Lula acusa política externa norte-americana de demonizar adversários internacionais em disputas geopolíticas
Durante uma fala carregada de críticas à condução da política externa dos Estados Unidos, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o governo norte-americano costuma adotar uma postura sistemática de construção de inimigos, criando imagens negativas e distorcidas sobre os países ou líderes com os quais entra em confronto. A declaração foi feita em um contexto de discussão mais ampla sobre relações internacionais e o papel do Brasil em um cenário global cada vez mais polarizado.
Lula abordou o tema ao comentar tensões geopolíticas envolvendo grandes potências, e foi direto ao criticar o que classificou como uma estratégia recorrente dos Estados Unidos: a de moldar a opinião pública global contra nações ou lideranças que não se alinham automaticamente aos interesses norte-americanos. Segundo ele, esse tipo de prática tem sido comum ao longo das últimas décadas, desde a Guerra Fria até os dias atuais, e continua presente na forma como certos conflitos e impasses são narrados.
O presidente brasileiro afirmou que, em vez de buscar soluções diplomáticas e o entendimento entre os povos, a maior potência do mundo muitas vezes recorre à tática de estigmatizar seus oponentes, transformando diferenças políticas ou econômicas em narrativas de ameaça global. Esse comportamento, ainda segundo Lula, contribui para a escalada de tensões e para o enfraquecimento de fóruns multilaterais de negociação.
Durante sua fala, o presidente também destacou que o Brasil não compactua com esse tipo de abordagem e defendeu um posicionamento mais equilibrado por parte da comunidade internacional. Para ele, o mundo precisa de diálogo, respeito à soberania e entendimento entre as nações — e não de estratégias que fomentem o medo, o isolamento e a construção artificial de vilões.
As palavras de Lula refletem a linha diplomática que seu governo tem buscado adotar, com foco no multilateralismo, no fortalecimento do Sul Global e na tentativa de reposicionar o Brasil como mediador em crises internacionais. O país tem procurado manter relações com diferentes blocos e potências, inclusive com nações que enfrentam sanções ou críticas por parte dos Estados Unidos e da União Europeia. Esse equilíbrio, porém, já foi alvo de críticas de setores mais alinhados ao Ocidente, que acusam o governo brasileiro de relativizar violações de direitos humanos ou ameaças à democracia em nome de uma postura neutra.
Ainda assim, Lula insiste na defesa de um novo modelo de governança internacional, mais justo, menos dependente dos interesses das grandes potências e mais comprometido com a autodeterminação dos povos. Ao criticar a maneira como os Estados Unidos lidam com seus adversários, o presidente brasileiro também reacende o debate sobre o papel das narrativas internacionais na legitimação de conflitos, sanções e intervenções.
A fala de Lula também ocorre em um momento delicado, com diversos conflitos ativos ao redor do mundo e crescentes tensões entre blocos de poder. Em alguns desses cenários, os Estados Unidos têm desempenhado papel central, seja no apoio a aliados, na imposição de medidas econômicas, ou na definição de quem representa risco à “ordem internacional”. É nesse ponto que o presidente brasileiro aponta o que considera ser uma tendência problemática: a criação deliberada de uma figura demonizada do outro lado, com o objetivo de obter apoio interno e externo para ações políticas ou militares.
A crítica do presidente não é isolada. Outros líderes de países em desenvolvimento já manifestaram preocupações semelhantes, alertando sobre o uso da mídia internacional e de estruturas institucionais para reforçar versões únicas de determinados eventos globais. Lula, ao ecoar esse sentimento, reforça sua visão de que o Brasil deve ser protagonista de uma nova lógica internacional, pautada pela multipolaridade e pela recusa de alinhamentos automáticos.
A declaração também levanta questionamentos sobre os limites entre crítica legítima e confrontos diplomáticos. Embora o Brasil mantenha relações históricas com os Estados Unidos, falas como essa colocam em evidência os pontos de atrito e a distância entre as prioridades geopolíticas dos dois países em certos temas.
O discurso do presidente, portanto, não se limita a uma simples crítica: é parte de uma construção política mais ampla, na qual o Brasil busca se posicionar como defensor do diálogo, da soberania nacional e da resistência a pressões externas unilaterais. Em meio ao cenário internacional instável, Lula reafirma que o país não aceitará participar de narrativas que simplificam conflitos e reduzem disputas complexas a uma luta entre “mocinhos” e “vilões”.