Economia

Segundo Galípolo, mercado financeiro reage com cautela à desvalorização do dólar em cenário pós-Trump

O diretor de política monetária do Banco Central, Gabriel Galípolo, observou recentemente que os investidores têm demonstrado uma preocupação crescente com a trajetória do dólar diante da possibilidade de uma nova vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. Segundo Galípolo, o comportamento recente dos mercados sugere que a percepção de risco não se limita apenas a variáveis econômicas domésticas, mas é fortemente impactada por movimentos e incertezas internacionais — em especial, no tocante ao câmbio.

A avaliação do diretor ocorre em meio a um momento de intensa atenção dos agentes econômicos globais à disputa eleitoral norte-americana. A hipótese de retorno do ex-presidente Trump ao comando da maior economia do mundo vem sendo precificada com cautela pelo mercado, sobretudo por causa da memória de medidas imprevisíveis adotadas durante seu primeiro mandato, incluindo tensões comerciais, interferência nas decisões do Federal Reserve e políticas fiscais agressivas.

Galípolo pontuou que, nesse novo ciclo, o investidor internacional parece demonstrar mais inquietação com o enfraquecimento do dólar do que com sua valorização. Isso porque, ao contrário do que se viu em momentos anteriores de aversão ao risco — quando o dólar se fortalecia como ativo de proteção —, o atual cenário indica uma preocupação mais sistêmica com os rumos fiscais e monetários que um eventual novo governo Trump poderia adotar.

A percepção do mercado é de que a combinação entre políticas econômicas expansionistas, redução da independência institucional e possíveis atritos geopolíticos pode gerar um ambiente de instabilidade e pressionar a moeda americana. Para Galípolo, esse movimento já se reflete em alguns ajustes observados em carteiras internacionais, com uma busca por diversificação e maior alocação em ativos de economias emergentes, metais preciosos e outras moedas consideradas alternativas ao dólar.

O diretor também lembrou que as expectativas cambiais no Brasil não estão imunes a esse contexto. Embora o país mantenha fundamentos sólidos em vários aspectos — como um regime de câmbio flutuante, reservas internacionais elevadas e um sistema bancário robusto —, a volatilidade internacional pode gerar impactos importantes sobre os fluxos de capital, a inflação importada e, consequentemente, sobre a política monetária.

Nos últimos meses, o real oscilou diante de pressões externas, muitas delas associadas ao cenário eleitoral norte-americano e à postura do Federal Reserve. Para Galípolo, o que se vê agora é um movimento diferente daquele padrão “risco global alto = dólar forte”. O receio atual é que, com uma administração Trump 2.0, possa haver uma perda de confiança institucional nos Estados Unidos, afetando a credibilidade fiscal e provocando reflexos de médio e longo prazo na moeda americana.

Essa leitura tem sido compartilhada também por analistas de grandes casas internacionais. A ideia de que o dólar poderia perder parte de sua força — não em razão de um choque externo tradicional, mas como consequência de decisões internas dos próprios Estados Unidos — é uma das principais preocupações discutidas por investidores que monitoram os riscos políticos e institucionais vindos de Washington.

Galípolo destaca que, diante desse cenário, o Banco Central brasileiro permanece atento a qualquer movimento abrupto no mercado de câmbio, mas reafirma o compromisso com a autonomia da política monetária e com a manutenção da estabilidade financeira. Ele reforça que o câmbio flutuante continua sendo uma âncora importante da economia brasileira, mas admite que o contexto externo está cada vez mais imprevisível, o que exige cuidado e vigilância constante.

O executivo também pontuou que a condução da política monetária no Brasil não depende exclusivamente do câmbio, mas reconheceu que a dinâmica da moeda americana tem influência direta sobre as expectativas de inflação e, por consequência, sobre o ciclo de juros. Nesse sentido, o comportamento do dólar será um dos fatores considerados pelo Comitê de Política Monetária (Copom) na avaliação dos próximos passos da taxa Selic.

A fala de Galípolo ocorre em um momento em que o mundo financeiro observa com atenção não apenas os indicadores econômicos, mas também os desdobramentos políticos nas grandes potências. A crescente imprevisibilidade institucional, inclusive nos Estados Unidos, força os investidores a reavaliar premissas que antes pareciam consolidadas — como a hegemonia do dólar como moeda incontestável de reserva global.

Essa reavaliação gera não apenas dúvidas sobre o papel futuro dos EUA na economia global, mas também oportunidades para outras economias, como o Brasil, que podem se beneficiar da busca por diversificação. Contudo, Galípolo alerta que tais oportunidades só se concretizam com estabilidade institucional, responsabilidade fiscal e credibilidade da política econômica.

Enquanto o mundo acompanha o desenrolar do processo eleitoral norte-americano, os mercados seguem atentos às palavras dos formuladores de política monetária e à capacidade de adaptação dos países emergentes frente a um cenário global em rápida transformação.

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