Economia

Nordeste sente o maior baque nas exportações para os EUA após tarifa de 50%

O cenário nacional de agosto

O mês de agosto de 2025 registrou uma mudança brusca no desempenho do comércio exterior brasileiro. Embora o saldo da balança comercial tenha sido positivo, com superávit acima dos US$ 6 bilhões, as vendas para os Estados Unidos sofreram uma queda abrupta de 18,5%. Esse recuo foi consequência direta da tarifa de 50% imposta pelo governo norte-americano sobre produtos brasileiros, medida que entrou em vigor no início do mês.

Além da alta tarifária, houve um efeito de antecipação: muitas empresas exportaram em julho volumes maiores do que o habitual para fugir da nova cobrança. Essa combinação resultou em um encolhimento expressivo dos embarques em agosto, com repercussões mais severas em algumas regiões do país.

Nordeste como epicentro da perda

Entre todas as regiões brasileiras, o Nordeste foi a que mais sentiu o impacto do tarifaço. A estimativa da Sudene aponta que as perdas podem alcançar até R$ 16 bilhões anuais, concentradas especialmente em três estados: Ceará, Bahia e Maranhão. Juntos, eles representam mais de 80% das exportações nordestinas destinadas ao mercado norte-americano.

Outro estudo, da Confederação Nacional da Indústria, calculou que os prejuízos podem somar quase R$ 1,5 bilhão somente nos oito estados do Nordeste. A Bahia aparece como a mais afetada, com mais de R$ 400 milhões em perdas estimadas, seguida por Pernambuco, Ceará e Alagoas. Estados de menor peso exportador, como Piauí e Sergipe, também entram na lista, mas com valores menores.

Impactos sociais e no emprego

As perdas financeiras não se limitam às contas públicas ou aos balanços de grandes empresas. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos estima que mais de 43 mil empregos podem ser comprometidos na região nordestina em função do novo cenário. A lista de atividades mais prejudicadas inclui a fruticultura, os setores de carnes, calçados e a indústria metalúrgica.

Em muitos municípios, especialmente os de vocação agrícola, a exportação para os EUA é uma das principais fontes de renda. Por isso, o impacto social tende a ser mais forte justamente nas localidades com maior vulnerabilidade econômica.

O caso emblemático do Ceará

No Ceará, o choque foi imediato e visível. As exportações de castanha de caju, um dos produtos símbolo da agroindústria local, despencaram mais de 95% em agosto. O estado vendeu pouco mais de US$ 78 mil do produto para os EUA, contra quase US$ 1,7 milhão no mesmo período do ano anterior. Em volume, a queda foi igualmente dramática: de 262 mil toneladas para apenas 25,4 toneladas.

Além da castanha, outro ponto sensível é a indústria do aço, fortemente presente no estado. Mais de 90% dos produtos exportados pelo Ceará para os Estados Unidos estão agora sujeitos à tarifa de 50%, o que torna a competitividade internacional praticamente inviável.

A vulnerabilidade estrutural do Nordeste

O que torna a região tão exposta ao impacto do tarifaço é a sua forte dependência do mercado americano. Em alguns estados, os Estados Unidos respondiam por até metade das exportações totais. Além disso, boa parte dos produtos vendidos são de baixo valor agregado, como commodities agrícolas e minerais, que têm margens de lucro reduzidas e não suportam aumentos expressivos de custos gerados por tarifas.

Essa vulnerabilidade estrutural torna mais difícil a busca de alternativas rápidas, como a diversificação de destinos ou a mudança no perfil da pauta exportadora.

Perspectivas e alternativas

Diante do quadro, governos estaduais e lideranças empresariais vêm tentando pressionar por negociações diplomáticas que possam atenuar os efeitos da medida norte-americana. Também se discute a necessidade de ampliar o acesso a outros mercados, como a União Europeia e países da Ásia, além de estimular cadeias produtivas voltadas ao consumo interno.

No entanto, tais estratégias exigem tempo e investimentos, o que significa que os efeitos negativos do tarifaço devem continuar a ser sentidos no curto prazo. Para os estados nordestinos, que já enfrentam desafios históricos em termos de infraestrutura e competitividade, a nova realidade comercial representa um obstáculo ainda maior ao desenvolvimento econômico.

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