Ação das Favelas no RJ passa ao comando de Moraes, que solicita posição oficial da PGR sobre o caso
O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), assumiu a relatoria da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) que trata das operações policiais nas favelas do Rio de Janeiro. O processo, conhecido popularmente como “ADPF das Favelas”, tem sido um dos marcos no debate sobre a segurança pública e os limites da atuação das forças policiais em áreas de vulnerabilidade social. Ao assumir o caso, Moraes determinou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifeste oficialmente sobre a ação, reforçando a importância de uma posição clara do Ministério Público Federal sobre o tema.
A ADPF das Favelas foi proposta por entidades de direitos humanos e organizações da sociedade civil que denunciam abusos e violações cometidas durante operações policiais em comunidades do Rio de Janeiro. O objetivo da ação é estabelecer parâmetros legais e constitucionais que impeçam o uso excessivo da força, protejam os direitos fundamentais dos moradores e garantam maior transparência nas investigações de mortes decorrentes de confrontos armados. Desde sua origem, o caso tem sido acompanhado de perto por diversos setores do Judiciário, da imprensa e da população civil.
O processo estava anteriormente sob a relatoria de outro ministro, mas foi redistribuído para Moraes, que já possui histórico de decisões firmes em temas ligados à segurança pública e ao equilíbrio entre autoridade policial e garantias constitucionais. Sua decisão de cobrar uma manifestação da PGR representa um passo importante para que o Supremo possa reavaliar o andamento das operações policiais sob uma ótica jurídica e de direitos humanos.
Na decisão, Moraes solicitou que a PGR se pronuncie sobre os efeitos das determinações já emitidas pelo STF desde 2020, quando a Corte limitou a realização de operações policiais nas comunidades fluminenses durante a pandemia da Covid-19. À época, o Supremo determinou que as ações só poderiam ocorrer em casos excepcionais, mediante comunicação prévia ao Ministério Público, justamente para evitar abusos e proteger vidas de moradores. Desde então, diversas decisões complementares foram tomadas, mas as denúncias de violações persistiram, reacendendo o debate sobre a eficácia e o cumprimento das ordens judiciais.
O ministro também destacou que a análise da PGR é essencial para compreender se há falhas na implementação das medidas determinadas pela Corte e se novas providências devem ser adotadas. Ele ressaltou que o cumprimento de decisões do Supremo é indispensável para a preservação do Estado de Direito e que qualquer desrespeito às ordens judiciais configura uma afronta direta à Constituição Federal.
Entidades que atuam na defesa dos direitos humanos comemoraram a movimentação de Moraes, argumentando que a retomada da discussão pode representar um avanço na busca por justiça e controle das ações policiais no estado. Já representantes das forças de segurança defendem que as operações são fundamentais no combate ao crime organizado, desde que realizadas dentro dos parâmetros legais e com o devido respaldo das instituições.
Especialistas em direito constitucional e segurança pública observam que a atuação do STF nesse tema reflete o esforço do Judiciário em equilibrar dois princípios fundamentais: o combate ao crime e a preservação da vida. Para eles, o desafio está em garantir que a presença do Estado nas favelas ocorra de forma legítima e eficaz, sem gerar mais violência ou violar direitos.
A expectativa é que, após a manifestação da PGR, o caso volte a ser analisado em plenário. O Supremo deve avaliar se as medidas impostas anteriormente estão sendo respeitadas e se há necessidade de novas determinações para garantir o cumprimento efetivo das ordens. A decisão de Moraes, portanto, reacende um debate que há anos divide opiniões, mas que permanece central para o futuro da segurança pública no Rio de Janeiro e no Brasil.
O andamento dessa ADPF é considerado decisivo porque pode redefinir o modo como as polícias atuam em áreas urbanas de alta vulnerabilidade. Além disso, o posicionamento do STF poderá influenciar políticas públicas em outros estados que enfrentam situações semelhantes, consolidando um novo entendimento sobre o papel das instituições de segurança no país.
O movimento de Alexandre de Moraes também reforça o protagonismo do Supremo Tribunal Federal em temas sensíveis da vida nacional. A cobrança de uma posição clara da PGR mostra que o ministro busca responsabilização institucional e transparência no tratamento de um assunto que, há décadas, desafia o poder público e causa dor a milhares de famílias brasileiras.
Enquanto o processo segue em tramitação, organizações sociais continuam pressionando por medidas concretas que reduzam a letalidade policial e ampliem o diálogo entre autoridades e comunidades. O que está em jogo, segundo especialistas, não é apenas a legalidade das operações, mas o modelo de segurança que o país deseja adotar daqui para frente — um modelo que combine firmeza no enfrentamento do crime com respeito absoluto aos direitos humanos.

