O Centrão vira as costas a Bolsonaro: da promessa da anistia à aposta na PEC do Roubo
Nos bastidores de Brasília, mais uma reviravolta expôs a fragilidade da relação entre Jair Bolsonaro e o Centrão, bloco político conhecido pela habilidade de medir forças e trocar apoios conforme a conveniência. Se até pouco tempo o ex-presidente confiava no respaldo desse grupo para avançar com a agenda da anistia, agora assiste à movimentação de aliados históricos em direção a outra pauta: a chamada “PEC do Roubo”. O episódio ampliou tensões, trouxe reflexos imediatos no Congresso e abriu debates nas ruas e nas redes sociais, onde o tema ganhou força e dividiu opiniões.
A troca de rota do Centrão
O Centrão nunca escondeu sua lógica pragmática: estar sempre ao lado de quem oferece mais espaço, recursos e sobrevivência política. Nos últimos meses, Bolsonaro investiu pesado para manter o apoio do grupo, apostando na promessa de anistia como bandeira de união. Mas, com o avanço da “PEC do Roubo” — proposta que amplia brechas para o uso de recursos públicos e flexibiliza punições —, parte expressiva da base migrou de foco, deixando o ex-presidente em situação delicada.
A mudança é vista como traição entre bolsonaristas mais fiéis, que acusam o grupo de abandonar compromissos em troca de benefícios imediatos. A narrativa do “abandono” rapidamente se espalhou pelas redes sociais, alimentando discursos inflamados de líderes e militantes.
Reações no Congresso e no Senado
No Congresso, o movimento foi interpretado como mais um capítulo da disputa de poder. Deputados do Centrão defendem que a “PEC do Roubo” atende a demandas históricas da classe política e que não pode ser simplesmente ignorada. No Senado, a postura é de cautela: há quem veja a proposta como um retrocesso perigoso, capaz de desgastar ainda mais a imagem do Legislativo diante da sociedade.
Senadores próximos ao governo atual aproveitaram o cenário para enfraquecer Bolsonaro, ressaltando que sua influência no bloco já não é a mesma de outrora. O recado é claro: sem base sólida, o ex-presidente tem cada vez menos instrumentos para interferir diretamente nas articulações que moldam o futuro político do país.
A leitura das ruas e a pressão popular
Se dentro do Congresso a discussão gira em torno de negociações e cálculos eleitorais, nas ruas o clima é outro. Movimentos sociais, entidades de classe e lideranças civis vêm se manifestando contra o que chamam de “normalização da corrupção”. Para eles, a PEC representa uma licença para práticas que deveriam ser combatidas, e não legitimadas.
A pressão popular, embora fragmentada, cresce em intensidade. Há atos sendo organizados em capitais e um aumento da mobilização digital contra parlamentares que apoiam a proposta. Esse movimento coloca o Centrão numa encruzilhada: de um lado, a conveniência de garantir benefícios imediatos; de outro, o risco de enfrentar forte desgaste em ano pré-eleitoral.
O “fungo” da política e a desilusão bolsonarista
Entre apoiadores de Bolsonaro, a sensação é de que o Centrão se transformou em um “fungo” da política: prolifera-se rapidamente, contamina alianças e deixa marcas difíceis de remover. A metáfora, que vem sendo usada em discursos de base, traduz o sentimento de frustração diante do afastamento de aliados que até pouco tempo eram tratados como peças-chave para a sobrevivência política do ex-presidente.
Para muitos analistas, esse episódio marca um ponto de virada. Bolsonaro, que sempre contou com a força das ruas para compensar fragilidades no parlamento, agora vê sua base fragmentada e a narrativa da traição corroendo sua capacidade de articulação.
Conclusão
A troca da anistia pela “PEC do Roubo” escancara como o Centrão segue sendo um ator implacável no jogo político, movido por pragmatismo e autossobrevivência. Para Bolsonaro, o episódio não apenas representa uma derrota estratégica, mas também coloca em xeque sua influência futura. Já para o país, o debate reforça o desafio permanente de equilibrar as necessidades da governabilidade com o imperativo da ética e da transparência.