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Negociações sobre LDO e Medidas Provisórias Viram Novo Termômetro da Relação entre Lula e o Centrão no Congresso

As discussões em torno da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e das Medidas Provisórias (MPs) em tramitação no Congresso Nacional se transformaram em um novo teste político para a relação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Centrão. Após um período de tensão nas últimas semanas, o Palácio do Planalto tenta reconstruir pontes com líderes partidários do bloco, que controlam posições estratégicas tanto na Câmara quanto no Senado.

A LDO, que define as bases para o Orçamento de 2025, e a tramitação de MPs com impacto fiscal e administrativo colocaram o governo diante da necessidade de negociar apoio de uma base parlamentar heterogênea. A resistência de parte dos parlamentares do Centrão em aprovar medidas de interesse do Executivo revelou um distanciamento crescente entre o Planalto e as lideranças que, até pouco tempo atrás, eram consideradas aliadas sólidas.

Entre os principais pontos de tensão está a tentativa do governo de preservar a meta de déficit zero no Orçamento do próximo ano, proposta defendida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Deputados e senadores ligados ao Centrão têm pressionado por maior flexibilidade fiscal, com aumento de investimentos e liberação de emendas parlamentares. O embate reflete não apenas diferenças sobre política econômica, mas também o controle de recursos e cargos dentro da máquina pública.

Nos bastidores, interlocutores relatam que Lula tem intensificado conversas com líderes partidários, buscando garantir um acordo que permita a aprovação da LDO sem maiores desgastes. O presidente também autorizou ministros a retomarem o diálogo com bancadas regionais e a reforçar a entrega de compromissos firmados com parlamentares. A estratégia, segundo fontes do Planalto, é demonstrar boa vontade política e evitar novos bloqueios na pauta do Congresso.

Por outro lado, líderes do Centrão avaliam que o governo ainda não tem cumprido integralmente as promessas de liberação de recursos e nomeações. Essa insatisfação, somada à proximidade das eleições municipais de 2024, tem dificultado a construção de uma base sólida. Muitos deputados temem se associar a medidas impopulares e preferem adiar decisões estratégicas até que o cenário político se estabilize.

No caso das medidas provisórias, o governo enfrenta um impasse sobre a tramitação no Congresso. Desde a mudança no rito das MPs, que exige análise simultânea por uma comissão mista antes de votação nos plenários, o Executivo tem enfrentado atrasos na aprovação de temas considerados prioritários, como programas de incentivo econômico e ajustes administrativos.

Analistas políticos apontam que o momento é delicado para Lula, que precisa equilibrar as demandas fiscais do Ministério da Fazenda com a necessidade de manter a coalizão parlamentar ativa. A instabilidade nas votações recentes reforça o diagnóstico de que o governo ainda não consolidou uma base política confiável para garantir avanços legislativos.

Apesar das dificuldades, aliados do Planalto afirmam que há disposição para retomar o diálogo e recompor alianças. A avaliação é de que o governo não pode abrir mão do apoio do Centrão, especialmente em matérias orçamentárias e estruturais. O objetivo é reconstruir uma “ponte de confiança” que assegure governabilidade até o final do mandato.

No Senado, o clima também é de cautela. Parlamentares próximos a Rodrigo Pacheco (PSD-MG) afirmam que o presidente da Casa tem atuado para evitar confrontos diretos entre Executivo e Legislativo, mas reconhecem que há insatisfação crescente com a condução das negociações por parte da equipe política do governo.

A votação da LDO, prevista para as próximas semanas, será o primeiro grande teste dessa nova fase da relação entre Lula e o Centrão. O resultado poderá indicar se o Planalto conseguiu, de fato, reconstruir sua base ou se continuará enfrentando resistência de aliados estratégicos.

Para observadores, o episódio mostra que o governo precisa reforçar sua articulação política e revisar a forma como lida com o Congresso. Sem uma base coesa, cada votação tende a se transformar em um novo campo de disputa — o que pode comprometer a agenda econômica e política de Lula nos próximos meses.

Enquanto isso, o Centrão observa e negocia. Com poder de veto em temas-chave e influência decisiva no Orçamento, o bloco segue sendo peça central no tabuleiro político de Brasília — e a ponte que o governo tenta reconstruir pode definir o ritmo da governabilidade até 2026.

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