Em cenário de incerteza eleitoral, Tarcísio de Freitas privilegia manutenção no governo paulista e recua de projetos nacionais
O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tem sinalizado, de forma cada vez mais clara, que deverá optar pela busca de um segundo mandato à frente do Palácio dos Bandeirantes, em vez de se lançar em voos mais altos no cenário político nacional nas eleições de 2026. A decisão reflete uma leitura cautelosa do cenário político e eleitoral do país e vem sendo interpretada por aliados como uma tentativa de preservar capital político e evitar uma derrota que comprometa seu futuro.
A possível candidatura à Presidência da República — cogitada por setores da direita e até por lideranças bolsonaristas — vai, ao menos por ora, ficando em segundo plano. Tarcísio, embora tenha mantido a visibilidade nacional e seja um dos poucos nomes que transita bem entre alas da direita, sabe que disputar o Planalto exigiria uma exposição muito maior, alianças arriscadas e enfrentamentos que poderiam prejudicar sua imagem, ainda em construção.
Cálculo político: menos risco, mais estabilidade
Segundo interlocutores próximos, Tarcísio vem avaliando que a reeleição em São Paulo, embora desafiadora, é uma aposta mais segura do que disputar a sucessão presidencial em um ambiente nacional altamente polarizado. Ainda sem base eleitoral orgânica própria fora do estado, o governador entende que teria de enfrentar não apenas um eventual nome petista no segundo turno, mas também possíveis concorrentes da própria direita, caso Jair Bolsonaro esteja inelegível e o campo conservador se fragmente.
Além disso, ao permanecer no cargo e buscar a reeleição, Tarcísio evitaria o desgaste de uma campanha nacional prematura. Em São Paulo, o governador ainda goza de índices razoáveis de aprovação, especialmente entre setores empresariais e do eleitorado conservador. Consolidar-se como gestor estadual eficaz por oito anos poderia fortalecer sua posição como nome viável para 2030 — sem pressa, sem ruptura e com mais credenciais acumuladas.
Medo de derrota: lições de candidaturas precipitadas
Nos bastidores, a decisão de Tarcísio também é atribuída ao receio de repetir trajetórias de políticos que queimaram etapas. Ex-ministros, governadores e outsiders que tentaram saltar diretamente para o Planalto sem base nacional sólida acabaram sendo derrotados e perdendo espaço político. Essa memória recente pesa na balança e faz com que o governador prefira manter os pés no chão.
A derrota de figuras como João Doria e Sergio Moro é frequentemente citada como exemplo do que Tarcísio pretende evitar. Ambos, mesmo com projeção nacional, não conseguiram construir redes de apoio suficientemente robustas e acabaram isolados politicamente. Para evitar esse destino, o governador paulista busca uma trajetória mais orgânica, estruturada e longe dos riscos de um voo solo antecipado.
Relação com Bolsonaro ainda influencia, mas já não determina
Apesar de ter sido alçado ao governo paulista com o apoio direto de Jair Bolsonaro, Tarcísio tem procurado, desde sua posse, adotar uma postura institucional mais equilibrada. Evita polêmicas, reduz embates ideológicos e mantém diálogo com diferentes setores — inclusive com ministros do governo federal. Essa postura o distingue de outros quadros do bolsonarismo e reforça sua imagem como gestor técnico.
No entanto, a sombra de Bolsonaro ainda está presente. O ex-presidente, atualmente inelegível, continua sendo a principal figura da direita e não deve abrir espaço com facilidade para que outro nome assuma o protagonismo do campo conservador. A dúvida sobre o futuro político de Bolsonaro — se tentará transferir votos, apoiar outro nome ou permanecer como ator central — também pesa na decisão de Tarcísio de recuar.
A avaliação é de que, enquanto o ex-presidente seguir no jogo, mesmo que juridicamente fora das urnas, qualquer projeto presidencial alternativo será tensionado. Tarcísio sabe que uma eventual candidatura sua dependeria não só da bênção de Bolsonaro, mas também da capacidade de herdar sua base — algo longe de estar garantido.
Internamente, escolha por reeleição agrada setores do Republicanos e do empresariado
A decisão de focar na reeleição também encontra respaldo dentro do seu partido, o Republicanos, e entre setores empresariais que veem com bons olhos a estabilidade de sua gestão em São Paulo. As grandes lideranças econômicas do estado enxergam Tarcísio como um governador previsível, comprometido com reformas estruturais, concessões, privatizações e equilíbrio fiscal.
Para esses grupos, a permanência do governador à frente do estado é mais interessante do que uma eventual candidatura presidencial incerta e de alto risco. O mesmo se aplica a lideranças políticas locais que já começaram a se articular para a disputa estadual e precisam da continuidade de Tarcísio como âncora de seus próprios projetos.
Oposição em São Paulo se reorganiza, mas cenário ainda é favorável a Tarcísio
Apesar da insatisfação de setores da esquerda com sua gestão, Tarcísio ainda não enfrenta um adversário estadual consolidado para 2026. O campo progressista, liderado pelo PT e partidos aliados, deve tentar emplacar um nome competitivo, possivelmente com apoio direto do presidente Lula, mas ainda não há definição clara. Enquanto isso, o governador segue administrando o estado com relativa tranquilidade.
A estratégia agora é entregar resultados visíveis, ampliar o alcance de obras e projetos de infraestrutura, manter o discurso técnico e evitar envolvimento direto em embates nacionais. Tarcísio aposta na ideia de que, com uma gestão bem avaliada, poderá ser reeleito com margem e, a partir daí, ter mais força para disputar o cenário presidencial futuro — com currículo mais robusto e autonomia política maior.
Conclusão: entre ambição e prudência, Tarcísio aposta na rota mais segura
A decisão de priorizar a reeleição e adiar planos de disputar a Presidência mostra que Tarcísio de Freitas está disposto a jogar no longo prazo. Ao contrário de figuras que buscaram atalhos para o topo do poder, o governador paulista parece mais interessado em consolidar sua imagem como gestor eficiente e confiável — e menos em se envolver em disputas arriscadas antes da hora.
A escolha revela maturidade política e senso de oportunidade, mas também os limites que a atual configuração da direita impõe a qualquer nome que deseje se projetar nacionalmente sem romper com Bolsonaro. No xadrez político brasileiro, Tarcísio escolhe proteger sua torre, manter seu rei seguro e adiar o xeque-mate para o próximo tabuleiro.