Economia

União Europeia acelera negociações e tenta concluir acordo com Mercosul antes do fim do ano

Com o avanço de discussões internas sobre novas tarifas ambientais e comerciais, a União Europeia intensifica esforços para concluir, até o Natal, o acordo comercial com o Mercosul, que vem sendo negociado há mais de duas décadas. A pressão vem principalmente do chamado “tarifaço verde”, um pacote de medidas que prevê a taxação adicional de produtos com maior impacto ambiental, como carnes, grãos e derivados industriais. Caso entre em vigor antes da assinatura do acordo, países sul-americanos temem que sua competitividade no mercado europeu seja significativamente reduzida.

Pressão política e janela estratégica

Bruxelas avalia que o momento é estratégico. O bloco europeu enfrenta eleições legislativas no próximo ano e teme que a renovação do Parlamento fortaleça setores mais protecionistas, o que poderia tornar o acordo ainda mais difícil de ser fechado. Ao mesmo tempo, países do Mercosul, especialmente Brasil e Argentina, também vivem cenários políticos que influenciam diretamente o ritmo das negociações.

No Brasil, o governo tem interesse em ampliar mercados para produtos agroindustriais e industriais, enquanto busca reforçar sua imagem em temas ambientais. Já na Argentina, a transição política gera incertezas sobre o posicionamento da futura administração com relação ao bloco e ao comércio internacional.

O impacto do “tarifaço” ambiental

A União Europeia vem consolidando políticas ligadas ao clima e à preservação das florestas. Entre elas, destaca-se a exigência de comprovação de que produtos agrícolas exportados não sejam fruto de desmatamento recente. Países do Mercosul defendem que já adotam sistemas de monitoramento, mas argumentam que as normas europeias precisam ser calibradas para evitar barreiras comerciais disfarçadas de medidas ambientais.

Setores produtivos no Brasil afirmam que o acordo só será viável se houver previsibilidade e tempo para adaptação. O receio é que, se o pacto não for fechado antes da implementação do tarifaço, exportadores sofram prejuízos imediatos e perda de participação no mercado europeu, em especial na cadeia de proteínas e commodities agrícolas.

Resistência dentro da própria Europa

Mesmo dentro da União Europeia há divisões. França, Áustria e Irlanda vêm pressionando por cláusulas ambientais mais rígidas e por mecanismos de fiscalização reforçada, temendo que a concorrência de países do Mercosul possa prejudicar produtores locais. Já nações como Alemanha, Espanha e Portugal consideram o acordo uma oportunidade para fortalecer cadeias produtivas, reduzir custos logísticos e ampliar a integração econômica entre os blocos.

Empresários europeus ligados ao setor automotivo e industrial também pressionam por avanços, especialmente porque o acordo facilita a circulação de peças, insumos e produtos acabados.

Mercosul exige contrapartidas

Do lado sul-americano, governos e setores produtivos exigem garantias claras de que não haverá imposição unilateral de exigências futuras, sem negociação. A defesa é de que o acordo seja equilibrado, com abertura de mercado recíproca e respeito às políticas de desenvolvimento de cada país.

O Brasil insiste que a pauta ambiental deve ser tratada via cooperação e transferência de tecnologia — e não apenas imposição de restrições. A proposta é que metas de sustentabilidade sejam acompanhadas de incentivos financeiros, programas de certificação e mecanismos de apoio à transição produtiva.

Conversas intensas nas próximas semanas

A expectativa é de uma série de encontros técnicos e políticos ao longo das próximas semanas. Delegações dos dois blocos já indicaram que estão dispostas a trabalhar em ritmo acelerado para tentar fechar um texto final antes do recesso de fim de ano.

Ainda não há garantia de que o acordo será concluído a tempo. Porém, o cenário atual apresenta um ponto comum entre os dois lados: o custo de não fechar o acordo agora pode ser maior do que o de continuar negociando.

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