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Durante retiro espiritual, Alcolumbre permanece alheio à votação do Imposto de Renda na Câmara

Em meio a um dos temas fiscais mais sensíveis do cenário político recente — a aprovação do novo projeto de isenção do Imposto de Renda na Câmara dos Deputados —, o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), não foi comunicado sobre o desfecho da votação. O motivo: sua participação em um período de reclusão religiosa, prática que realiza anualmente e durante a qual se afasta de todas as atividades públicas, incluindo agendas políticas e institucionais.

A ausência de Alcolumbre da cena política no momento em que o projeto avançava reacendeu discussões sobre o peso do Senado nas decisões fiscais e chamou atenção para o impacto das convicções pessoais de autoridades no andamento de temas de interesse nacional. Embora não seja raro que parlamentares se ausentem por motivos religiosos ou pessoais, a coincidência entre o retiro e a tramitação de uma medida de forte repercussão gerou questionamentos nos bastidores políticos.

Recolhimento religioso anual

Davi Alcolumbre costuma dedicar, anualmente, um período à prática do recolhimento religioso, que envolve orações, meditação, estudo e afastamento completo dos temas seculares. Durante esse tempo, o senador não utiliza meios de comunicação, não acessa redes sociais e não mantém contato com assessores ou interlocutores políticos.

De acordo com pessoas próximas, Alcolumbre teria iniciado seu período de reclusão dias antes da votação do projeto de isenção do IR na Câmara e, por isso, não tomou conhecimento da deliberação, tampouco participou de articulações para sua tramitação futura no Senado.

A ausência de informações não teria sido acidental, mas parte do compromisso espiritual que o parlamentar assume nesse período. Ainda segundo aliados, ele retorna à vida pública apenas após o término completo da reclusão, sem abrir exceções para temas políticos, mesmo os de alta relevância institucional.

Avanço do projeto do IR durante ausência

Enquanto o senador permanecia em retiro, a Câmara dos Deputados aprovava com ampla maioria o projeto que altera a tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF), ampliando a faixa de isenção e beneficiando milhões de contribuintes de baixa e média renda. A medida foi celebrada pelo governo federal como um passo importante na agenda de justiça fiscal, além de cumprir uma das promessas centrais do Executivo.

Com o avanço do texto, o Senado agora será responsável por concluir a análise da proposta, que precisa da aprovação da Casa Alta para entrar em vigor. Alcolumbre, como presidente da CCJ, tem papel central na admissibilidade e andamento formal de matérias legislativas que chegam ao Senado, inclusive projetos tributários.

Sua ausência no momento em que o texto chega ao Senado levanta dúvidas sobre a velocidade com que o projeto poderá tramitar na Casa. Ainda assim, senadores aliados ao governo afirmam que há um esforço para garantir celeridade na apreciação da proposta, mesmo sem a presença imediata do presidente da comissão.

Debate sobre separação entre fé e função pública

A situação reacendeu um antigo debate sobre a conciliação entre crenças pessoais e deveres institucionais de autoridades eleitas. Críticos afirmam que figuras com função decisiva na engrenagem legislativa não deveriam se ausentar em momentos de deliberação sobre temas com alto impacto nacional, independentemente de razões religiosas. Já aliados e defensores da liberdade de crença rebatem, dizendo que a Constituição assegura o direito à prática religiosa e que o Senado tem mecanismos para garantir o andamento dos trabalhos mesmo com a ausência momentânea de um de seus membros.

Além disso, outros senadores podem assumir temporariamente a condução de pautas específicas, caso a ausência de Alcolumbre se estenda. A CCJ, embora presidida por ele, conta com estrutura colegiada e pode seguir deliberando mediante acordo de líderes.

Governo tenta manter ritmo de articulação no Senado

Com o projeto já aprovado na Câmara, o governo tenta agora manter o embalo no Senado. Mesmo com a ausência de Alcolumbre, articuladores do Palácio do Planalto buscam garantir que a proposta avance rapidamente, a fim de viabilizar a implementação das novas faixas do IR já no próximo exercício fiscal.

Líderes da base governista acreditam que, tão logo Alcolumbre retorne à rotina parlamentar, será possível alinhar a tramitação formal do projeto na CCJ. O senador é considerado um político hábil e experiente, com bom trânsito entre diferentes correntes partidárias — o que poderá facilitar a construção de consenso em torno da proposta, caso a matéria enfrente resistências pontuais no plenário.

Alcolumbre e a postura institucional

Nos últimos anos, Davi Alcolumbre se consolidou como um dos principais articuladores do Senado, com forte influência nos bastidores e papel central em votações estratégicas, incluindo temas econômicos e institucionais. Sua reclusão religiosa, embora não seja novidade, chama atenção por ocorrer em um momento particularmente sensível da agenda legislativa.

A expectativa é de que, ao retornar, o senador se reúna com os líderes partidários e com representantes do governo para definir os próximos passos da tramitação do projeto do IR. Caso haja consenso, o texto poderá ser votado com relativa rapidez, sem grandes obstáculos no caminho.

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