Autoras de suspense revelam os bastidores de um gênero ainda dominado por homens
O universo do suspense literário vive uma transformação importante. Cada vez mais, autoras estão assumindo o protagonismo de um gênero que, por décadas, foi dominado por vozes masculinas. O medo, antes escrito quase sempre a partir do olhar do homem, ganha novas dimensões quando narrado por mulheres — e esse movimento tem ampliado o alcance e o significado do gênero.
A presença feminina no suspense
Livros de autoras como Ruth Ware, Greer Hendricks, Sarah Pekkanen e C. J. Tudor vêm se destacando em listas de mais vendidos e chamando atenção pela construção de tramas centradas em personagens femininas complexas, muitas vezes enfrentando dilemas psicológicos, sociais e morais.
Apesar disso, como apontam algumas dessas escritoras, o mercado editorial de suspense ainda é majoritariamente masculino — tanto em termos de visibilidade quanto de reconhecimento crítico. Ainda assim, o número de mulheres publicando e sendo traduzidas cresce a cada ano.
Quebrando estereótipos
As autoras contemporâneas de suspense vêm subvertendo papéis tradicionais. Suas protagonistas não são apenas vítimas ou donas de casa em perigo, mas investigadoras, criminosas, observadoras e narradoras da própria história. O medo, nesses casos, não é apenas um elemento de susto — é uma ferramenta de reflexão sobre temas como violência, controle, identidade e memória.
No Brasil, o movimento também é visível. Cada vez mais editoras apostam em thrillers escritos por mulheres, e coletâneas de contos nacionais têm revelado novas vozes no gênero. Antologias recentes mostram que o suspense feminino brasileiro dialoga com questões de gênero, trauma e cotidiano, sem abrir mão da tensão narrativa.
Uma nova geração de escritoras
Autoras internacionais como Seraphina Nova Glass e Lucy Foley têm contribuído para expandir o repertório do suspense moderno, aproximando o gênero de temáticas contemporâneas, como relacionamentos tóxicos, manipulação psicológica e segredos familiares. Já no cenário brasileiro, nomes emergentes vêm explorando o terror e o suspense com sotaque local — abordando o medo a partir de experiências femininas e realidades urbanas e rurais.
Os desafios ainda presentes
Mesmo com avanços notáveis, as autoras ainda enfrentam barreiras de visibilidade. As principais listas de prêmios e adaptações audiovisuais continuam concentradas em nomes masculinos. Muitas escritoras relatam que o rótulo “thriller feminino” ainda é usado como uma forma de segmentar ou reduzir a importância de suas obras.
No entanto, o crescimento do público leitor feminino e o interesse por narrativas psicológicas e intimistas têm ajudado a romper essa barreira, mostrando que o suspense pode — e deve — ser um espaço de múltiplas vozes.
Um gênero em transformação
O medo, quando narrado por mulheres, assume novas formas: mais sutis, mais humanas e, muitas vezes, mais reais. A presença feminina no suspense não é apenas uma questão de representatividade — é também uma revolução estética e narrativa.
Ao colocar suas protagonistas no centro da tensão e explorar medos cotidianos, essas autoras ajudam a redefinir o gênero, mostrando que o verdadeiro terror pode estar nas relações, nas expectativas e nas sombras da vida real.

