompanhar de perto as demandas do mercado chinês e adaptar a oferta brasileira às novas exigências de qualidade e rastreabilidade.

O Brasil, atualmente o maior exportador de carne bovina do mundo, tem na China seu principal comprador, responsável por mais de 50% das vendas externas do produto. A criação de um encontro regular em território chinês seria uma forma de consolidar essa parceria e, ao mesmo tempo, abrir espaço para diversificação, incluindo carne suína, de frango e até produtos processados com maior valor agregado.

Autoridades brasileiras destacam que a iniciativa faz parte de uma estratégia mais ampla de reposicionamento internacional do agronegócio, que busca equilibrar crescimento econômico e compromisso ambiental. A ideia é aproveitar o protagonismo da China no consumo global e transformar o diálogo bilateral em um instrumento para ampliar o acesso do Brasil a mercados da Ásia e de outras regiões.

Do lado chinês, o interesse é evidente. O país enfrenta desafios internos na produção de carne, especialmente devido ao alto custo de insumos e limitações sanitárias em algumas regiões produtoras. A parceria com o Brasil oferece segurança alimentar e previsibilidade no abastecimento, fatores fundamentais para um país com mais de 1,4 bilhão de habitantes.

A Cúpula da Carne também deve servir como plataforma para discutir inovação e rastreabilidade digital, áreas em que o Brasil vem avançando com o uso de tecnologias de monitoramento por satélite e certificação eletrônica de origem. A China, por sua vez, busca transparência nas cadeias produtivas e maior controle sobre os padrões sanitários, algo que pode ser aprimorado por meio de acordos de cooperação técnica entre os dois países.

Representantes da indústria brasileira veem o projeto como uma oportunidade para reduzir a volatilidade comercial e consolidar parcerias de longo prazo. O setor ainda sofre com eventuais embargos temporários, como os ocorridos em anos anteriores após detecção de casos isolados de doenças em rebanhos. A realização de encontros anuais permitiria responder com agilidade a incidentes e reforçar a confiança mútua.

Além do aspecto comercial, a cúpula deve incluir painéis sobre sustentabilidade e transição verde. O governo chinês tem dado ênfase à redução da pegada de carbono na alimentação, e o Brasil pretende mostrar avanços em práticas de baixo impacto ambiental, como o uso de pastagens recuperadas e sistemas integrados de produção agropecuária.

Nos bastidores, diplomatas afirmam que o tema deve ser incluído na pauta de discussões da próxima reunião de alto nível entre os dois países, prevista para 2025. Caso a proposta avance, a primeira edição da Cúpula da Carne Brasil-China poderá ocorrer ainda no segundo semestre do ano que vem, reunindo ministros, empresários, técnicos e investidores de ambos os lados.

O encontro, segundo especialistas, poderia se tornar um marco permanente na diplomacia econômica brasileira, simbolizando o fortalecimento de uma parceria que já movimenta dezenas de bilhões de dólares por ano. Mais do que uma feira de negócios, a cúpula anual na China seria um passo decisivo na consolidação do Brasil como líder global no fornecimento sustentável de proteína animal, ao mesmo tempo em que reforça a importância da cooperação sino-brasileira na segurança alimentar mundial.

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