Projeção para economia brasileira em 2025 é cortada pela Fitch, sinalizando cautela com cenário doméstico
A agência de classificação de risco Fitch Ratings revisou para baixo sua projeção de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil para o ano de 2025, refletindo um conjunto de fatores que indicam perda de ritmo na economia nacional. A decisão, divulgada em novo relatório econômico da instituição, é atribuída principalmente ao enfraquecimento da demanda interna, aos entraves fiscais persistentes e ao ambiente externo ainda incerto para economias emergentes.
A nova estimativa mostra que a Fitch enxerga com maior preocupação os desafios estruturais do país no médio prazo, mesmo diante de esforços recentes para garantir estabilidade macroeconômica. A revisão representa um sinal de alerta para o governo federal, que tem buscado manter uma agenda de reformas e preservar o equilíbrio fiscal, mas enfrenta obstáculos políticos e limitações orçamentárias.
Nova estimativa e os motivos para o corte
A previsão anterior da agência apontava para um crescimento mais robusto, na casa de 2,2% para 2025. Com a revisão, a expectativa passou a ser de uma expansão mais modesta, próxima de 1,8%. Embora o número ainda represente crescimento, o corte sinaliza uma percepção mais cautelosa sobre a capacidade de aceleração da atividade econômica brasileira no curto e médio prazo.
Entre os fatores que motivaram a redução da projeção, a Fitch destaca:
- Fragilidade na confiança do setor privado, o que tem freado investimentos produtivos;
- Endividamento elevado do setor público, com espaço fiscal reduzido para estímulos;
- Juros reais ainda altos, que restringem o consumo e o crédito;
- Desaceleração do mercado de trabalho, que impacta o poder de compra das famílias;
- Riscos externos, como a volatilidade dos preços de commodities, tensões geopolíticas e incertezas nas políticas monetárias de países desenvolvidos.
Segundo a agência, a economia brasileira deverá crescer, mas em ritmo inferior ao potencial, caso medidas estruturantes não avancem com mais intensidade.
Contexto fiscal e política monetária como entraves
A política fiscal segue sendo um dos principais pontos de atenção para a Fitch. A agência observa que o esforço do governo em aprovar o novo arcabouço fiscal e implementar medidas de arrecadação enfrenta resistência no Congresso, o que compromete o cumprimento das metas estabelecidas para o resultado primário.
A dívida pública continua em trajetória ascendente, e há preocupação com a sustentabilidade das contas públicas nos próximos anos. Esse cenário limita a capacidade do governo de promover investimentos diretos ou ampliar gastos sociais sem comprometer a credibilidade fiscal, algo que os mercados observam com atenção.
No campo da política monetária, embora o Banco Central tenha iniciado um processo de redução da taxa básica de juros, o ritmo ainda é considerado conservador. A Selic permanece em níveis elevados para os padrões internacionais, o que impacta o custo do crédito, desestimula o consumo e impõe dificuldades a pequenos e médios empresários.
Para a Fitch, enquanto o ambiente fiscal e monetário não for mais favorável, será difícil para o Brasil destravar o crescimento necessário para sustentar avanços sociais e competitividade internacional.
Ambiente político e reformas em compasso lento
Outro elemento importante citado pela Fitch é o ambiente político, considerado volátil e pouco previsível. A agência aponta que a fragmentação do Congresso e os constantes embates entre o Executivo e o Legislativo dificultam a aprovação de reformas estruturais, como a administrativa e a tributária — esta última, embora aprovada em parte, ainda carece de regulamentações e ajustes técnicos que podem atrasar seus efeitos práticos.
A instabilidade política também afeta a percepção de risco dos investidores, especialmente os estrangeiros, que avaliam o Brasil como um destino promissor, mas ainda marcado por incertezas institucionais e dificuldade de implementação de políticas de longo prazo.
Comparações com outras economias emergentes
Em seu relatório, a Fitch compara o desempenho esperado do Brasil com o de outras economias emergentes. Países como Índia, Indonésia e México apresentam projeções de crescimento mais elevadas, impulsionados por reformas estruturais mais agressivas, ambientes fiscais mais equilibrados ou ganhos em produtividade.
O Brasil, por sua vez, continua altamente dependente de fatores cíclicos e do desempenho do setor de commodities, como petróleo, minério de ferro e produtos agropecuários. Quando esses mercados enfrentam desaceleração ou volatilidade, os efeitos se propagam rapidamente pela economia brasileira, pressionando contas externas e afetando a arrecadação pública.
Mercado reage com moderação; governo evita alarmismo
A reação do mercado à revisão da Fitch foi de relativa moderação. Analistas já esperavam uma desaceleração leve no ritmo de crescimento após um desempenho mais forte em 2023 e 2024, impulsionado por safras agrícolas recordes e pela recuperação pós-pandemia. A nova previsão da agência apenas confirma a expectativa de que 2025 será um ano mais desafiador.
Representantes do governo, por sua vez, minimizaram o impacto do corte na projeção e reforçaram que as reformas seguem em curso, apesar das dificuldades políticas. Autoridades do Ministério da Fazenda afirmam que o foco permanece na consolidação fiscal e no estímulo a investimentos em infraestrutura, inovação e economia verde — áreas consideradas estratégicas para destravar o crescimento nos próximos anos.
Conclusão
A decisão da Fitch de revisar para baixo a projeção de crescimento do PIB brasileiro em 2025 reflete uma avaliação mais cautelosa do cenário econômico nacional. Embora o país siga crescendo, a agência vê limitações importantes para uma expansão mais vigorosa, diante de entraves fiscais, juros elevados, incertezas políticas e um ambiente externo ainda desafiador.
O recado implícito é claro: sem avanço decisivo em reformas, melhora no ambiente de negócios e maior previsibilidade institucional, o Brasil continuará operando abaixo de seu potencial. Para mudar esse quadro, será necessário um esforço coordenado entre governo, Congresso, setor privado e sociedade, com foco em produtividade, eficiência e estabilidade de longo prazo.