Possível retorno de Trump preocupa autoridades brasileiras quanto ao futuro dos compromissos ambientais globais
Com Donald Trump novamente à frente da presidência dos Estados Unidos desde janeiro de 2025, o governo brasileiro observa com crescente apreensão os possíveis efeitos que a nova administração americana poderá causar sobre os compromissos internacionais relacionados ao meio ambiente e às mudanças climáticas. A inquietação, partilhada por autoridades, diplomatas e especialistas do setor, gira em torno da possibilidade de um recuo significativo na liderança dos Estados Unidos na agenda ambiental global — algo que, segundo avaliações internas, pode prejudicar diretamente os avanços esperados nas negociações multilaterais.
Durante seu primeiro mandato, Trump foi amplamente criticado por desmontar políticas ambientais, retirar os EUA do Acordo de Paris e favorecer setores industriais ligados aos combustíveis fósseis. Agora, em seu retorno ao poder, há sinais de que essa linha de atuação pode não apenas ser retomada, mas intensificada. O Brasil, que tenta manter e ampliar sua presença como interlocutor relevante nas questões climáticas, teme que essa nova postura americana enfraqueça a estrutura de acordos ambientais firmados nas últimas décadas.
Nos bastidores do Itamaraty, há a compreensão de que o Brasil pode enfrentar pressões geopolíticas complexas caso os EUA decidam abandonar compromissos assumidos em fóruns como a COP (Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas). Essa possível retirada americana pode provocar um efeito dominó, afetando tanto o financiamento climático internacional quanto o grau de ambição dos planos nacionais de redução de emissões de carbono.
A diplomacia brasileira, que nos últimos anos tem buscado projetar uma imagem mais engajada na pauta ambiental, avalia que a influência dos Estados Unidos sobre outras potências — como países da Ásia e América Latina — pode comprometer o equilíbrio das negociações, especialmente no que diz respeito à implementação de políticas de transição energética e de conservação de biomas sensíveis. O Brasil, detentor de uma das maiores florestas tropicais do planeta, tem assumido compromissos públicos de reduzir o desmatamento e promover fontes renováveis de energia. Contudo, o enfraquecimento da cooperação internacional pode dificultar a obtenção de recursos e tecnologias necessárias para viabilizar essas metas.
Autoridades brasileiras também avaliam os riscos de enfraquecimento dos mecanismos de financiamento climático, como o Fundo Verde para o Clima, que depende da contribuição de países desenvolvidos, especialmente dos Estados Unidos. O temor é que a administração Trump, ao retomar um discurso mais voltado ao nacionalismo econômico, interrompa ou reduza drasticamente o apoio a esses mecanismos, impactando diretamente projetos em países em desenvolvimento, inclusive no Brasil.
No plano interno, o governo brasileiro enfrenta o desafio de manter firme sua política ambiental, mesmo diante de um cenário internacional possivelmente adverso. Para isso, aposta na diversificação de parceiros estratégicos. União Europeia, China, Índia e países africanos têm sido alvo de aproximação com foco em acordos bilaterais ou multilaterais que reforcem a cooperação técnica e financeira em áreas como reflorestamento, bioeconomia e preservação de recursos hídricos.
O setor produtivo brasileiro também se movimenta diante das incertezas provocadas pelo novo governo americano. Empresas ligadas à agropecuária, exportação de commodities e energia renovável têm buscado se adaptar aos padrões internacionais de sustentabilidade, especialmente os exigidos por mercados europeus. No entanto, uma flexibilização das metas por parte dos Estados Unidos pode gerar um ambiente de insegurança regulatória, afetando decisões de investimento e planos de transição ecológica no Brasil.
A comunidade científica, por sua vez, alerta para o impacto potencial de um enfraquecimento da política climática global. Pesquisadores brasileiros apontam que o comprometimento dos Estados Unidos é essencial para manter o ritmo de implementação das metas do Acordo de Paris. A redução da ambição por parte de um dos maiores emissores globais de gases de efeito estufa pode comprometer o esforço coletivo para limitar o aquecimento do planeta a níveis considerados seguros pela ciência.
Na sociedade civil, organizações ambientalistas e movimentos sociais pedem que o Brasil mantenha o compromisso com uma agenda ambiental robusta, independentemente da política adotada pelos Estados Unidos. A defesa do patrimônio natural brasileiro, da Amazônia e de outros biomas ameaçados, segue como uma demanda urgente, especialmente em um contexto onde a liderança global no combate às mudanças climáticas pode se fragmentar.
Diante desse cenário, o governo brasileiro avalia que será necessário reafirmar publicamente, nas próximas conferências internacionais, sua posição em defesa do clima e da sustentabilidade. A estratégia será reforçar parcerias com países que mantêm compromisso firme com o meio ambiente e buscar novas formas de financiamento climático, reduzindo a dependência de grandes potências que possam retroceder em seus compromissos.
Em um mundo cada vez mais pressionado por eventos climáticos extremos, escassez de recursos naturais e disputas geopolíticas sobre energia, o papel do Brasil como nação detentora de riquezas naturais únicas assume uma dimensão ainda mais estratégica. A permanência de Trump no comando da maior economia do planeta impõe obstáculos, mas também abre espaço para o Brasil reafirmar sua soberania ambiental com responsabilidade, visão de futuro e protagonismo.