Atividade econômica do Canadá registra contração no segundo trimestre, com queda de 1,6% no ritmo anualizado
O Produto Interno Bruto (PIB) do Canadá apresentou retração de 1,6% na taxa anualizada no segundo trimestre do ano, de acordo com dados oficiais que indicam uma desaceleração relevante da atividade econômica entre os meses de abril e junho. O número, que representa a variação ajustada para um ritmo anual — ou seja, como a economia teria se comportado ao longo de um ano se a tendência trimestral se mantivesse —, sinaliza um esfriamento no crescimento do país e levanta discussões sobre os próximos passos da política monetária canadense.
Esse desempenho negativo veio após um primeiro trimestre marcado por leve crescimento, e foi impulsionado por uma combinação de fatores internos e externos que afetaram o consumo, os investimentos e as exportações. O recuo mostra que, apesar da resiliência do mercado de trabalho e da estabilidade fiscal do país, o impacto das altas taxas de juros começa a se refletir com mais intensidade nos indicadores econômicos.
Entre os principais elementos que contribuíram para a queda estão:
- Redução nos gastos das famílias: O consumo doméstico, que representa uma parte significativa do PIB canadense, cresceu em ritmo muito menor do que o observado anteriormente. A inflação persistente, combinada com o encarecimento do crédito e o aumento das dívidas pessoais, levou muitas famílias a frearem o consumo, principalmente em bens duráveis e serviços considerados não essenciais.
- Queda nos investimentos empresariais: O ambiente de juros elevados, promovido pelo Banco Central do Canadá como resposta à inflação, tem inibido novos investimentos por parte do setor privado. A redução foi sentida especialmente nos setores de construção e tecnologia, com empresários adotando postura mais conservadora diante da incerteza econômica.
- Contração no setor imobiliário: Um dos motores tradicionais da economia canadense, o mercado imobiliário tem sofrido com o aumento do custo dos financiamentos. A diminuição na construção de novas residências e o esfriamento na compra de imóveis afetaram diretamente os dados do trimestre.
- Exportações em queda: O desempenho das exportações canadenses também foi menor que o esperado, em parte por conta da desaceleração global e da diminuição na demanda por commodities — setor no qual o Canadá tem forte presença, especialmente em petróleo, minerais e produtos agrícolas.
Apesar da contração, o país ainda não entra automaticamente em recessão técnica — definida por dois trimestres consecutivos de queda no PIB —, mas o sinal de alerta está dado. A tendência de desaceleração vem sendo monitorada de perto por autoridades econômicas, que agora enfrentam o desafio de calibrar a política monetária para evitar um resfriamento mais acentuado da economia, sem abrir espaço para que a inflação volte a ganhar força.
O Banco Central do Canadá, que vinha promovendo sucessivos aumentos na taxa básica de juros nos últimos trimestres para conter o avanço dos preços, pode encontrar nesse dado uma justificativa para manter os juros em patamar elevado por mais tempo, ou até mesmo considerar cortes graduais se outros indicadores apontarem para um arrefecimento mais duradouro da inflação. No entanto, essa decisão ainda dependerá de dados futuros sobre emprego, produção industrial e confiança do consumidor.
O enfraquecimento do PIB também tem implicações políticas e sociais. Com o crescimento em baixa, aumenta a pressão sobre o governo federal e os governos provinciais para implementar medidas de estímulo que possam preservar empregos, fomentar investimentos e garantir proteção a populações mais vulneráveis — especialmente em um momento de custo de vida elevado e dificuldades habitacionais em muitas cidades do país.
A resposta do setor produtivo à contração ainda é incerta. Grandes empresas tendem a manter estratégias de longo prazo, mas podem rever cronogramas de expansão e contratação se os sinais de fraqueza se mantiverem. Por outro lado, setores como saúde, educação, energia limpa e tecnologia de informação ainda apresentam crescimento, mesmo que em ritmos moderados, o que pode oferecer algum contrapeso à desaceleração observada.
Em resumo, os números do segundo trimestre representam uma virada importante no ciclo econômico do Canadá. Após um período de recuperação pós-pandemia relativamente estável, o país começa a enfrentar os efeitos acumulados de uma política monetária rígida e de pressões globais sobre o comércio e os investimentos. A contração anualizada de 1,6% coloca a economia em compasso de espera, com atenção total voltada aos próximos indicadores que definirão o rumo do crescimento no restante do ano.