Politica

Alinhamento entre Brasil e Marco Rubio exige estratégia prática acima de afinidades ideológicas

Em tempos de relações internacionais marcadas por interesses econômicos, disputas diplomáticas e pressões políticas internas, o eventual entendimento entre o governo brasileiro e o senador norte-americano Marco Rubio dependerá menos de afinidade retórica e mais de cálculo pragmático. Ainda que ambos os lados tenham posições públicas firmes — e, em muitos casos, divergentes —, a construção de uma relação minimamente funcional passa pela capacidade de estabelecer pontos de convergência onde for possível, sem ilusões de simpatia ideológica ou “química política”.

Rubio, senador republicano pela Flórida e uma das vozes mais influentes da ala conservadora dos Estados Unidos no Congresso, tornou-se conhecido por seu posicionamento inflexível diante de governos latino-americanos de orientação progressista. Suas posições sobre Cuba, Venezuela e Nicarágua são duras e frequentemente traduzidas em ações concretas no Senado americano. No caso do Brasil, sua abordagem tem sido mais indireta, mas não menos relevante.

Rubio e o papel do Congresso norte-americano na política externa

Embora a condução da política externa dos EUA esteja, em grande parte, sob a responsabilidade da Casa Branca e do Departamento de Estado, o Congresso tem poder significativo, especialmente em temas como sanções, aprovação de fundos internacionais e condicionamento de acordos bilaterais. Como membro do Comitê de Relações Exteriores, Marco Rubio exerce influência direta sobre votações e emendas que podem afetar países aliados ou em desenvolvimento.

Sua resistência a concessões consideradas ideologicamente alinhadas com a esquerda latino-americana o coloca em constante vigilância sobre iniciativas que envolvam cooperação com governos progressistas. Por isso, qualquer tentativa de aproximação institucional entre o Brasil e o senador exigirá esforço não em criar afinidade ideológica, mas em apresentar argumentos de ordem prática que justifiquem o diálogo.

O Brasil de hoje: política externa com foco em multilateralismo

O governo brasileiro tem priorizado, desde o início de sua gestão, o reposicionamento do país no cenário internacional, buscando retomar protagonismo em organismos multilaterais, atrair investimentos externos sustentáveis e reabrir canais diplomáticos enfraquecidos nos últimos anos. Nessa agenda, o bom relacionamento com os Estados Unidos é fundamental — mas enfrenta o desafio de lidar com a fragmentação política em Washington.

Se por um lado a Casa Branca se mostra aberta ao diálogo com o Brasil, por outro o Congresso, especialmente dominado por forças conservadoras em algumas comissões, tende a impor barreiras técnicas e ideológicas. Nesse jogo, nomes como Marco Rubio são chaves: embora não representem o todo, têm capacidade de influenciar decisões estratégicas que afetam diretamente o Brasil.

A natureza estratégica da interlocução com Rubio

Diante desse cenário, qualquer “química” política com Marco Rubio só poderá existir se baseada em pragmatismo. Ou seja, se o Brasil conseguir demonstrar que há interesses comuns em áreas como segurança regional, combate ao narcotráfico, estabilidade institucional ou comércio internacional, há espaço para algum tipo de alinhamento técnico — ainda que distante de uma aliança política clássica.

Rubio, apesar de inflexível em temas ideológicos, tem histórico de atuação estratégica quando percebe ganhos para os EUA. Esse ponto pode ser explorado diplomaticamente por Brasília, especialmente por meio de canais não públicos de interlocução, que priorizem resultados concretos em vez de declarações públicas de alinhamento político.

Riscos e limites do engajamento com o senador

Por outro lado, é preciso reconhecer os riscos de tentar forçar uma aproximação com figuras que têm trajetória marcada por antagonismos ideológicos. Um esforço mal calculado pode ser interpretado como submissão ou concessão excessiva, tanto por parte da opinião pública brasileira quanto por outros atores internacionais. Além disso, Rubio tem eleitorado e compromissos com setores nos EUA que esperam dele firmeza diante de governos latino-americanos progressistas — e isso limita sua margem de negociação.

A oposição brasileira, ciente disso, tenta instrumentalizar o nome de Rubio como forma de conter ou pressionar o governo federal em determinadas pautas. Mas essa tática tem vida útil curta se não houver respaldo concreto no Congresso norte-americano para transformar pressão política em medidas efetivas. A dependência de um único nome no Senado dos EUA não garante influência real e duradoura.

Conclusão: diálogo possível, mas condicionado ao interesse mútuo

A construção de uma relação funcional entre o Brasil e figuras como Marco Rubio não passa por simpatia pessoal ou compatibilidade de discursos. O que pode viabilizar algum grau de interlocução é o reconhecimento de interesses objetivos compartilhados — seja no campo da economia, da segurança ou da diplomacia regional.

Rubio dificilmente será um aliado direto do governo brasileiro, mas pode atuar como interlocutor relevante se for convencido de que há valor estratégico para os Estados Unidos em determinadas cooperações. Para isso, o Brasil precisa manter uma política externa firme, articulada e livre de ilusões ideológicas.

Em outras palavras, se houver “química”, ela será de laboratório: construída com fórmulas práticas, não com encantamento político.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *