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Davi Alcolumbre adia indefinidamente encontro com relator da proposta de anistia e mantém indefinição sobre avanço da pauta

O senador Davi Alcolumbre (União-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, tem evitado marcar uma nova reunião com o relator da proposta de anistia que tramita na Casa, aprofundando o impasse político em torno do texto. A postura do senador, vista como uma forma de esfriar o andamento da pauta, ocorre num contexto de crescente tensão entre partidos e lideranças envolvidas na negociação da medida.

A proposta de anistia, que inicialmente surgiu como um instrumento para “pacificar” o ambiente político, passou a ser tratada com cada vez mais cautela após críticas públicas, pressões externas e divergências internas. A demora em retomar o diálogo formal com o relator é lida por parlamentares como sinal de que Alcolumbre deseja ganhar tempo ou, possivelmente, desidratar o texto sem assumir protagonismo direto no seu eventual arquivamento ou reformulação.

Imobilismo estratégico: silêncio como ferramenta de controle

A decisão de evitar marcar novo encontro com o relator é interpretada por fontes do Senado como uma manobra deliberada de Alcolumbre para manter o controle sobre o cronograma da CCJ. Ao deixar o tema em compasso de espera, o senador preserva sua posição estratégica em meio à disputa de forças que envolve diferentes alas do Congresso, entre elas bancadas governistas, oposição, setores do centrão e parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro.

Para além do conteúdo da proposta, o que está em jogo é o timing político de sua tramitação. Marcar uma nova rodada de negociações significaria dar sinal verde para o avanço do texto — e esse movimento, no momento, parece incompatível com os cálculos de Alcolumbre, que prefere evitar desgaste pessoal ou institucional.

Relator aguarda definição e tenta manter articulação ativa

Enquanto Alcolumbre adia a reunião, o relator do projeto segue articulando nos bastidores para tentar consolidar uma versão que seja minimamente viável em termos políticos e jurídicos. O texto da anistia, que inicialmente pretendia beneficiar centenas de políticos punidos por irregularidades nas eleições, enfrenta resistência crescente dentro e fora do Parlamento.

A pressão da opinião pública, o risco de judicialização e a atuação de entidades contrárias à medida têm provocado desgaste, o que levou o relator a revisar pontos do projeto e tentar encontrar uma fórmula menos agressiva aos princípios da moralidade pública. No entanto, sem a retomada formal das conversas com Alcolumbre, a proposta continua travada.

Tensão entre líderes e clima de desconfiança freiam avanços

O impasse em torno da anistia também reflete uma série de desentendimentos recentes entre lideranças partidárias, inclusive dentro do próprio União Brasil, partido de Alcolumbre. A falta de consenso sobre quem deve ser beneficiado pela medida, quais prazos devem ser considerados e quais condutas poderiam ser anistiadas ampliou o clima de desconfiança e reduziu o apetite político para votar o texto em curto prazo.

Há receio de que a proposta, se colocada em votação no atual formato, sofra uma derrota expressiva ou acabe sendo alvo de ações no Supremo Tribunal Federal. Assim, manter a proposta paralisada virou, para muitos, a solução mais conveniente — e Alcolumbre, com seu domínio sobre a CCJ, é peça-chave nessa estratégia de contenção.

Alcolumbre mira 2026 e evita polêmicas de alto custo

Outro fator que ajuda a explicar a postura do senador é seu projeto político pessoal. De olho nas eleições de 2026, Davi Alcolumbre quer preservar capital político e evitar embates que possam desgastar sua imagem junto ao eleitorado. Envolver-se diretamente com uma pauta delicada como a anistia — criticada por parte da imprensa e por segmentos do Judiciário — seria um risco desnecessário.

Ao adiar indefinidamente o encontro com o relator, Alcolumbre evita exposição, transfere a responsabilidade pelo atraso a fatores externos e mantém a pauta sob seu controle. Com isso, consegue administrar os interesses em jogo sem romper com nenhum grupo político de forma aberta.

Governo monitora, mas evita interferência direta

Do lado do Executivo, o Planalto acompanha a situação com cautela. Embora setores do governo tenham demonstrado interesse na aprovação de uma versão enxuta da anistia — principalmente por conta de aliados que poderiam ser beneficiados —, a avaliação predominante é que forçar a tramitação agora seria politicamente custoso.

Além disso, o governo teme ser acusado de interferir indevidamente em uma pauta que, se aprovada de forma ampla, poderia ser interpretada como tentativa de “passar a mão” sobre irregularidades eleitorais. Assim, a postura tem sido de distância calculada: deixar o Congresso resolver internamente, sem se comprometer diretamente com o texto.

Anistia vira símbolo de desgaste e pode ser deixada de lado

O projeto de anistia, que já foi apontado por alguns como uma das prioridades do Congresso para este semestre, agora corre risco real de cair no esquecimento — ao menos temporariamente. Com o tempo passando, o clima político se deteriorando e a pressão externa aumentando, muitos parlamentares passaram a considerar que a proposta perdeu tração.

A ausência de uma reunião formal entre o presidente da CCJ e o relator reforça a ideia de que não há ambiente político para votar o texto neste momento. Mesmo que reformulado, o projeto dificilmente conseguiria reunir apoio suficiente para ser aprovado sem grande desgaste.

Conclusão: ao evitar reunião com relator, Alcolumbre sinaliza freio institucional na proposta de anistia

A decisão de Davi Alcolumbre de não marcar nova reunião com o relator da proposta de anistia funciona, na prática, como um freio silencioso à tramitação do texto no Senado. Sem fazer declarações públicas duras, o senador exerce sua influência por meio do controle da agenda e adia indefinidamente qualquer avanço concreto da matéria.

Esse movimento revela não apenas o peso político da proposta, mas também a dificuldade do Congresso em lidar com temas que envolvem autorregulação, punição de seus próprios membros e reações da opinião pública. No fim, o silêncio de Alcolumbre fala mais alto do que qualquer discurso.

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