Diante de cenário econômico instável, manter Selic em 15% colocará Banco Central sob forte dilema, avalia FecomercioSP
A possibilidade de o Banco Central manter a taxa básica de juros, a Selic, no patamar de 15% nas próximas reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) é vista com preocupação e cautela por setores do comércio e dos serviços. Para a Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP), essa decisão — caso confirmada — representará um dos maiores dilemas recentes da autoridade monetária brasileira.
A avaliação da entidade aponta que a manutenção de juros elevados, em um contexto de desaceleração econômica e inflação ainda relativamente controlada, pode comprometer a recuperação do consumo, sufocar a atividade produtiva e aumentar o custo do crédito de forma insustentável, principalmente para as pequenas e médias empresas.
Inflação sob controle, mas incertezas persistem
A economia brasileira vem apresentando sinais ambíguos nos últimos meses. De um lado, os índices de inflação têm mostrado comportamento mais estável, com alguns recuos nos preços de alimentos e combustíveis. De outro, há pressões constantes vindas de fatores externos — como a volatilidade dos mercados globais, a desaceleração da economia chinesa e o comportamento dos juros nos Estados Unidos — que alimentam a cautela do Banco Central.
Mesmo com a inflação dentro da meta, o BC tem indicado preocupação com a chamada “inflação de serviços”, considerada mais resiliente e difícil de controlar. Esse fator tem servido como argumento para manter a Selic em patamar elevado, sob o risco de não cumprir os objetivos de médio prazo da política monetária.
FecomercioSP vê impacto direto sobre consumo e crédito
Na visão da FecomercioSP, a manutenção dos juros em 15% impacta diretamente o cotidiano de consumidores e empresas. A taxa elevada encarece o crédito, desestimula o consumo das famílias e torna mais difícil o investimento por parte do setor produtivo. Com isso, há uma desaceleração no giro da economia, que afeta negativamente a arrecadação, o emprego e a confiança empresarial.
Segundo a entidade, o varejo e os serviços — que representam mais de 70% do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro — são particularmente vulneráveis a esse ambiente de juros altos. As pequenas empresas, que têm menos acesso a fontes alternativas de financiamento, acabam sendo as mais penalizadas. Além disso, o consumidor médio brasileiro, que ainda se recupera dos efeitos econômicos da pandemia e da inflação acumulada nos últimos anos, vê seu poder de compra reduzido e adia decisões importantes de consumo.
Banco Central pressionado por todos os lados
O Banco Central enfrenta atualmente uma confluência de pressões. Por um lado, há a pressão do mercado financeiro, que exige firmeza na condução da política monetária para manter a previsibilidade e o controle da inflação. Por outro, o governo federal e setores da economia — como a própria FecomercioSP — pedem maior sensibilidade social e foco na retomada do crescimento.
A autonomia do Banco Central garante que suas decisões não sejam subordinadas ao Executivo, mas isso não o isenta de críticas e cobranças públicas. A entidade presidida por Roberto Campos Neto tem sido alvo constante de questionamentos, especialmente por manter os juros em patamares elevados mesmo diante de um cenário fiscal relativamente mais controlado nos últimos trimestres.
A difícil equação entre inflação, crescimento e confiança
A decisão de manter ou reduzir a Selic envolve uma equação complexa: controlar a inflação sem travar a economia. Com uma Selic a 15%, o Brasil figura entre os países com juros reais mais altos do mundo, o que, por um lado, atrai capital estrangeiro e valoriza a moeda nacional, mas, por outro, compromete o consumo interno e dificulta a atividade empresarial.
Para a FecomercioSP, é necessário que o Banco Central considere, de forma mais ampla, os impactos econômicos e sociais da taxa básica de juros. Embora o controle da inflação seja crucial, a entidade defende uma abordagem que leve em conta o crescimento sustentável e a manutenção do emprego. O risco, segundo a federação, é que a política monetária se torne excessivamente restritiva, num momento em que a economia ainda não retomou plenamente seu ritmo de crescimento.
Cenário para os próximos meses: tensão e expectativa
O mercado financeiro já precifica a possibilidade de manutenção da Selic no atual patamar, ou até mesmo de aumentos marginais, caso os indicadores não mostrem melhora consistente. No entanto, a sinalização futura do Copom será determinante para orientar os agentes econômicos e definir os rumos do último trimestre de 2025.
A FecomercioSP alerta que, se a taxa permanecer elevada por mais tempo do que o necessário, o Brasil poderá perder um ciclo importante de recuperação econômica. O consumo das famílias, que historicamente é um dos principais motores do crescimento nacional, tende a seguir reprimido, o que dificulta não apenas o avanço do PIB, mas também o equilíbrio das contas públicas via arrecadação.
Conclusão
A decisão de manter a Selic em 15% é reconhecidamente técnica, mas terá efeitos profundos e práticos na vida do brasileiro médio e no funcionamento das empresas, sobretudo aquelas que atuam no comércio e nos serviços. A avaliação da FecomercioSP reflete a crescente insatisfação de setores produtivos com uma política monetária considerada excessivamente rígida.
O Banco Central se vê diante de um impasse: seguir com a cautela que o mercado exige ou responder às demandas da economia real, que pede alívio para retomar o crescimento. Qualquer que seja a decisão, o momento exigirá equilíbrio, responsabilidade e comunicação clara com a sociedade. Afinal, o desafio não é apenas conter a inflação, mas garantir que o país volte a crescer de forma estável e inclusiva.