Politica

Dino atribui crise de violência no Rio ao fortalecimento financeiro e estrutural das facções criminosas

O ministro da Justiça e Segurança Pública, Flávio Dino, afirmou que o atual cenário de violência no Rio de Janeiro está diretamente relacionado à expansão econômica e organizacional das facções criminosas que atuam no estado. Segundo ele, esses grupos estão “ultracapitalizados”, ou seja, dispõem de um volume de recursos financeiros e logísticos sem precedentes, o que lhes confere capacidade de atuação comparável à de grandes corporações ilegais. Essa estrutura, explica o ministro, ajuda a entender o “caos” que se instalou em várias regiões da capital fluminense e de municípios vizinhos.

Dino destacou que o crime organizado no Rio passou por uma transformação profunda nos últimos anos, deixando de ser um conjunto de grupos locais com poder limitado para se tornar uma rede complexa e articulada, com forte influência no tráfico internacional de drogas, armas e lavagem de dinheiro. Ele observou que a profissionalização dessas organizações as tornou mais resilientes e capazes de se infiltrar em diferentes esferas econômicas, o que amplia seu poder de influência e dificulta o combate efetivo por parte do Estado.

De acordo com o ministro, o crescimento financeiro das facções está diretamente ligado à sua capacidade de diversificar fontes de renda. Além do tráfico de entorpecentes, muitas passaram a controlar atividades ilegais de mineração, comércio paralelo, milícias digitais e até fraudes financeiras em plataformas virtuais. Essa multiplicidade de operações gera fluxo constante de recursos e permite investimentos em armamento de ponta, compra de influência e estratégias de dominação territorial. O resultado, diz Dino, é um poder paralelo que desafia as instituições e coloca a população em situação permanente de vulnerabilidade.

O ministro ressaltou que o enfrentamento dessa realidade exige uma política de segurança pública que vá além da repressão imediata. Para ele, é indispensável a integração entre as forças policiais, o fortalecimento da inteligência financeira e o rastreamento das movimentações de capital que sustentam essas organizações. Dino defendeu ainda o reforço da cooperação entre órgãos federais, estaduais e internacionais, argumentando que o crime organizado já opera em escala global e não pode mais ser tratado como um problema isolado de segurança local.

A análise do ministro vem em meio a uma escalada de confrontos violentos no Rio de Janeiro, especialmente em comunidades dominadas por facções rivais. Em diversas dessas áreas, o controle do território está dividido entre grupos armados que impõem suas próprias regras e desafiam a presença do Estado. O aumento de tiroteios, toques de recolher e ataques a agentes públicos tem sido apontado como reflexo direto dessa nova configuração de poder, em que o crime se estrutura com base em uma lógica empresarial e militarizada.

Flávio Dino também chamou atenção para o papel do fluxo internacional de armas e drogas na manutenção dessa estrutura criminosa. Segundo ele, o Brasil precisa intensificar o controle de fronteiras e fortalecer os mecanismos de rastreamento de recursos ilícitos, com o apoio de órgãos como a Receita Federal, a Polícia Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). O ministro reforçou que, sem atacar o núcleo econômico que sustenta as facções, o enfrentamento se torna ineficaz e apenas reproduz ciclos de violência.

Especialistas em segurança pública concordam com a avaliação de Dino. Pesquisadores apontam que o poder financeiro acumulado por facções no Rio de Janeiro e em outros estados transformou essas organizações em verdadeiros “conglomerados criminais”. Alguns grupos já operam esquemas de lavagem de dinheiro em setores como construção civil, transporte e comércio informal, misturando atividades lícitas e ilícitas de maneira sofisticada. Essa realidade, segundo analistas, explica por que o Estado enfrenta tantas dificuldades em desarticular suas bases de operação.

A fala do ministro também reaviva o debate sobre a necessidade de políticas sociais mais eficazes em áreas dominadas pelo crime. Dino defende que a ação policial precisa vir acompanhada de investimentos em educação, habitação, emprego e infraestrutura, sob pena de apenas trocar o controle de uma facção por outra. Para ele, o combate à criminalidade não pode se limitar ao uso da força, mas deve envolver a reconstrução do tecido social e a presença permanente do poder público nas comunidades.

Nos bastidores, o governo federal monitora com atenção a situação no Rio de Janeiro e avalia medidas de apoio ao estado. Entre as possibilidades discutidas estão o envio de reforços da Força Nacional, o aumento de operações de inteligência e o compartilhamento de informações estratégicas com as autoridades locais. O Palácio do Planalto, contudo, tem evitado anunciar ações precipitadas, preferindo aguardar relatórios técnicos para definir as medidas mais adequadas.

O diagnóstico apresentado por Dino evidencia um problema de dimensão nacional: a consolidação de grupos criminosos com poder econômico e político crescente. A situação no Rio é vista como exemplo extremo de um fenômeno que já se espalha para outros estados, colocando em risco a estabilidade institucional e a segurança de milhões de brasileiros. Para o ministro, somente com coordenação entre os poderes e firmeza na aplicação da lei será possível enfraquecer essa estrutura e recuperar o controle pleno do território.

O alerta do ministro encerra uma mensagem clara: o desafio do crime organizado não é apenas policial, mas também econômico e político. As facções, agora financeiramente estruturadas, representam um novo tipo de ameaça ao Estado brasileiro — uma ameaça que exige inteligência, integração e uma estratégia de longo prazo para restabelecer a autoridade pública e garantir a segurança da população.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *