Apoio sem candidatura: maioria defende que Bolsonaro abra espaço para novo líder nas urnas
Uma nova pesquisa divulgada pela consultoria Quaest revelou um dado que pode mexer diretamente nas estratégias políticas da direita brasileira para 2026. Segundo o levantamento, 76% dos entrevistados acreditam que o ex-presidente Jair Bolsonaro deveria deixar de disputar a próxima eleição presidencial e apoiar outro candidato, enquanto apenas 21% defendem que ele volte a concorrer. A sondagem reforça o debate sobre a continuidade da influência bolsonarista no cenário nacional, mesmo diante dos desafios jurídicos enfrentados por seu principal expoente.
A pesquisa, realizada em todas as regiões do país, mostra que há uma fadiga política crescente entre parte do eleitorado que, embora mantenha afinidade com a agenda conservadora, prefere a renovação de nomes dentro do campo da direita. O levantamento também aponta que entre os eleitores que votaram em Bolsonaro em 2022, mais de um terço considera que outro nome teria mais chances de vitória em 2026.
Analistas políticos interpretam esses números como um sinal de transição dentro do grupo político que o ex-presidente ainda lidera. Mesmo com forte presença nas redes sociais e influência sobre parlamentares e movimentos conservadores, a imagem de Bolsonaro parece ter atingido um teto, especialmente diante das investigações que o afastaram da disputa eleitoral direta.
O cenário abre espaço para figuras como Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, e Romeu Zema, governador de Minas Gerais, que aparecem frequentemente citados como possíveis herdeiros do eleitorado bolsonarista. Ambos têm buscado equilibrar proximidade ideológica com autonomia política, um movimento interpretado como tentativa de atrair tanto a base fiel de Bolsonaro quanto eleitores moderados.
Entre os entrevistados pela Quaest, 46% afirmaram que gostariam de ver um novo nome representando o campo conservador, enquanto 30% acreditam que a ausência de Bolsonaro fragilizaria a direita. Essa divisão evidencia que, embora haja um desejo de renovação, o ex-presidente ainda mantém papel de articulador central dentro do movimento.
A pesquisa também revela diferenças regionais marcantes. No Sudeste e no Sul, há maior apoio à ideia de que Bolsonaro deva recuar e apoiar outro nome, enquanto no Centro-Oeste e no Norte, a maioria dos entrevistados ainda defende sua candidatura direta. Esse contraste reflete a distribuição desigual do bolsonarismo pelo país, com polos mais intensos de apoio e resistência.
Outro ponto relevante é a percepção sobre a elegibilidade do ex-presidente. Para 59% dos entrevistados, as investigações e decisões judiciais que o atingem prejudicam sua imagem pública. Apenas 25% afirmam que tais fatores “não têm importância” e que continuariam votando nele independentemente de sua situação jurídica.
O levantamento reforça que a direita brasileira passa por um processo de reconfiguração, semelhante ao que já ocorreu em outros países após períodos de liderança personalista. Especialistas apontam que a base construída por Bolsonaro — fortemente ideológica e digitalmente ativa — não deve desaparecer, mas sim se redistribuir entre novos candidatos, capazes de traduzir suas pautas em uma linguagem mais conciliadora.
Na avaliação de cientistas políticos, a estratégia de Bolsonaro para os próximos meses deve girar em torno de decidir se apoiará publicamente um sucessor ou manterá o suspense sobre seu futuro político. Essa indefinição, segundo eles, pode tanto fortalecer quanto enfraquecer o grupo, dependendo da capacidade de articulação interna e da coesão entre seus aliados.
Com o calendário eleitoral se aproximando, a Quaest deve continuar acompanhando o movimento das intenções de voto, avaliando como o peso simbólico de Bolsonaro e o desejo de renovação entre os eleitores vão se equilibrar. O resultado mais recente deixa claro que, para boa parte dos brasileiros, o ciclo bolsonarista precisa se reinventar para continuar relevante nas disputas que se aproximam.