Justiça absolve réus no caso do incêndio no Ninho do Urubu
A Justiça do Rio de Janeiro absolveu os sete últimos réus que ainda respondiam criminalmente pelo incêndio no Centro de Treinamento George Helal, conhecido como Ninho do Urubu, pertencente ao Flamengo. A decisão, proferida nesta terça-feira, marca um novo capítulo na tragédia que chocou o país em fevereiro de 2019, quando dez jovens jogadores das categorias de base do clube morreram após um incêndio atingir o alojamento em que dormiam.
O juiz responsável pelo caso entendeu que não houve provas suficientes que comprovassem, de maneira individual, a responsabilidade penal dos acusados. De acordo com a sentença, embora o evento tenha sido trágico e resultado de falhas em diversos níveis de segurança, não se pôde estabelecer o nexo direto entre as ações dos réus e o incêndio que provocou as mortes.
Os absolvidos incluíam antigos dirigentes do Flamengo, engenheiros e técnicos ligados à instalação e manutenção dos contêineres que serviam de dormitórios para os atletas da base. As defesas argumentaram que todos os procedimentos haviam sido realizados dentro das normas conhecidas à época e que o incêndio foi resultado de uma falha elétrica imprevisível.
A tragédia no Ninho do Urubu ocorreu na madrugada de 8 de fevereiro de 2019. O fogo começou rapidamente e se espalhou pelo alojamento, que era composto por estruturas metálicas adaptadas. As chamas consumiram o local em poucos minutos, deixando dez adolescentes mortos e outros três feridos. As vítimas tinham entre 14 e 16 anos e integravam as divisões de base do Flamengo.
Desde então, o episódio gerou uma série de processos criminais e cíveis, além de discussões sobre as condições oferecidas por clubes a jovens atletas. O caso também provocou mudanças em normas de segurança, fiscalização e alojamento de centros de treinamento esportivos em todo o país.
Embora os réus tenham sido absolvidos, a decisão ainda pode ser objeto de recurso. O Ministério Público do Rio de Janeiro estuda contestar a sentença, buscando um novo julgamento. Já o clube, que firmou acordos de indenização com as famílias das vítimas, declarou que continuará prestando apoio e cumprindo os compromissos assumidos após o acidente.
A decisão reacendeu debates sobre a impunidade e sobre os limites da responsabilização criminal em casos de tragédias coletivas. Para as famílias, o resultado representa mais uma etapa dolorosa em uma longa busca por justiça. Já especialistas em direito penal apontam que o caso evidencia a dificuldade de atribuir culpa individual em situações marcadas por falhas estruturais e coletivas.
Mesmo após mais de seis anos, o incêndio no Ninho do Urubu permanece como uma das maiores tragédias da história do esporte brasileiro. O episódio expôs lacunas na fiscalização, nas normas de segurança e na responsabilidade de instituições que lidam com jovens atletas, deixando uma lição que ainda ecoa no futebol nacional.