Economia

Operação Lava Jato foi divisor de águas na mudança de opinião pública sobre privatizações, avalia economista

A discussão sobre o papel das estatais e o avanço das privatizações no Brasil ganhou novo fôlego após a Operação Lava Jato, e, segundo especialistas, foi justamente esse marco que alterou profundamente a percepção da população sobre o tema. Para economistas e analistas do setor público, a série de escândalos revelados pela operação contribuiu para associar empresas estatais à má gestão e à corrupção, abrindo espaço político e social para o avanço de uma agenda de desestatização que antes encontrava forte resistência popular.

De acordo com a avaliação de um economista ouvido por veículos de imprensa, a Lava Jato representou um “ponto de inflexão” no debate público. Até meados da década de 2010, a maioria dos brasileiros via as estatais como símbolos de soberania nacional e instrumentos de desenvolvimento econômico. No entanto, após as denúncias de superfaturamento, fraudes e desvios em empresas como a Petrobras e a Eletrobras, a confiança nessas instituições passou a ser duramente abalada.

O especialista ressalta que a mudança não foi apenas ideológica, mas também emocional. A indignação popular com os casos de corrupção provocou uma reação em cadeia: cresceu a pressão para que o Estado reduzisse sua participação direta na economia, e aumentou o apoio a medidas de privatização e concessão de serviços públicos à iniciativa privada. Para o economista, esse movimento foi catalisado pela percepção de que o Estado havia se tornado ineficiente e vulnerável a interesses políticos.

Durante o auge da Lava Jato, pesquisas de opinião mostraram um crescimento expressivo no número de brasileiros favoráveis à privatização de grandes empresas públicas. Esse sentimento foi aproveitado por diversos governos, que passaram a justificar programas de desestatização como medidas de moralização e eficiência administrativa, em vez de simples ajustes fiscais.

O economista também observou que a narrativa em torno das estatais passou por uma transformação significativa. Se antes o discurso dominante defendia o papel estratégico dessas empresas em setores essenciais, como energia e petróleo, a partir da Lava Jato o foco se deslocou para a necessidade de transparência, controle e competitividade. Essa mudança de perspectiva ajudou a legitimar, perante a opinião pública, a venda de ativos e o avanço das concessões em diferentes áreas.

Ainda assim, a questão continua dividindo opiniões dentro do próprio meio econômico. Parte dos especialistas defende que a privatização, embora reduza riscos de corrupção e melhore a eficiência de gestão, não deve ser aplicada de forma indiscriminada. Outros alertam que a venda de estatais estratégicas pode comprometer a soberania nacional e reduzir a capacidade de o Estado intervir em setores essenciais.

No caso da Petrobras, por exemplo, a Lava Jato foi determinante para o enfraquecimento de uma narrativa histórica de orgulho nacional. As denúncias de corrupção e os prejuízos bilionários provocaram uma reavaliação sobre a forma como a empresa era administrada. Esse cenário abriu caminho para reformas internas e venda de subsidiárias, justificadas como necessárias para recuperar a credibilidade e atrair investidores.

Outro ponto ressaltado pelo economista é que a Lava Jato também influenciou o comportamento do mercado financeiro. Após as revelações da operação, investidores passaram a exigir maior governança e transparência nas companhias ligadas ao Estado, levando muitas delas a adotar práticas de compliance e auditoria mais rigorosas. Essa mudança de postura, segundo ele, foi um dos legados mais concretos da operação no ambiente corporativo.

No entanto, mesmo com os avanços em governança, a discussão sobre privatização segue sendo politicamente sensível. A ideia de entregar o controle de empresas públicas à iniciativa privada ainda enfrenta resistência em setores da sociedade que associam o Estado à proteção social e ao desenvolvimento econômico.

O economista conclui que o impacto da Lava Jato na percepção sobre as estatais foi irreversível. “A operação mudou a forma como o brasileiro enxerga o Estado e suas empresas. Mesmo com suas controvérsias, foi um divisor de águas. Desde então, o debate sobre privatização deixou de ser um tabu e passou a integrar o centro da agenda econômica nacional”, afirmou.

Assim, a Lava Jato não apenas revelou esquemas de corrupção, mas também redefiniu os rumos das políticas públicas e da própria relação da sociedade com o Estado. A aceitação da privatização, que antes enfrentava resistência ideológica, tornou-se, para muitos, um símbolo de eficiência, integridade e modernização — reflexo direto de um período em que o país se viu obrigado a repensar o papel do setor público em sua economia.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *