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Encontro entre líderes do Congresso é suspenso após tensões causadas por impasse em proposta de proteção parlamentar

Uma reunião que estava prevista entre dois importantes nomes do Congresso Nacional — o presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, Davi Alcolumbre, e o líder do governo no Congresso, senador Randolfe Rodrigues, substituindo interlocutores ligados ao deputado Hugo Motta, da Paraíba — foi cancelada em meio ao crescente desgaste provocado pelas recentes discussões em torno da chamada PEC da Blindagem. O episódio revela o clima de tensão institucional entre parlamentares e evidencia o grau de fratura dentro da base política no Legislativo, especialmente no tocante às propostas que tratam de foro privilegiado e imunidades parlamentares.

A Proposta de Emenda à Constituição conhecida como PEC da Blindagem havia sido articulada por setores do Legislativo com o objetivo de reforçar prerrogativas de parlamentares, especialmente em relação a investigações judiciais e medidas cautelares. O texto gerou polêmica ao ser interpretado, por críticos, como um instrumento que dificultaria ações da Justiça contra membros do Congresso, podendo resultar em uma espécie de escudo jurídico para parlamentares envolvidos em denúncias ou inquéritos.

A proposta causou forte repercussão negativa entre a opinião pública, juristas, entidades da sociedade civil e até dentro de alas do próprio Congresso, que consideraram a medida inoportuna e desalinhada com os princípios da transparência e da moralidade administrativa. O desgaste gerado pela repercussão fez com que diversos líderes políticos recuassem de seu apoio explícito à proposta, e o próprio governo passou a adotar uma postura mais cautelosa em relação ao tema.

Nesse contexto, a reunião entre Hugo Motta — figura influente da Câmara dos Deputados e integrante de partidos que defendem o fortalecimento das prerrogativas parlamentares — e Davi Alcolumbre, que comanda a mais estratégica comissão do Senado, foi adiada de forma indefinida. Segundo fontes do Congresso, o cancelamento foi motivado não apenas pela divergência de opiniões sobre a PEC, mas também por tensões acumuladas ao longo das últimas semanas entre os dois campos políticos.

A suspensão do encontro é simbólica por representar um freio no diálogo entre líderes que vinham, até então, construindo articulações conjuntas em torno de pautas legislativas. Nos bastidores, a leitura é de que o embate em torno da PEC da Blindagem provocou rachaduras na base do centrão e nos grupos governistas, enfraquecendo o clima de conciliação que se buscava preservar no Senado e na Câmara.

A proposta, que pretendia submeter decisões judiciais contra parlamentares a aprovação prévia das Casas Legislativas — inclusive em fases preliminares de investigação —, foi interpretada por críticos como um retrocesso no combate à corrupção e um obstáculo ao funcionamento independente do Poder Judiciário. Embora tenha defensores que alegam ser uma medida de proteção institucional e de garantia de equilíbrio entre os poderes, o texto acabou sendo rejeitado em votações preliminares e teve sua tramitação interrompida no Senado.

Além disso, o próprio presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e lideranças de partidos independentes passaram a se posicionar contra o avanço da matéria, reforçando que o Parlamento deve buscar o fortalecimento de sua credibilidade perante a sociedade, e não o distanciamento das demandas por ética e transparência. O recuo desses atores políticos acabou isolando os principais articuladores da proposta, entre eles Hugo Motta, que passou a adotar postura mais discreta publicamente.

Davi Alcolumbre, por sua vez, tem buscado preservar sua imagem de articulador moderado e institucional. Embora tenha proximidade com figuras do centrão e mantenha influência nos bastidores do Senado, o senador preferiu evitar o desgaste político que poderia vir de uma associação direta com uma proposta que perdeu apoio popular e político rapidamente. O adiamento da reunião com Hugo — ou com interlocutores ligados ao deputado — é visto como um gesto calculado para manter distanciamento estratégico do tema no atual momento.

Enquanto isso, lideranças governistas atuam para reduzir os danos à articulação no Congresso. A preocupação é que a crise envolvendo a PEC da Blindagem afete outras pautas prioritárias do governo federal, como projetos econômicos, medidas fiscais e propostas de interesse social que dependem da sintonia entre Câmara e Senado. O cancelamento da reunião, portanto, é mais do que uma decisão pontual — ele se insere em um cenário mais amplo de recalibragem política dentro do Legislativo.

A suspensão do encontro evidencia também o enfraquecimento da chamada “agenda corporativa” que costuma emergir de tempos em tempos no Congresso, quando parte dos parlamentares tenta emplacar medidas voltadas à autoproteção institucional. Em contextos de alta vigilância social, com pressão da opinião pública e do Ministério Público, tais propostas tendem a perder tração rapidamente, como ocorreu com a PEC da Blindagem.

O episódio ainda pode ter reflexos nas relações entre Câmara e Senado. Nos últimos meses, aumentaram os ruídos entre as duas Casas, com divergências sobre prioridades legislativas, ritmos de tramitação e distribuição de poder interno. A tentativa de articulação conjunta em torno da PEC foi uma das poucas convergências recentes — e mesmo ela terminou em conflito.

A tendência, agora, é que as lideranças foquem na construção de consensos em torno de projetos menos polêmicos e mais sintonizados com as demandas da sociedade. A imagem do Congresso, já fragilizada por escândalos passados e por baixa confiança da população, exige cautela nas agendas adotadas pelos parlamentares. A expectativa é que a PEC da Blindagem seja retirada definitivamente do debate no curto prazo, dando lugar a pautas de maior apelo social.

O cancelamento da reunião entre Hugo e Alcolumbre, portanto, não é apenas mais uma mudança de agenda. Ele simboliza o recuo de uma articulação que perdeu o apoio necessário para prosperar — e que deixou como saldo um desgaste significativo entre lideranças que até então caminhavam em sintonia.

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