Governador é acusado por Haddad de inércia diante de desafios no Rio
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, voltou a criticar publicamente o governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, em meio à crise de segurança e à escalada da violência que tomaram conta do estado nos últimos dias. Segundo o ministro, a administração fluminense “tem feito praticamente nada” diante de um cenário que, para ele, exige respostas rápidas e políticas públicas eficazes. A declaração repercutiu fortemente em Brasília e entre governadores de outros estados, reacendendo o debate sobre a responsabilidade compartilhada entre União e estados no combate ao crime organizado.
Durante conversa com jornalistas, Haddad afirmou que a situação no Rio de Janeiro é o resultado de anos de abandono e má gestão em áreas essenciais, como segurança pública, educação e políticas sociais. Ele apontou que o governo federal tem buscado oferecer apoio, mas que as medidas precisam de contrapartidas estaduais para surtirem efeito. “Não adianta o governo federal agir sozinho. É preciso cooperação, e até agora o estado não apresentou um plano de ação concreto”, afirmou.
O ministro reforçou que a presença de facções criminosas fortemente armadas, que controlam territórios e desafiam o poder público, exige uma atuação coordenada entre diferentes esferas de governo. Segundo ele, a ausência de integração entre o Palácio Guanabara e o Ministério da Justiça tem dificultado avanços. “O que se vê é falta de comando e de articulação. O Rio precisa de um plano estratégico, não de medidas isoladas”, declarou Haddad.
As críticas acontecem em um momento em que o Rio de Janeiro enfrenta uma das maiores operações de segurança dos últimos anos, com confrontos entre forças policiais e grupos criminosos em várias comunidades. O aumento da violência reacendeu o debate sobre a efetividade das políticas de segurança implementadas pelo governo estadual e expôs a fragilidade das estruturas públicas diante do poder das facções.
Haddad destacou ainda que a violência urbana não pode ser dissociada das desigualdades econômicas. Para ele, a falta de oportunidades e o desemprego juvenil contribuem para a expansão do crime organizado. “Sem investimento em educação, qualificação profissional e inclusão social, o ciclo da violência continuará se repetindo”, disse.
Aliados do ministro interpretaram as declarações como um alerta político, não apenas sobre a crise fluminense, mas sobre a necessidade de repensar o modelo de gestão da segurança pública no país. O governo federal, segundo eles, deve anunciar novas medidas para apoiar estados em situação crítica, mas exigirá planos de resultados e transparência na execução dos recursos.
Em resposta às críticas, o governador Cláudio Castro declarou que o estado vem trabalhando dentro das suas limitações e que a cooperação com o governo federal está em andamento. Ele ressaltou que as forças estaduais têm atuado com firmeza no enfrentamento às facções e que a criminalidade não será resolvida “da noite para o dia”. Ainda assim, o tom das declarações de Haddad provocou desconforto entre aliados do governador, que consideram o discurso uma tentativa de transferir responsabilidades.
Especialistas em segurança pública avaliam que o embate político entre o governo federal e o estadual pode atrapalhar as ações de combate ao crime. Para eles, é preciso construir uma agenda comum, baseada em metas objetivas e em uma gestão integrada entre União, estado e municípios.
Enquanto o debate político avança, moradores de diversas comunidades continuam enfrentando o medo diário da violência. As operações policiais, embora necessárias, geram tensões e levantam questionamentos sobre seus resultados e impactos sociais. O desafio, segundo analistas, será transformar o atual momento de crise em uma oportunidade para reestruturar políticas públicas de longo prazo.
A fala de Haddad evidencia, mais uma vez, a urgência de uma mudança estrutural na condução das políticas de segurança e desenvolvimento social no Rio de Janeiro. Para muitos, o estado precisa de um novo pacto federativo que una esforços e supere a fragmentação institucional que há décadas impede o avanço de soluções efetivas.

