Politica

Deputada Carla Zambelli amplia despesas de gabinete mesmo durante período de prisão

Mesmo afastada de suas atividades parlamentares em razão de sua prisão preventiva, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) registrou um aumento significativo nos gastos de seu gabinete na Câmara dos Deputados. Os dados mais recentes do sistema de transparência da Casa apontam que, durante o período em que esteve impedida de exercer suas funções, as despesas operacionais sob responsabilidade de seu mandato não apenas se mantiveram em nível elevado, como também cresceram em relação aos meses anteriores.

O aumento das despesas chamou atenção de parlamentares e servidores da Câmara, sobretudo por ocorrer em um momento em que a deputada estava impossibilitada de participar de sessões, reuniões ou votações. As verbas de gabinete — destinadas ao custeio de atividades parlamentares como passagens aéreas, consultorias, serviços de comunicação e aluguel de escritórios — continuaram sendo utilizadas regularmente, sem redução proporcional à ausência da titular do mandato.

Entre os principais itens de gasto estão serviços de divulgação, combustível, manutenção de escritório político e contratação de assessores. Segundo registros internos, o volume de despesas em determinadas categorias chegou a ultrapassar valores médios observados em períodos em que Zambelli exercia o mandato de forma ativa. Essa discrepância tem gerado questionamentos sobre o controle do uso das verbas públicas e a transparência na aplicação dos recursos.

A equipe de Zambelli, segundo informações obtidas na Câmara, manteve o funcionamento regular do gabinete, alegando que o mandato segue com obrigações administrativas mesmo na ausência da deputada. Assessores parlamentares continuam desempenhando funções de atendimento a eleitores, elaboração de documentos e acompanhamento de pautas legislativas, o que, segundo a defesa, justificaria a continuidade dos gastos.

No entanto, especialistas em gestão pública e parlamentares da oposição têm questionado a falta de critérios mais rigorosos para controle de despesas em situações de afastamento judicial. Para eles, o sistema atual permite distorções e abre espaço para o uso indevido de recursos, já que não há uma política clara sobre a limitação do uso da verba quando o parlamentar está impedido de exercer suas funções.

A polêmica reacende o debate sobre a necessidade de maior transparência e revisão nas regras que regem o uso da chamada Cota para o Exercício da Atividade Parlamentar (CEAP). Atualmente, cada deputado tem direito a um valor mensal que varia de acordo com o estado de origem, podendo ultrapassar R$ 45 mil. A Câmara exige a apresentação de notas fiscais e comprovantes, mas o controle é feito majoritariamente por amostragem, o que dificulta uma fiscalização detalhada e imediata.

Zambelli, uma das figuras mais conhecidas do campo bolsonarista, segue sendo um dos nomes de maior destaque entre os parlamentares de oposição ao governo Lula. Sua prisão, determinada no contexto das investigações sobre supostos crimes de incitação e participação em atos antidemocráticos, provocou forte reação política e mobilizou aliados que classificaram a decisão como “perseguição judicial”. Ainda assim, sua ausência prolongada do plenário e o aumento das despesas têm alimentado críticas inclusive entre setores que antes a apoiavam.

Fontes próximas à direção da Câmara confirmam que o caso está sendo acompanhado pelos órgãos de controle interno, que podem solicitar esclarecimentos formais à equipe da deputada. Dependendo da conclusão da análise, pode haver determinação de ressarcimento de valores caso seja comprovado uso indevido ou injustificado das verbas.

Enquanto isso, o episódio reforça o debate sobre a falta de mecanismos automáticos de suspensão parcial de benefícios parlamentares durante períodos de prisão, afastamento judicial ou licença não justificada. Para muitos analistas, o Congresso ainda carece de instrumentos eficazes que garantam uma gestão mais responsável do dinheiro público em casos excepcionais.

Além disso, o caso Zambelli também expõe um dilema ético: até que ponto é aceitável manter os mesmos níveis de despesa pública quando o parlamentar não está efetivamente cumprindo sua função representativa? Essa discussão, segundo servidores da Casa, deverá ganhar força nos próximos meses, especialmente diante da pressão crescente por mais rigor e eficiência na administração de recursos legislativos.

A expectativa é de que, assim que sua situação judicial for esclarecida, a própria Mesa Diretora da Câmara analise a necessidade de atualizar as normas internas sobre verbas de gabinete, evitando brechas semelhantes em casos futuros. Até lá, o caso de Carla Zambelli segue como mais um exemplo de como a falta de regulação específica pode gerar questionamentos sobre o uso de recursos públicos no Parlamento brasileiro.

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