Felipe Salto critica proposta do centrão para o Banco Central: “Oportunista e arriscada”
O economista Felipe Salto, ex-secretário de Fazenda de São Paulo e atual diretor executivo da Warren Investimentos, fez duras críticas à proposta apresentada pelo centrão de alterar regras relacionadas ao comando do Banco Central (BC). Para ele, a iniciativa é “oportunista e arriscada”, pois fragiliza a credibilidade da instituição em um momento de incertezas internas e externas na economia brasileira.
O que está em debate
A proposta ventilada por líderes do centrão prevê mudanças na lei de autonomia do BC, que hoje estabelece mandatos fixos para o presidente e diretores da instituição, blindando-os de interferências políticas diretas. Entre as ideias em circulação, estão a redução da duração dos mandatos e a possibilidade de maior influência do Congresso na escolha dos dirigentes.
Salto considera que essa movimentação tem caráter político-eleitoral. Segundo ele, grupos no Legislativo buscam ampliar poder sobre a política monetária em um momento em que o governo e o BC convivem com tensões em torno da taxa de juros e da condução do combate à inflação.
Riscos para a economia
Para o economista, mexer nas regras agora seria sinalizar ao mercado que o Brasil não respeita seus próprios marcos institucionais, o que poderia gerar instabilidade em variáveis sensíveis como o dólar, os juros futuros e o fluxo de investimentos estrangeiros.
“Qualquer interferência que fragilize a autonomia do Banco Central é um risco direto à previsibilidade da política econômica. Isso tem impacto sobre crédito, sobre inflação e sobre a confiança dos agentes privados”, destacou.
Contexto político
A pressão sobre o BC ocorre num momento em que parte do Congresso e até setores do governo se mostram insatisfeitos com o ritmo da redução da taxa Selic. Apesar das quedas recentes, críticos afirmam que o custo do crédito ainda é alto e trava o crescimento.
Salto, no entanto, defende que a autonomia do BC é uma conquista institucional e que eventuais ajustes na condução da política monetária devem vir de decisões técnicas, não de arranjos políticos de curto prazo.
Possíveis efeitos
Especialistas ouvidos em paralelo avaliam que, se prosperar, a proposta pode colocar o Brasil em rota de colisão com investidores internacionais, que veem a independência do Banco Central como um pilar de segurança para aplicar recursos no país.