Politica

Cúpula do União Brasil prepara manobra interna para afastar diretório estadual e excluir deputado Sabino dos quadros do partido

Um movimento contundente dentro do União Brasil está prestes a desencadear uma reviravolta nas estruturas internas da legenda. Em meio a tensões políticas acumuladas, disputas regionais e acusações de infidelidade partidária, a Executiva Nacional da sigla se prepara para tomar uma decisão com repercussões significativas: a destituição imediata de um diretório estadual — com votação marcada para os próximos dias — e a abertura do processo de expulsão do deputado federal Celso Sabino, que ocupa o cargo de ministro do Turismo no governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A medida, de caráter extraordinário, ocorre após semanas de desgaste entre Sabino e a direção do partido, especialmente no tocante à sua atuação política dissociada das orientações nacionais da legenda. A cúpula do União Brasil avalia que o parlamentar, ao aceitar e permanecer no ministério em um governo que o partido oficialmente não integra, teria violado princípios de fidelidade partidária e de disciplina interna. Além disso, a crise foi agravada por disputas locais no estado do Pará, reduto político do deputado, onde o diretório estadual vinha resistindo a ordens e resoluções da instância superior do partido.

Atrito entre base federal e comando nacional

O União Brasil, fruto da fusão entre o DEM e o PSL, tornou-se um dos maiores partidos do país, com capilaridade expressiva nas duas casas do Congresso Nacional. No entanto, essa força numérica contrasta com a constante instabilidade interna causada pela multiplicidade de correntes, lideranças regionais e interesses divergentes. A relação com o governo federal é um dos pontos de maior atrito.

Desde o início da atual gestão petista, a sigla adotou uma postura oficialmente independente, mesmo com membros ocupando cargos estratégicos no Executivo. A nomeação de Sabino para o Ministério do Turismo foi interpretada por parte da direção nacional como um gesto unilateral e dissociado do posicionamento institucional da legenda. Embora o deputado alegue ter mantido diálogo com lideranças partidárias, a avaliação da cúpula é de que houve quebra de confiança.

A gota d’água teria sido a atuação de Sabino em votações recentes na Câmara, nas quais se alinhou com orientações do governo federal em detrimento da posição da bancada do União Brasil. Segundo dirigentes do partido, esse comportamento ultrapassa os limites aceitáveis para um parlamentar que deseja permanecer filiado a uma legenda que busca preservar sua identidade política.

Diretório estadual na berlinda

Em paralelo ao processo contra Sabino, a Executiva Nacional do partido também pretende intervir diretamente no diretório estadual do Pará, atualmente controlado por aliados do ministro. A acusação principal é de que o grupo teria desobedecido sistematicamente as decisões da direção nacional, promovido ações políticas à revelia da cúpula e utilizado a estrutura partidária para fins de promoção pessoal.

A proposta de destituição sumária do diretório — algo raro e com alto custo político — deve ser votada nos próximos dias, e fontes internas indicam que há maioria consolidada para sua aprovação. Com isso, a direção nacional poderá nomear uma comissão provisória para reorganizar a sigla no estado e conduzir novas articulações visando às eleições municipais e estaduais.

Essa manobra interna é vista como uma tentativa de “limpeza política” na legenda, com o objetivo de unificar o discurso partidário e dar um recado claro a outros membros que, eventualmente, atuem fora das diretrizes estabelecidas.

Expulsão como medida disciplinar exemplar

No caso de Celso Sabino, a expulsão é tratada como uma medida de natureza disciplinar e estratégica. A direção nacional pretende enquadrar o deputado por infidelidade partidária, alegando que sua permanência no cargo de ministro, sem aval formal da legenda, compromete a imagem institucional do União Brasil e enfraquece sua autonomia frente ao governo federal.

O processo deverá seguir os trâmites internos previstos no estatuto do partido, com abertura de prazo para defesa e posterior julgamento pelo Conselho de Ética. Apesar do rito legal, aliados da cúpula já indicam que a decisão de expulsar Sabino conta com apoio expressivo entre os dirigentes nacionais e dificilmente será revertida.

Caso a expulsão se concretize, o deputado poderá recorrer à Justiça Eleitoral para tentar manter seu mandato, alegando perseguição política. No entanto, o entendimento majoritário no meio jurídico é de que o mandato pertence ao partido, salvo em situações excepcionais de grave discriminação política, o que abre caminho para que a legenda reivindique a cadeira na Câmara dos Deputados.

Repercussões e reflexos políticos

A movimentação interna do União Brasil promete desencadear reações em diversas frentes. No Congresso, pode abrir nova crise entre a legenda e o governo, especialmente se outros parlamentares que ocupam cargos federais forem pressionados a tomar partido ou renunciar às funções no Executivo. A sigla também deve enfrentar embates regionais com lideranças que se opõem à centralização de decisões em Brasília.

Além disso, o episódio fortalece correntes internas que defendem um realinhamento ideológico mais claro para o União Brasil, afastando-o definitivamente do governo e posicionando a legenda como força autônoma de centro-direita, com foco nas eleições municipais de 2024 e, sobretudo, na construção de uma candidatura presidencial viável para 2026.

A tensão também atinge diretamente os planos de reeleição de prefeitos e vereadores aliados a Sabino no estado do Pará, que agora podem ver sua estrutura de apoio comprometida com a intervenção no diretório.

Conclusão: ruptura interna marca novo momento do partido

O processo de destituição de diretório estadual e possível expulsão do ministro Celso Sabino revela um União Brasil mais disposto a impor disciplina interna e consolidar sua autoridade como legenda de porte nacional. A ação, embora polêmica, demonstra que o partido tenta se reposicionar no cenário político com maior firmeza, estabelecendo limites mais claros para a atuação de seus filiados.

Ao mesmo tempo, o episódio escancara as dificuldades enfrentadas por partidos grandes e heterogêneos no atual sistema político brasileiro, onde interesses locais, disputas por cargos e alianças federais muitas vezes entram em rota de colisão. Para o União Brasil, essa crise pode ser o início de uma reestruturação profunda — ou o prenúncio de mais instabilidade no horizonte.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *