Críticas de Flávio Bolsonaro a Moraes geram tensão e expõem racha entre forças da direita
As recentes declarações do senador Flávio Bolsonaro contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), acenderam um novo foco de instabilidade dentro do campo político de direita. A acusação feita pelo parlamentar, ao insinuar supostos excessos do ministro em decisões recentes, provocou reações imediatas e dividiu lideranças que até então buscavam reconstruir uma base de apoio mais coesa após as derrotas eleitorais recentes.
Flávio, que vem adotando um tom cada vez mais crítico em relação ao Judiciário, afirmou que determinadas atitudes da Corte “ultrapassam os limites constitucionais”. Embora suas falas tenham sido recebidas com aplausos por setores mais radicalizados, o movimento foi interpretado por analistas políticos como um erro estratégico, capaz de ampliar o desgaste do grupo político ligado ao ex-presidente Jair Bolsonaro.
Especialistas apontam que, ao atacar Moraes, o senador reacende um confronto que vinha sendo gradualmente arrefecido dentro da própria direita. Desde o fim das eleições, líderes mais moderados vinham defendendo um discurso menos agressivo e mais voltado à reconstrução de pontes institucionais. A nova ofensiva, no entanto, coloca em xeque essa estratégia e reacende o debate sobre o isolamento político do bolsonarismo mais duro.
Nos bastidores, aliados próximos ao senador admitem que a fala pode ter sido precipitada, mas argumentam que ela reflete o sentimento de insatisfação de parte da base eleitoral, que vê o STF como um obstáculo à liberdade de expressão e à atuação política da direita. Apesar disso, há um temor crescente de que o episódio enfraqueça a tentativa de reaproximação com partidos de centro, fundamentais para qualquer projeto político futuro.
Do lado oposto, ministros e juristas interpretaram as acusações como mais um ataque infundado à legitimidade das instituições. Moraes, que se mantém em silêncio público sobre o caso, segue sendo uma das figuras mais influentes do Supremo e tem recebido respaldo interno pela condução de investigações relacionadas à defesa da democracia e ao combate à desinformação.
A repercussão também se estendeu ao Congresso Nacional. Parlamentares do Centrão e de siglas independentes avaliaram o episódio como “inoportuno”, especialmente num momento em que a direita busca ampliar sua articulação em torno de pautas econômicas e de segurança pública. Segundo analistas, esse tipo de conflito interno pode comprometer as chances do grupo em disputas regionais e nacionais.
Em meio a essa turbulência, dirigentes partidários ligados ao ex-presidente Bolsonaro têm tentado conter danos. Alguns defendem que o senador adote uma postura mais institucional e evite embates diretos com magistrados. Outros, porém, enxergam na polêmica uma oportunidade de mobilizar novamente o eleitorado mais fiel, que ainda se identifica com discursos de confronto.
A divisão, contudo, evidencia o dilema atual da direita: de um lado, a necessidade de manter o apoio popular que se consolidou nos últimos anos; de outro, a urgência em construir um caminho político viável que dialogue com o centro e reduza resistências nas instituições. A crítica a Moraes, nesse contexto, simboliza mais do que uma divergência individual — é o reflexo de uma disputa interna sobre qual rumo adotar.
Analistas ouvidos por veículos de imprensa avaliam que a crise pode ter desdobramentos duradouros. A insistência em atacar ministros do Supremo tende a manter o bolsonarismo sob o olhar de desconfiança de setores institucionais e empresariais, o que, a longo prazo, pode afetar alianças e reduzir a capacidade de influência política.
O episódio reforça, assim, o principal desafio da direita no momento: equilibrar a necessidade de preservar seu eleitorado mais engajado com a urgência de demonstrar maturidade institucional. Entre confrontos e tentativas de recomposição, o caminho para a consolidação política do grupo segue incerto e permeado por disputas internas que, ao que tudo indica, ainda estão longe de cessar.

