Economia

Presidente do Fed alerta: tarifas e tensões comerciais aumentam risco inflacionário nos EUA

O presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, afirmou nesta terça-feira que as tarifas impostas sobre importações e as crescentes tensões comerciais internacionais estão contribuindo para elevar a pressão inflacionária nos Estados Unidos, em um momento em que a autoridade monetária tenta equilibrar o combate à inflação com o risco de desacelerar a economia.

Durante uma conferência sobre política monetária em Washington, Powell destacou que o impacto cumulativo das novas medidas tarifárias — especialmente as adotadas contra produtos chineses e bens industriais importados — tem gerado aumento de custos de produção e repasse de preços para o consumidor americano.

“Estamos observando sinais claros de que tarifas e barreiras comerciais estão pressionando custos em setores-chave. Esse cenário exige cautela, pois pode comprometer o processo de desaceleração da inflação que vínhamos alcançando”, afirmou Powell.


Inflação resistente e desafios à política monetária

Apesar da recente desaceleração dos índices de preços, a inflação ainda está acima da meta de 2% ao ano estabelecida pelo Fed. Powell admitiu que o comportamento dos preços segue “teimosamente alto” em segmentos como energia, habitação e bens manufaturados, e que as novas tensões comerciais podem tornar mais difícil o caminho até a estabilização.

Os dados mais recentes mostram que o Índice de Preços ao Consumidor (CPI) cresceu 0,3% em setembro, acumulando 3,7% em 12 meses — acima do esperado pelos analistas. O mercado de trabalho também segue aquecido, com desemprego em 3,8%, o que, segundo o Fed, mantém a pressão sobre salários e consumo.

“Estamos atentos à combinação de crescimento sólido, desemprego baixo e custos crescentes. Isso cria um ambiente em que a inflação pode se manter persistente por mais tempo do que gostaríamos”, explicou Powell.


Efeito das tarifas e política fiscal

Nos últimos meses, o governo americano ampliou tarifas sobre produtos de tecnologia e energia importados, além de setores ligados à cadeia de semicondutores e metais estratégicos. A medida foi vista como uma tentativa de proteger a indústria nacional e reduzir a dependência da China, mas tem gerado efeitos colaterais sobre os preços domésticos.

Economistas alertam que o aumento de tarifas funciona como um imposto indireto sobre empresas e consumidores, elevando os custos de insumos e bens de consumo. Além disso, há preocupação com o impacto das políticas fiscais expansionistas adotadas para sustentar o crescimento, o que pode ampliar o déficit público e dificultar o controle da inflação.

Powell reconheceu que a interação entre política fiscal e monetária precisa ser cuidadosamente coordenada.

“Quando políticas fiscais estimulam a demanda enquanto tentamos desacelerar a economia para conter a inflação, o resultado é mais incerteza. Precisamos evitar que forças opostas enfraqueçam o esforço de estabilização de preços”, declarou.


Expectativas para os juros

O Fed manteve a taxa básica de juros entre 5,25% e 5,50% ao ano, o maior nível em mais de duas décadas. Powell reforçou que o banco central não descarta novos aumentos, mas indicou que uma decisão dependerá do comportamento dos preços e do mercado de trabalho nos próximos meses.

“Vamos agir conforme os dados. Se a inflação mostrar sinais de aceleração novamente, estamos prontos para ajustar a política monetária. Se houver moderação, manteremos a taxa atual por um período mais longo”, disse o presidente do Fed.

A postura de cautela foi bem recebida por parte do mercado financeiro, que já precifica a possibilidade de cortes graduais nos juros apenas a partir do segundo semestre de 2025, caso os preços voltem a se estabilizar.


Impacto global

As declarações de Powell repercutiram nos mercados internacionais. A preocupação com tarifas e inflação nos Estados Unidos tende a influenciar as políticas monetárias de outros países, especialmente em economias emergentes, onde oscilações do dólar e fluxos de capital reagem rapidamente a qualquer sinal de mudança no Fed.

Para o Brasil, por exemplo, um cenário de juros altos nos EUA pode significar pressão sobre o câmbio e encarecimento do crédito externo, além de desafiar o ritmo de cortes da taxa Selic.


Conclusão

O alerta do presidente do Fed reforça que o combate à inflação nos Estados Unidos ainda está longe de encerrado. Com tarifas elevando custos e tensões comerciais reacendendo incertezas, o banco central enfrenta o desafio de equilibrar estabilidade de preços e crescimento econômico.

Powell deixou claro que a prioridade continua sendo restaurar o controle inflacionário sem provocar uma recessão severa, mas o cenário global de disputas comerciais e políticas fiscais expansionistas pode tornar esse equilíbrio cada vez mais difícil de alcançar.

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