Economia

Com retração nas vendas ao mercado norte-americano, Brasil vê na China alternativa parcial após impacto de tarifas impostas por Trump

Desde que Donald Trump reassumiu a presidência dos Estados Unidos em 2025, sua política comercial voltou a incorporar medidas protecionistas que vêm afetando diretamente o comércio exterior de diversos países — incluindo o Brasil. Com a retomada de tarifas mais altas sobre uma série de produtos importados, especialmente os provenientes de mercados emergentes, o Brasil já sente os primeiros impactos: uma retração de aproximadamente 18% nas exportações destinadas ao mercado norte-americano.

A política de tarifas implementada pela atual gestão republicana nos EUA repete a estratégia usada por Trump em seu primeiro mandato (2017–2021), com foco em “America First” e na defesa da indústria nacional. A imposição de tarifas adicionais sobre bens industrializados, agrícolas processados e matérias-primas brasileiras já provocou mudanças no comportamento do setor exportador, que tem buscado realocar parte da produção para outros destinos — sendo a China o principal deles.

Setores mais atingidos e efeitos imediatos da nova rodada de tarifas

O retorno de Donald Trump ao comando da Casa Branca trouxe de volta preocupações com um ambiente global menos cooperativo no comércio internacional. A política tarifária agora reativada teve como principais alvos setores em que os Estados Unidos enfrentam competição direta ou desejam reforçar sua produção interna. Isso inclui, por exemplo, o aço, o alumínio, produtos da agroindústria e bens de consumo com algum grau de processamento industrial.

Empresas brasileiras que atuam nesses segmentos já enfrentam dificuldades para manter preços competitivos nos EUA. Com o aumento das tarifas, muitos produtos perdem margem de lucro, e os custos adicionais acabam sendo repassados, dificultando vendas e contratos de longo prazo com importadores norte-americanos. O setor de aço e metalurgia, particularmente, voltou a ser um dos mais atingidos, assim como durante o primeiro governo Trump.

O setor de sucos, carnes industrializadas e derivados da soja também começou a registrar cancelamentos de pedidos e renegociações de contratos. Os reflexos são mais acentuados nas exportações de maior valor agregado, uma vez que produtos primários ainda mantêm certo apelo competitivo, mesmo com tarifas adicionais.

China amplia participação como destino das exportações brasileiras

Com a queda na participação dos Estados Unidos no total das exportações brasileiras, empresas nacionais voltaram a intensificar os laços comerciais com a China. Já consolidada como principal parceiro comercial do Brasil desde a última década, a China tem absorvido parte da produção destinada anteriormente ao mercado norte-americano, principalmente no campo das commodities.

Minério de ferro, soja, carne bovina e petróleo bruto lideram a pauta de exportações para o gigante asiático. Essa reorientação, embora bem-sucedida em termos de volume, traz um efeito colateral: reforça o perfil primário da balança comercial brasileira e reduz o espaço para bens industrializados e com maior valor agregado.

Além disso, embora a China esteja disposta a ampliar suas importações do Brasil, o país asiático tem regras comerciais próprias, exige padrões técnicos rígidos e busca manter o controle sobre preços e contratos, o que exige habilidade diplomática e comercial por parte do governo e das empresas brasileiras.

Mudança no perfil da pauta exportadora preocupa especialistas

O novo tarifário norte-americano imposto por Trump vem acelerando uma tendência já observada em anos anteriores: a desindustrialização relativa da pauta exportadora brasileira. Com a perda de competitividade em mercados mais exigentes, como o dos EUA, o Brasil tem exportado cada vez mais produtos de base — com menos tecnologia e menor valor agregado.

Analistas alertam que essa dinâmica, se mantida, compromete o desenvolvimento de longo prazo, pois reduz a capacidade do país de gerar empregos de qualidade, aumentar a produtividade e ampliar sua presença em cadeias globais de valor. A dependência crescente de commodities também torna a economia brasileira mais vulnerável às oscilações de preços no mercado internacional e a crises geopolíticas.

Governo brasileiro busca diálogo, mas encontra cenário hostil em Washington

Desde o início do novo mandato de Trump, autoridades brasileiras têm tentado abrir canais de diálogo para reverter ou mitigar os efeitos das tarifas. No entanto, a nova administração norte-americana demonstra pouca disposição para concessões bilaterais e tem preferido impor condições comerciais mais duras em negociações com países em desenvolvimento.

Em paralelo, o Itamaraty e o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio têm intensificado esforços para diversificar os mercados compradores e ampliar acordos com países da Ásia, do Oriente Médio e da Europa. A participação em blocos econômicos regionais e o estreitamento de relações com a União Europeia e países do Sudeste Asiático fazem parte dessa estratégia de mitigação.

No entanto, especialistas lembram que a substituição do mercado americano não é simples. Os EUA são um dos maiores e mais sofisticados mercados consumidores do mundo. A perda de acesso competitivo a esse mercado representa não só prejuízo imediato, mas também perda de oportunidades futuras de inserção produtiva em setores de alto valor.

Conclusão: tarifas de Trump impõem redirecionamento estratégico e expõem desafios estruturais do Brasil

A nova rodada de tarifas comerciais imposta pelos Estados Unidos sob a presidência de Donald Trump já está redesenhando o mapa das exportações brasileiras. A queda de 18% nas vendas para o mercado norte-americano impõe um redirecionamento estratégico ao comércio exterior do país, que passa a depender ainda mais da China e de suas commodities.

Esse novo cenário exige não apenas diplomacia comercial, mas também uma revisão mais ampla da estratégia econômica brasileira. A recuperação da indústria nacional, a ampliação de acordos de livre comércio e o investimento em inovação e competitividade tornam-se urgentes para que o Brasil possa reduzir sua vulnerabilidade externa e reposicionar sua economia em um mundo cada vez mais protecionista.

A gestão atual dos Estados Unidos deixa claro que as relações comerciais não se basearão em afinidades diplomáticas, mas sim em interesses nacionais rígidos. Cabe ao Brasil responder com inteligência estratégica, diversificação de mercados e uma política industrial robusta.

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