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Aliados de Bolsonaro depositam expectativas em Fux para tentar minimizar consequências jurídicas

Em meio à intensificação dos julgamentos no Supremo Tribunal Federal (STF) envolvendo réus acusados de participação nos atos antidemocráticos de 8 de janeiro, aliados políticos e jurídicos do ex-presidente Jair Bolsonaro têm voltado seus olhos para uma figura estratégica dentro da Corte: o ministro Luiz Fux. Nos bastidores, a aposta entre setores ligados ao bolsonarismo é de que Fux poderia adotar uma postura mais cautelosa ou, ao menos, menos rigorosa do que a maioria dos integrantes do tribunal, oferecendo alguma margem para suavizar as consequências judiciais enfrentadas por acusados próximos ao núcleo bolsonarista.

A movimentação é discreta, mas contínua. Assessores jurídicos, parlamentares e interlocutores de Bolsonaro têm mantido articulações e monitorado com atenção cada voto proferido por Fux nos casos relacionados ao 8 de janeiro e a outros processos derivados das investigações sobre a tentativa de golpe. A esperança de parte desse grupo é que Fux adote posições que possam atenuar as penas ou reconfigurar juridicamente o enquadramento de certos crimes, especialmente em casos que envolvem militares, ex-assessores e apoiadores civis do ex-presidente.

Um Supremo mais coeso, mas com nuances

O Supremo Tribunal Federal tem dado respostas duras e rápidas aos ataques à democracia ocorridos em Brasília, com uma maioria sólida a favor de punições exemplares. No entanto, os votos proferidos até agora também evidenciaram diferenças de ênfase e abordagem entre os ministros. Luiz Fux, conhecido por sua postura técnica e sua formação jurídica sólida, tem se destacado por adotar uma linha de argumentação mais formalista, às vezes menos dura na forma do que a adotada por ministros como Alexandre de Moraes ou Cármen Lúcia.

Embora Fux não tenha, até o momento, se colocado como uma voz dissonante nos fundamentos principais dos julgamentos, há expectativa de que ele possa buscar o equilíbrio em casos específicos, sugerindo penas menores ou relativizando a gravidade de determinadas condutas, principalmente quando envolverem réus que não atuaram diretamente na depredação ou na tentativa de invasão de poderes.

Essa possibilidade vem sendo interpretada por bolsonaristas como uma oportunidade de buscar “brechas jurídicas” dentro de uma Corte que, em sua maioria, tem sido firme na defesa intransigente da democracia e da responsabilização dos envolvidos.

Fux: perfil técnico e previsível, mas atento ao contexto

Ministro do STF desde 2011 e ex-presidente da Corte, Luiz Fux construiu uma imagem de jurista equilibrado e comprometido com a Constituição. É visto como alguém que preza pela previsibilidade jurídica e pela institucionalidade, o que o afasta de decisões de caráter puramente político ou emocional. Esse perfil, no entanto, é justamente o que alimenta a esperança dos aliados de Bolsonaro: a ideia de que Fux possa atuar como um ponto de moderação em meio a votos mais punitivos.

Na presidência do STF (2020–2022), Fux ficou marcado por defender a harmonia entre os poderes e a pacificação institucional. Durante o conturbado último ano do governo Bolsonaro, quando o Judiciário passou a ser alvo constante de ataques, Fux ainda tentava manter pontes de diálogo, mesmo que essas pontes tenham se rompido definitivamente após a escalada retórica e a radicalização de setores bolsonaristas.

Esse histórico, porém, não implica que Fux irá tomar decisões com base em afinidades políticas ou em busca de conciliação a qualquer custo. Pelo contrário, o ministro tem reforçado em suas manifestações a importância da preservação da ordem democrática e da responsabilização conforme os limites constitucionais.

Tentativas de aproximação nos bastidores

Nos bastidores do Congresso e em círculos próximos ao ex-presidente Bolsonaro, há quem defenda estratégias discretas de aproximação com ministros considerados menos punitivistas. Fux é um dos nomes mais citados nessas conversas reservadas. As tentativas envolvem, por exemplo, apoio de parlamentares próximos ao ministro em pautas jurídicas, manifestações públicas de apreço à sua trajetória e até sinalizações indiretas sobre temas de interesse do Judiciário.

A lógica por trás dessas movimentações é a de que qualquer voto que traga um olhar mais ponderado — ainda que sem absolver réus ou contrariar diretamente a maioria — pode servir como argumento para recursos futuros ou mesmo para reforçar teses de defesa nas instâncias inferiores.

Contudo, especialistas alertam que tais articulações têm alcance limitado e raramente influenciam ministros da Suprema Corte, especialmente em temas com implicações tão graves para a institucionalidade do país.

Reações e leitura institucional do STF

Dentro do Supremo, a posição de Fux é lida com respeito, mas não como um fator de desequilíbrio da maioria. A tendência geral é de que os ministros continuem firmes em seus votos, com variações pontuais no entendimento sobre penas ou enquadramentos legais. O que se observa é uma coesão crescente no entendimento de que os atos de 8 de janeiro configuraram um ataque direto às bases democráticas, e que qualquer sinal de complacência judicial representaria um retrocesso institucional.

Vozes internas apontam que Fux tem mantido sua independência e não cede a pressões políticas. Ao mesmo tempo, sua atuação é vista como importante para garantir que os julgamentos ocorram dentro do mais estrito respeito ao devido processo legal, sem atropelos nem excessos — um equilíbrio fundamental para manter a legitimidade da Corte diante da sociedade.

A estratégia bolsonarista e os seus limites

A aposta dos bolsonaristas em Fux como um “freio” possível para a dureza das condenações reflete não apenas a leitura sobre o perfil do ministro, mas também uma tentativa de encontrar espaço dentro de um ambiente institucional que tem se mostrado implacável com os réus.

No entanto, analistas jurídicos e políticos avaliam que essa estratégia tem poucas chances de produzir os efeitos esperados. Fux, embora seja menos midiático em seus votos e evite discursos inflamados, dificilmente será um voto fora do eixo central da Corte em julgamentos relacionados a ataques à democracia.

As esperanças, portanto, se apoiam mais na retórica política do que em sinais concretos de que o ministro esteja disposto a rever posições que possam enfraquecer o rigor do STF nesse momento.

Conclusão

A movimentação de aliados de Jair Bolsonaro em torno de Luiz Fux evidencia a busca, cada vez mais intensa, por saídas jurídicas que amenizem os impactos das decisões do STF sobre os envolvidos nos ataques antidemocráticos. No entanto, a estrutura institucional do Supremo, o compromisso histórico do ministro com a ordem constitucional e a solidez da maioria formada na Corte sugerem que essa aposta tem mais valor simbólico do que prático.

Fux deve continuar sendo um voto técnico, respeitoso ao processo e à Constituição, mas não há sinais concretos de que esteja disposto a servir como escudo para grupos políticos em busca de anistia ou de abrandamento de sentenças. Nesse cenário, a expectativa bolsonarista encontra seus próprios limites: o da legalidade intransigente que hoje domina o Judiciário brasileiro.

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