Produção industrial recua 0,7% na comparação anual, apesar de retomada mensal em agosto
Em agosto de 2025, a produção industrial brasileira registrou queda de 0,7% em relação ao mesmo mês do ano anterior, revelando que o setor ainda enfrenta desafios estruturais mesmo após uma recuperação pontual frente a julho. Os dados divulgados pelo IBGE mostram um cenário de oscilação e fragilidade, com impactos setoriais e riscos para a retomada econômica.
Panorama geral dos dados
- Na comparação mensal (agosto ante julho de 2025), a indústria brasileira apresentou alta de 0,8%, interrompendo quatro meses consecutivos de estagnação ou queda.
- No acumulado do ano (janeiro a agosto), o setor acumula crescimento de 0,9% frente ao mesmo período de 2024.
- Em 12 meses, o desempenho da indústria foi positivo em 1,6%, ainda modesto frente às ambições de recuperação robusta.
- A média móvel trimestral também registrou avanço de 0,3%, sugerindo um leve impulso marginal.
Esses números revelam uma indústria que tem conseguido retomar alguma dinâmica mês a mês, mas que sofre para se sustentar em relação ao ano anterior.
Setores que puxaram alta e os que pressionaram
Destaques positivos
Das 25 atividades industriais pesquisadas, 16 mostraram expansão em agosto. Entre os segmentos que mais contribuíram:
- Produtos farmoquímicos e farmacêuticos: crescimento expressivo de 13,4% no mês.
- Coque, produtos derivados do petróleo e biocombustíveis: alta de 1,8%.
- Alimentos: variação positiva de 1,3%.
Outros setores com bom desempenho incluem impressão e reprodução de gravações, veículos automotores, equipamentos de transporte e bebidas.
Pressões negativas
Por outro lado, nove atividades registraram queda, entre elas:
- Produtos químicos: recuo de 1,6%.
- Máquinas e equipamentos: queda de 2,2%.
- Produtos de madeira: retração de 8,6%.
- Artefatos de couro, calçados e artigos para viagem: queda de 3,6%.
- Indústrias extrativas também registraram leve recuo de 0,3%.
O setor de bens de capital (máquinas, equipamentos) foi especialmente pressionado, atingindo retração de 1,4% no mês.
Interpretações e fatores de influência
- A queda de 0,7% na comparação anual indica que parte do crescimento mensal registrado recentemente ainda não é suficiente para reverter perdas acumuladas de meses anteriores.
- O desempenho desigual entre os setores evidencia como os efeitos da inflação, do crédito caro e da instabilidade global continuam afetando setores mais sensíveis ao investimento e à cadeia produtiva pesada.
- A má circulação de produtos e as tarifas impostas por países como os EUA pesam fortemente sobre segmentos exportadores, como madeiras e extrativos, que já vinham sentindo retração.
- Também merece atenção que agosto de 2025 teve um dia útil a menos que agosto de 2024, o que pode intensificar a base de comparação negativa.
Consequências e riscos para a indústria e a economia
- Incerteza para investimentos: se a indústria não recobrar fôlego consistente, projetos de expansão ou modernização podem ser adiados ou cancelados.
- Pressão sobre emprego: segmentos com queda persistente podem rever quadros de pessoal ou adotar medidas de contenção.
- Impacto nas cadeias produtivas: setores interdependentes, como automotivo, construção e metalurgia, podem ser afetados pela redução de demanda por bens intermediários e capital.
- Desafio para políticas industriais: o Estado poderá ser cobrado por incentivos, crédito mais barato ou estímulos para reativar segmentos em retração.