Politica

Deputada aciona aliados do bolsonarismo como testemunhas em sua defesa no processo que ameaça seu mandato

A deputada federal Carla Zambelli, conhecida por sua atuação na ala mais ideológica do bolsonarismo, decidiu convocar como testemunhas em sua defesa dois personagens emblemáticos do campo conservador: o jornalista Oswaldo Eustáquio e o ex-assessor parlamentar Eduardo Tagliaferro. Ambos foram arrolados pela defesa da parlamentar no processo que pode resultar na cassação de seu mandato por quebra de decoro parlamentar.

A estratégia, considerada arriscada por alguns analistas, visa reforçar a tese de que Zambelli é alvo de perseguição política e de uma tentativa coordenada de silenciamento das vozes conservadoras no Parlamento. A escolha das testemunhas sinaliza que a deputada não pretende recuar do embate político-ideológico que marca sua trajetória, mesmo diante do risco concreto de perda de mandato.


O processo de cassação: o que está em jogo

A parlamentar enfrenta processo no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, originado a partir de episódios de forte repercussão pública e jurídica. Entre os principais elementos estão sua atuação nas redes sociais, a divulgação de conteúdos considerados desinformativos, seu envolvimento em polêmicas com membros do Judiciário e, principalmente, o episódio armado em São Paulo às vésperas das eleições de 2022, quando sacou uma arma de fogo em via pública.

O conjunto de ações levou partidos e parlamentares a questionarem sua conduta com base nos princípios do decoro, da ética e da responsabilidade institucional. A avaliação dentro do Conselho é que a soma de episódios compromete a imagem do Parlamento e pode configurar violação grave das normas da Casa.

Diante disso, a deputada montou uma estratégia de defesa centrada na tese de que está sendo alvo de um processo movido por motivações ideológicas, e que suas ações estariam amparadas pela liberdade de expressão e pela prerrogativa de parlamentar.


Quem são as testemunhas escolhidas

Oswaldo Eustáquio

Jornalista alinhado ao bolsonarismo e personagem central em diversos inquéritos que investigam redes de desinformação e ataques às instituições, Eustáquio ganhou notoriedade nos últimos anos por sua atuação em ambientes digitais e por seu vínculo com setores radicais da direita. Já foi alvo de prisões preventivas, teve medidas cautelares decretadas e é figura frequente em investigações conduzidas pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

A escolha de Eustáquio como testemunha sugere que Zambelli pretende explorar o discurso da criminalização do pensamento conservador. Seu depoimento, segundo aliados da deputada, terá como foco relatar episódios que supostamente evidenciam o uso de instrumentos judiciais como forma de repressão política. No entanto, sua presença como testemunha também pode levantar críticas dentro do Conselho, dada sua condição de investigado e seu histórico de confronto com o Judiciário.

Eduardo Tagliaferro

Menos conhecido do grande público, mas atuante nos bastidores da política conservadora, Tagliaferro tem forte ligação com lideranças de direita no Congresso e já integrou gabinetes de parlamentares da base bolsonarista. Sua inclusão como testemunha aponta para a tentativa de demonstrar que as ações de Zambelli, mesmo polêmicas, estavam inseridas em contextos políticos legítimos e com respaldo dentro de sua base de apoio.

Sua fala deve reforçar o argumento de que a deputada agiu em consonância com o sentimento de parte significativa do eleitorado e que sua conduta foi distorcida pelos adversários políticos e pela imprensa.


Leitura nos bastidores: estratégia de risco

A escolha das testemunhas gerou reações diversas nos corredores do Congresso. Para aliados mais próximos de Zambelli, trata-se de um movimento coerente com sua linha política — uma tentativa de reforçar o vínculo com sua base mais fiel e de transformar o processo em palco para denúncia de perseguição ideológica.

Já entre parlamentares de centro e oposição, a leitura é outra: a deputada estaria dobrando a aposta em uma narrativa de confronto, o que pode prejudicá-la no momento em que o Conselho de Ética se mostra inclinado a buscar soluções de distensão e equilíbrio. A presença de figuras altamente polarizadoras pode ampliar a rejeição a sua postura entre parlamentares indecisos.

Além disso, há quem acredite que a convocação de Eustáquio, em especial, possa ter efeito reverso: ao reaproximar a deputada de personagens envolvidos em inquéritos delicados, ela reforçaria justamente o argumento de que sua atuação extrapola os limites institucionais.


Defesa aposta em mobilização da base

A convocação das testemunhas ocorre em paralelo a uma ofensiva digital de Zambelli para mobilizar seu eleitorado. Em suas redes sociais, a deputada tem intensificado postagens que apontam suposta “injustiça” do processo, usando termos como “perseguição política”, “tentativa de censura” e “ataque à liberdade de expressão”. O objetivo é criar um ambiente de pressão pública que ajude a sensibilizar os membros do Conselho de Ética.

Paralelamente, sua assessoria jurídica prepara sustentações que contestam a legalidade do processo, levantam supostas falhas procedimentais e questionam a imparcialidade de seus críticos. Há também a expectativa de que, com a proximidade das eleições municipais de 2024, parte dos parlamentares prefira evitar protagonismo em votações polêmicas — o que poderia beneficiar a deputada na etapa final do processo.


Conclusão: embate se intensifica e revela estratégia de resistência

Ao convocar Oswaldo Eustáquio e Eduardo Tagliaferro como testemunhas em sua defesa, Carla Zambelli sinaliza que pretende enfrentar o processo de cassação com o mesmo estilo combativo que marca sua carreira política. A estratégia adotada privilegia a fidelização da base e a construção de uma narrativa de vítima do sistema, em detrimento da busca por acordos ou gestos de moderação.

Resta saber se essa postura será suficiente para garantir sua permanência no mandato — ou se acabará isolando-a ainda mais num Congresso cada vez mais atento às consequências institucionais de episódios que envolvem figuras públicas e discursos extremados.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *