Rede de atacarejo aciona Judiciário para impedir movimentação de papéis do antigo controlador francês por grupo em crise
A disputa societária envolvendo grandes conglomerados do varejo brasileiro e internacional ganhou um novo capítulo com o movimento jurídico da rede Assaí Atacadista, que ingressou com um pedido na Justiça solicitando o bloqueio de ações do Grupo Pão de Açúcar (GPA) ainda pertencentes ao Casino, conglomerado francês que passa por um processo de reestruturação financeira em seu país de origem. O caso escancara a crescente tensão entre os antigos sócios em meio a um cenário de transição societária e mudanças estratégicas no mercado varejista.
O pedido de bloqueio refere-se a ações que o Casino ainda detém no GPA, mesmo após uma série de desinvestimentos e da perda progressiva de controle sobre operações no Brasil. A Assaí, que foi originalmente uma divisão do GPA e se desmembrou para operar de forma independente na bolsa brasileira, entende que essas ações poderiam ser transferidas ou negociadas sem aviso prévio, o que afetaria diretamente a estrutura acionária e o equilíbrio de poder nas decisões corporativas.
A movimentação judicial ocorre em meio à situação crítica enfrentada pelo Casino, que há meses tenta reorganizar suas finanças diante de uma dívida bilionária na Europa. O grupo francês já vendeu diversos ativos internacionais para tentar estancar sua crise — incluindo operações no Brasil — e há receio de que as ações restantes no GPA sejam liquidadas de forma apressada, sem considerar os impactos para as empresas locais.
A Assaí, que vem apresentando forte crescimento nos últimos anos e consolidou-se como uma das maiores redes de atacarejo do país, vê na preservação da governança estável um fator essencial para garantir confiança dos investidores e continuidade das operações. Em nota técnica interna, a companhia teria manifestado preocupação com potenciais riscos jurídicos e financeiros caso as ações do GPA sob controle do Casino sejam negociadas em contextos que não respeitem os interesses das empresas brasileiras e seus acionistas.
Fontes próximas ao caso afirmam que o pedido de bloqueio não visa impedir uma eventual venda futura dos papéis, mas sim garantir que qualquer movimentação ocorra com transparência, supervisão legal e alinhamento aos acordos societários em vigor. A Assaí quer assegurar que o controle de ativos relevantes não seja transferido de maneira unilateral por um grupo estrangeiro pressionado por credores.
A disputa também envolve questões mais amplas de governança corporativa e de proteção a minoritários. Com capital aberto e ações negociadas na bolsa de valores, tanto o Assaí quanto o GPA têm responsabilidades regulatórias junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), o que torna qualquer movimentação acionária significativa um assunto sensível para o mercado. Qualquer sinal de instabilidade na estrutura de controle das empresas pode gerar volatilidade nos papéis e insegurança para investidores institucionais.
O GPA, que já foi a joia da coroa do varejo nacional, passou por diversas transformações nas últimas décadas, especialmente após a entrada do Casino como controlador majoritário. O relacionamento entre os grupos, no entanto, deteriorou-se ao longo do tempo, culminando em uma cisão que deu origem à independência do Assaí. A atual disputa judicial evidencia que, mesmo após a separação formal, os laços societários ainda remanescentes continuam gerando atritos e desconfianças.
O Casino, por sua vez, ainda não comentou publicamente sobre o pedido apresentado pela Assaí, mas analistas do setor afirmam que o grupo francês está sob pressão crescente para acelerar a venda de ativos e levantar recursos para honrar compromissos com credores europeus. A empresa francesa já alienou ativos importantes na Colômbia e em outras operações internacionais, e o Brasil segue sendo um ponto de atenção em seu processo de desmobilização.
Juristas especializados em direito empresarial afirmam que o pedido de bloqueio preventivo, como o formulado pela Assaí, pode ser acolhido pela Justiça caso se comprove risco de dano iminente ou quebra de cláusulas contratuais previamente acordadas entre as partes. A medida não é incomum em disputas envolvendo grandes grupos empresariais, especialmente quando há elementos transnacionais e a possibilidade de prejuízos a terceiros.
Para o setor varejista brasileiro, o caso representa mais um sinal de instabilidade entre gigantes que, no passado, atuavam sob o mesmo guarda-chuva corporativo. Com o crescimento acelerado do atacarejo e a ascensão de redes nacionais independentes, a antiga hierarquia do varejo está sendo redesenhada — e velhas alianças têm se tornado motivo de litígio.
A expectativa agora é que a Justiça analise com celeridade o pedido da Assaí, dada sua relevância para o mercado e para a governança das companhias envolvidas. Enquanto isso, investidores, analistas e demais stakeholders acompanham de perto os desdobramentos, atentos a qualquer sinal de mudança na estrutura de controle das empresas e seus impactos para o setor varejista nacional.
O desfecho desse processo poderá estabelecer um precedente relevante sobre a atuação de grupos estrangeiros em empresas brasileiras em contextos de crise financeira externa, além de ressaltar a importância de mecanismos de proteção jurídica e societária em economias integradas ao mercado global.