Politica

Aliados atribuem defesa de perdão político à fidelidade de Tarcísio ao ex-presidente Bolsonaro

A recente movimentação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, em defesa de uma possível anistia para apoiadores e aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro que enfrentam processos judiciais, vem sendo interpretada por pessoas próximas como um gesto de lealdade política. A posição adotada pelo governador, segundo interlocutores do seu entorno, não se baseia apenas em uma análise jurídica ou institucional, mas em um compromisso pessoal e político com a base que o elegeu e, especialmente, com o ex-presidente que o impulsionou nacionalmente.

Tarcísio, que durante o governo Bolsonaro ocupou o cargo de ministro da Infraestrutura, tem procurado manter um delicado equilíbrio entre o papel de gestor de um dos estados mais relevantes do país e a preservação dos laços com o campo político que o projetou. Nos bastidores, aliados afirmam que a defesa da anistia tem peso simbólico e estratégico, funcionando como uma demonstração de gratidão e fidelidade à figura de Bolsonaro, cuja popularidade ainda é alta em segmentos significativos do eleitorado paulista e nacional.

Esse posicionamento, no entanto, não é isento de riscos. Tarcísio tem sido visto por setores da direita como uma das principais lideranças capazes de suceder Bolsonaro no futuro, justamente por sua postura mais técnica, pragmática e institucional. Ao abraçar a causa da anistia, especialmente para investigados e condenados por envolvimento nos eventos de 8 de janeiro de 2023 e outras ações que desafiaram a ordem democrática, o governador se alinha ainda mais ao núcleo duro do bolsonarismo, mas ao mesmo tempo pode ampliar resistências em setores mais moderados e na opinião pública mais ampla.

De acordo com fontes próximas ao governador, a defesa do perdão jurídico se insere dentro de uma estratégia mais ampla de “pacificação nacional”, mas com um recorte muito específico: aliviar a situação de militares, servidores, manifestantes e ex-integrantes do governo Bolsonaro que hoje enfrentam sanções ou processos sob acusações relacionadas a tentativas de ruptura institucional. A proposta, nesse sentido, seria menos um gesto legal e mais uma declaração política — um sinal claro de que Tarcísio não pretende se distanciar de sua origem política, mesmo ocupando uma cadeira de grande visibilidade institucional.

A fidelidade demonstrada a Bolsonaro é interpretada por aliados como um traço de caráter e também de cálculo político. Em um cenário em que a direita brasileira busca reorganização após o fim do governo anterior e diante dos obstáculos legais enfrentados por Bolsonaro, nomes como Tarcísio ganham destaque como potenciais herdeiros do capital político bolsonarista. A lealdade, nesse contexto, não é apenas moral — é estratégica.

Apesar das controvérsias, o discurso de anistia encontra ressonância em parcelas significativas do eleitorado conservador, que enxergam nas investigações e condenações de aliados do ex-presidente um suposto excesso ou seletividade do sistema de justiça. Tarcísio, ao defender o perdão, reforça esse sentimento de solidariedade com a base, sem necessariamente romper com o discurso institucional. Em suas declarações públicas, tem evitado ataques diretos ao Judiciário, preferindo a linguagem do “reencontro nacional” e da “reconciliação”.

Essa postura, cuidadosamente calibrada, permite a ele dialogar tanto com os setores mais radicais do bolsonarismo quanto com segmentos empresariais e políticos que valorizam sua atuação como gestor. A dualidade entre fidelidade e moderação tem sido uma das marcas do estilo político que Tarcísio vem construindo desde que assumiu o governo paulista.

A proposta de anistia, contudo, ainda carece de contornos concretos. Nos bastidores de Brasília, fala-se na possibilidade de articulações no Congresso para apresentar projetos que contemplem diferentes perfis de envolvidos nos processos em curso. Mas qualquer avanço dependerá de intensa negociação política e enfrentará forte resistência de alas mais comprometidas com a responsabilização plena pelos atos que atentaram contra as instituições democráticas.

Analistas políticos avaliam que, ao defender a anistia, Tarcísio fortalece sua imagem junto ao eleitorado que ainda se identifica com o legado de Bolsonaro, mas que deseja uma liderança mais previsível e menos conflitiva. Ao mesmo tempo, ele se distancia de uma postura neutra, assumindo, ainda que de forma mais institucionalizada, o papel de continuador político do ex-presidente.

Em São Paulo, a estratégia tem até aqui surtido efeito. Tarcísio mantém altos índices de aprovação, é bem avaliado por sua gestão técnica e tem conseguido navegar entre as pressões de uma oposição ativa e os anseios de uma base fiel. Contudo, o debate sobre anistia pode se tornar um divisor de águas: se por um lado reforça sua identidade política, por outro pode despertar maior escrutínio de atores institucionais e da opinião pública mais ampla.

O gesto, lido como fidelidade a Bolsonaro, não é apenas um aceno de solidariedade — é, sobretudo, um movimento que o reposiciona no xadrez da sucessão presidencial, onde sua figura ganha cada vez mais espaço como uma alternativa viável, palatável e estrategicamente inteligente para a direita brasileira em um cenário pós-Bolsonaro.

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