Bloco europeu propõe cortes tarifários e avança em diálogo estratégico para formalizar entendimento comercial com os Estados Unidos
A União Europeia apresentou nesta semana um conjunto de propostas destinadas a destravar as negociações com os Estados Unidos em torno de um acordo comercial mais amplo e moderno. O objetivo central das novas medidas é reduzir tarifas bilaterais em setores estratégicos e construir um arcabouço de cooperação que vá além das barreiras alfandegárias, incorporando regras comuns sobre sustentabilidade, inovação tecnológica e cadeias produtivas críticas.
As propostas foram levadas a representantes do governo norte-americano em meio a uma nova rodada de diálogo entre autoridades de Bruxelas e Washington, que ocorre num contexto de tensões comerciais globais e diante da necessidade de reforço das alianças econômicas entre potências ocidentais. O avanço das tratativas sinaliza uma tentativa dos dois lados de construir uma alternativa robusta às disputas comerciais com potências emergentes e a dependência excessiva de insumos asiáticos, especialmente em setores como semicondutores, energia limpa e alimentos industrializados.
A principal iniciativa da União Europeia prevê a eliminação gradual de tarifas sobre produtos específicos, com prioridade para bens industriais e agrícolas. O bloco europeu também demonstrou interesse em alinhar padrões regulatórios com os norte-americanos, desde que respeitadas as diferenças históricas e culturais entre os modelos de produção. Isso permitiria, segundo especialistas, facilitar o comércio sem comprometer a segurança alimentar, sanitária e ambiental de cada lado.
Do ponto de vista estratégico, Bruxelas enxerga o acordo como uma oportunidade de aprofundar laços com Washington num momento em que o cenário geopolítico se torna cada vez mais fragmentado. Além da guerra comercial com a China e da instabilidade no Leste Europeu, os europeus buscam se precaver contra oscilações internas no posicionamento dos Estados Unidos, especialmente diante da gestão atual de Donald Trump, que tem adotado medidas protecionistas mais agressivas em relação a parceiros comerciais, inclusive históricos.
A Comissão Europeia destacou que as propostas foram desenhadas com base em consultas com os 27 Estados-membros do bloco e buscam garantir benefícios mútuos, respeitando as sensibilidades de setores produtivos mais vulneráveis. Entre os segmentos que podem ser diretamente beneficiados estão os fabricantes de equipamentos industriais, empresas do agronegócio, indústrias farmacêuticas e companhias tecnológicas com presença transatlântica.
Washington, por sua vez, ainda avalia as propostas, mas demonstrou abertura ao diálogo. Fontes ligadas às negociações indicam que o governo dos Estados Unidos enxerga com bons olhos a possibilidade de um acordo comercial mais estruturado com a UE, principalmente se o pacto incluir salvaguardas para setores estratégicos da indústria americana. A atual administração norte-americana tem dado ênfase à proteção da indústria doméstica, mas também sinaliza interesse em acordos que promovam inovação, segurança econômica e resiliência da cadeia de suprimentos ocidental.
Entre os entraves que ainda precisam ser superados estão divergências sobre subsídios à indústria verde, regras para comércio digital, uso de dados e proteção de propriedade intelectual. A União Europeia pressiona por maior abertura dos Estados Unidos em áreas como tecnologia limpa e produtos agrícolas, enquanto os americanos buscam garantir que seus produtos tecnológicos e serviços digitais tenham maior acesso ao mercado europeu, sem enfrentarem restrições regulatórias severas.
Especialistas em comércio internacional apontam que, mesmo sem a assinatura de um tratado de livre-comércio tradicional, como o antigo TTIP (Transatlantic Trade and Investment Partnership), é possível que os dois blocos avancem em um “acordo modular”, que trate de temas específicos com compromissos graduais e revistos periodicamente. Essa abordagem, mais pragmática, pode evitar os impasses políticos que emperraram rodadas anteriores de negociação e acelerar o fluxo comercial bilateral.
A iniciativa europeia também é vista como uma resposta à crescente competição internacional, em especial frente ao fortalecimento de blocos como o BRICS ampliado, que tem buscado alternativas às estruturas tradicionais de comércio dominadas pelo Ocidente. O fortalecimento dos laços comerciais com os Estados Unidos pode garantir à Europa maior estabilidade econômica, autonomia estratégica e influência nos rumos da nova ordem global.
Ainda não há previsão para a conclusão de um eventual acordo, mas a reativação do diálogo e a apresentação concreta de propostas já são vistas como um avanço expressivo. Em um cenário marcado por incertezas, protecionismo crescente e tensões geopolíticas, a sinalização de cooperação entre União Europeia e Estados Unidos representa um fôlego diplomático e econômico, com potencial de impactar positivamente cadeias globais e a dinâmica comercial internacional nos próximos anos.