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Presidente brasileiro prepara reutilização de estratégias diplomáticas adotadas com governo anterior dos EUA para possível encontro com atual líder norte-americano

O cenário internacional está em constante transformação, e o presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, se movimenta nos bastidores para adaptar sua política externa à nova realidade política dos Estados Unidos. Com a volta de Donald Trump à presidência norte-americana, uma possível reunião entre os dois líderes ganha corpo nos círculos diplomáticos, e o Palácio do Planalto avalia repetir parte da abordagem utilizada no acordo anterior firmado com a gestão de Joe Biden, buscando preservar os interesses brasileiros e manter uma linha de diálogo funcional com Washington.

Fontes próximas ao Ministério das Relações Exteriores indicam que Lula estuda aproveitar pontos centrais da agenda que já havia sido construída durante a relação com a administração Biden — como cooperação ambiental, acordos comerciais setoriais e compromissos multilaterais — como base para um novo diálogo com Trump, ainda que com adaptações ao perfil e às prioridades do atual presidente dos Estados Unidos.

A proposta de “reciclagem diplomática” não significa mera repetição de fórmulas, mas sim a utilização de estruturas técnicas e propostas já amadurecidas como ponto de partida. A equipe do Itamaraty vê nisso uma maneira de evitar rupturas bruscas e garantir que avanços anteriores — mesmo que obtidos sob outra orientação ideológica em Washington — não sejam perdidos com a mudança de comando na Casa Branca.

Durante o governo Biden, o Brasil e os Estados Unidos mantiveram uma relação baseada em acordos de cooperação ambiental, combate às mudanças climáticas e parcerias comerciais em áreas de inovação, energias renováveis e saúde. Apesar das diferenças políticas entre os dois presidentes, os canais diplomáticos se mantiveram ativos, e uma série de memorandos e compromissos bilaterais foram assinados, inclusive com investimentos voltados à preservação da Amazônia e à transição energética.

Agora, com a retomada do governo Trump — que historicamente adotou uma postura mais cética em relação a questões climáticas e a fóruns multilaterais —, Lula e seus conselheiros diplomáticos buscam uma forma de manter abertas as portas do diálogo, evitando tensões desnecessárias e reforçando a posição do Brasil como um ator internacional pragmático e estratégico.

Segundo assessores do Planalto, o presidente brasileiro pretende apresentar a Trump uma agenda de interesses mútuos, com destaque para o agronegócio, investimentos em infraestrutura, segurança regional e acesso a mercados. A ideia é mostrar que, independentemente das visões ideológicas distintas, os dois países têm espaço para construir parcerias vantajosas.

Apesar da disposição para o diálogo, há cautela nos bastidores. A equipe de Lula está ciente de que o estilo político de Donald Trump exige preparação cuidadosa, especialmente em relação à comunicação e à construção de resultados objetivos. O governo brasileiro não deseja que a eventual reunião seja usada como palanque político ou que gere desgaste diplomático.

Além disso, os temas ambientais — que foram centrais nas tratativas com Biden — devem ser tratados de forma mais pragmática com Trump. A expectativa é que a nova gestão norte-americana adote uma abordagem menos intervencionista e priorize questões de comércio e soberania nacional, o que pode exigir do Brasil uma mudança de tom nos documentos e nas propostas a serem apresentadas.

Lula, por sua vez, pretende se posicionar como um chefe de Estado que dialoga com todas as grandes potências mundiais, mantendo uma postura de independência e defesa dos interesses nacionais. A ideia é aproveitar a experiência acumulada em mandatos anteriores e construir uma ponte com a atual administração dos EUA sem abrir mão de compromissos firmados com outros parceiros internacionais, como a União Europeia, China e países do Sul Global.

Nos bastidores do Itamaraty, técnicos trabalham na atualização de documentos e relatórios que foram preparados durante o governo Biden, adaptando os conteúdos às novas diretrizes de política externa dos Estados Unidos sob Trump. O objetivo é garantir que, caso o encontro entre os dois presidentes seja confirmado, a delegação brasileira tenha propostas concretas, técnicas e bem estruturadas para apresentar.

O setor empresarial também observa com atenção os movimentos em Brasília. Exportadores brasileiros esperam que uma reaproximação com os EUA leve à remoção de barreiras comerciais, abertura de novos mercados e facilitação de investimentos. Por outro lado, setores ligados à pauta ambiental e aos direitos humanos expressam preocupação com a possibilidade de o Brasil suavizar sua posição nessas áreas para se alinhar ao novo discurso da Casa Branca.

Do ponto de vista político, Lula também busca equilibrar a construção desse novo canal com Trump sem comprometer sua imagem junto à base progressista, que mantém duras críticas à figura do presidente norte-americano. A estratégia do Planalto, portanto, será manter a diplomacia em primeiro plano, evitando qualquer sinal de adesão automática à agenda dos Estados Unidos.

A reunião, se confirmada, poderá ocorrer dentro de um calendário mais amplo de encontros bilaterais e multilaterais, como cúpulas do G20, fóruns econômicos internacionais ou missões diplomáticas específicas. O governo brasileiro ainda avalia o melhor formato para essa aproximação, que poderá ser realizada tanto em solo neutro quanto em viagens oficiais de Estado.

A eventual “reciclagem” do acordo com Biden para servir de base ao novo diálogo com Trump representa uma tentativa do governo brasileiro de demonstrar continuidade institucional, mesmo diante de um cenário global instável. Para Lula, o importante é manter o Brasil no centro das discussões internacionais, defendendo seus interesses e se adaptando, com maturidade, às mudanças de ventos em Washington.

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