Presidente brasileiro condena aumento de tarifas e discute impacto comercial com líder francês em ligação diplomática
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva voltou a expressar sua insatisfação com medidas protecionistas adotadas por países desenvolvidos. Em uma conversa telefônica com o presidente da França, Emmanuel Macron, Lula reiterou sua posição contrária ao chamado “tarifaço” — conjunto de medidas que ele considera prejudiciais ao comércio internacional, especialmente para nações em desenvolvimento como o Brasil.
A ligação entre os dois líderes, segundo fontes do governo brasileiro, ocorreu em um momento delicado das negociações comerciais entre o Mercosul e a União Europeia, além de coincidir com debates globais sobre políticas econômicas mais protecionistas adotadas por grandes potências, sobretudo em resposta a pressões internas por reindustrialização e defesa de setores locais.
Críticas ao protecionismo europeu
O governo brasileiro vê com preocupação as recentes sinalizações da União Europeia, e especialmente da França, sobre a aplicação de tarifas e subsídios que afetariam diretamente exportações brasileiras de produtos agrícolas e industriais. Para Lula, essas medidas representam um obstáculo ao desenvolvimento econômico dos países do Sul global e contradizem o discurso de livre comércio defendido historicamente por economias desenvolvidas.
Durante a conversa, Lula teria enfatizado que esse tipo de barreira comercial afeta de forma desproporcional os países com menor capacidade de influência nos fóruns multilaterais. O Brasil, que busca ampliar sua presença no mercado internacional, teme que essas práticas prejudiquem a competitividade de suas exportações, além de comprometer acordos em andamento.
Acordo Mercosul-União Europeia no centro do debate
Um dos principais temas tratados entre Lula e Macron foi o acordo entre o Mercosul e a União Europeia, cujas negociações se arrastam há mais de duas décadas. Enquanto o Brasil busca concluir o tratado com regras mais equilibradas, vários países europeus, incluindo a França, têm demonstrado resistência, alegando preocupações ambientais, sociais e sanitárias.
O governo francês tem sido uma das vozes mais críticas ao acordo em sua forma atual. Setores da agricultura francesa, por exemplo, receiam perder competitividade diante da entrada de produtos sul-americanos. Lula, por outro lado, tem defendido que o tratado seja uma via de mão dupla, com benefícios mútuos e sem medidas que funcionem, na prática, como novas barreiras ao comércio.
Alinhamento entre líderes, mas com visões distintas
Embora o diálogo entre Lula e Macron tenha ocorrido em clima amistoso, há diferenças claras nas abordagens de ambos os líderes. Macron adota um discurso fortemente voltado à proteção dos interesses locais franceses e europeus, especialmente diante de um cenário geopolítico mais instável, com disputas comerciais entre grandes potências e tensões ligadas à sustentabilidade ambiental.
Lula, por sua vez, insiste que o combate às desigualdades globais passa pela abertura de mercados, pela justiça nas regras do comércio internacional e por uma reforma das instituições multilaterais. Em sua visão, o atual modelo favorece países já desenvolvidos e limita a capacidade de crescimento das economias emergentes.
Repercussões internas e externas
A conversa com Macron também foi interpretada como uma tentativa de Lula de posicionar o Brasil como uma liderança no Sul global, defensor do multilateralismo, do equilíbrio comercial e da cooperação internacional. O presidente tem buscado reforçar esse papel em diversas frentes, inclusive no G20, onde o Brasil exerce a presidência rotativa.
Internamente, a postura firme contra o “tarifaço” é bem recebida por setores do agronegócio e da indústria, preocupados com a manutenção de mercados abertos e com a previsibilidade nas relações comerciais internacionais. Por outro lado, alguns analistas apontam que o cenário global atual é cada vez menos receptivo à liberalização ampla do comércio, com países buscando proteger seus setores estratégicos.
O pano de fundo: desafios globais e disputa por influência
O cenário que envolve essa conversa entre Lula e Macron é muito mais amplo do que uma simples discordância comercial. Ele reflete as mudanças profundas nas dinâmicas internacionais, onde a disputa por influência, o reposicionamento das cadeias produtivas e a pressão por sustentabilidade estão redesenhando as regras do jogo.
Com o aumento do protecionismo nos Estados Unidos, a China expandindo sua presença comercial global e a Europa tentando equilibrar interesses econômicos e ambientais, países como o Brasil enfrentam o desafio de se manter relevantes e competitivos sem perder a capacidade de negociar em condições justas.
Diplomacia como ferramenta de pressão
Ao reforçar seu repúdio às medidas tarifárias durante a ligação com Macron, Lula também utilizou a diplomacia como instrumento político. A mensagem é clara: o Brasil não aceitará acordos assimétricos, nem se submeterá passivamente a decisões unilaterais de países com maior poder econômico.
Essa postura dialoga com outras iniciativas recentes do governo brasileiro no cenário internacional, como a defesa de reformas na Organização Mundial do Comércio e a cobrança por maior representatividade dos países do Sul nas decisões globais.