Setor de serviços norte-americano registra maior encarecimento em quase três anos
O setor de serviços dos Estados Unidos apresentou, recentemente, um dos maiores avanços de preços desde outubro de 2022, indicando pressões inflacionárias persistentes na principal economia do mundo. A alta surpreendente nos custos desse segmento reacendeu debates sobre a trajetória da inflação e o impacto potencial nas decisões futuras da política monetária norte-americana.
O índice de preços ligado aos serviços, que engloba atividades como alimentação, transporte, hospedagem, cuidados pessoais, saúde e entretenimento, tem mostrado aceleração superior às expectativas dos analistas. Esse comportamento reforça a percepção de que, embora a inflação de bens tenha demonstrado sinais de alívio, o setor de serviços ainda permanece como um dos principais vetores de pressão sobre os preços nos Estados Unidos.
A última vez que o avanço nesse setor foi tão expressivo remonta ao fim de 2022, quando os Estados Unidos enfrentavam uma das fases mais tensas do ciclo inflacionário pós-pandemia. Naquele período, gargalos logísticos, escassez de mão de obra e elevação nos custos operacionais provocaram aumentos generalizados. Agora, embora o contexto seja diferente, o padrão de elevação reaparece, impulsionado por uma combinação de demanda aquecida, reajustes salariais e custos estruturais.
Economistas avaliam que a força do setor de serviços reflete a resiliência do consumo interno norte-americano. Com o mercado de trabalho ainda aquecido e a confiança do consumidor relativamente estável, muitos americanos continuam demandando serviços de forma consistente. Isso tem permitido que empresas repassem aumentos de custos aos preços finais sem perder competitividade.
Esse movimento, no entanto, complica a missão do Federal Reserve. O banco central dos Estados Unidos tem buscado conter a inflação por meio do aumento das taxas de juros nos últimos anos, mas sinais como o atual, vindos de setores menos sensíveis aos juros — como o de serviços —, indicam que a inflação pode se manter acima do nível ideal por mais tempo do que o esperado.
O setor de serviços tem um peso significativo na economia dos EUA, tanto em termos de Produto Interno Bruto quanto em geração de empregos. Por isso, alterações nos preços praticados nesse segmento são acompanhadas de perto pelo Federal Reserve ao definir os próximos passos da política monetária. A persistência desse encarecimento pode levar a uma reavaliação do calendário previsto para eventuais cortes nas taxas de juros, que muitos agentes do mercado esperavam ver ainda neste ano.
O aumento generalizado de preços em serviços como passagens aéreas, serviços de alimentação, seguros de saúde e aluguel de imóveis foi um dos principais motores desse novo pico. Em algumas regiões do país, o reajuste acumulado em certas categorias de serviços ultrapassou dois dígitos no período de doze meses, o que gera preocupações não apenas macroeconômicas, mas também sociais, especialmente para famílias de baixa renda que comprometem grande parte de seu orçamento com serviços essenciais.
A situação também gera reflexos nos mercados financeiros. Com o avanço inesperado nos preços, as expectativas de inflação de médio prazo voltaram a subir, e investidores passaram a revisar projeções sobre o rumo dos juros, afetando o desempenho de ativos sensíveis à política monetária, como títulos do Tesouro e ações de setores ligados ao consumo.
Enquanto isso, cresce a expectativa por novos dados econômicos que possam confirmar se o movimento atual é passageiro ou sinal de uma tendência mais duradoura. A resposta a essa pergunta será fundamental para definir os próximos rumos da economia americana — e, por extensão, os efeitos sobre outras economias ao redor do mundo, dada a influência global dos Estados Unidos.