Economia

Criptomoeda enfrenta recuo em meio ao aumento do protecionismo e fuga de investidores de ativos voláteis

O Bitcoin registrou forte desvalorização em meio ao aumento das tensões comerciais globais, intensificadas após declarações e ações mais duras do ex-presidente norte-americano Donald Trump. O movimento de queda na maior criptomoeda do mundo reflete a crescente aversão ao risco dos mercados, que passaram a reagir de forma defensiva à possibilidade de novas tarifas e restrições comerciais, reacendendo temores sobre desaceleração econômica e instabilidade financeira.

Com o cenário internacional cada vez mais volátil, os investidores optaram por reduzir exposição a ativos considerados de maior risco e alta oscilação, como as criptomoedas. O Bitcoin, que frequentemente é usado como ativo especulativo em períodos de liquidez abundante e otimismo, foi fortemente impactado por essa mudança de percepção, recuando em ritmo acelerado ao longo dos últimos dias.

O gatilho para o movimento de aversão foi a retomada do discurso protecionista por parte de Donald Trump, que tem reiterado, em falas recentes, sua intenção de impor tarifas adicionais sobre produtos importados, principalmente da China e da Europa, caso volte ao cargo em um eventual novo mandato. A possibilidade de um recrudescimento nas relações comerciais entre as maiores economias do mundo levou a uma realocação dos fluxos financeiros globais, com fuga de capitais dos mercados mais expostos ao risco.

Essa reconfiguração atingiu não apenas os mercados tradicionais, como ações e commodities, mas também o universo das criptomoedas. O Bitcoin, por sua natureza descentralizada e seu histórico de forte volatilidade, foi um dos primeiros ativos a sentir os efeitos da deterioração do sentimento de risco. A cotação da moeda digital chegou a registrar perdas diárias expressivas, levando consigo outras criptos como Ethereum, Solana e Cardano, que seguiram a tendência de baixa.

A queda do Bitcoin também é explicada pela mudança no perfil de seus investidores. Atualmente, uma parcela considerável dos detentores da criptomoeda é composta por fundos institucionais, que têm políticas rigorosas de gestão de risco e são mais sensíveis a movimentos de incerteza macroeconômica. Assim, em cenários de turbulência, é comum que esses fundos realizem lucros rapidamente ou migrem para ativos mais seguros, como títulos do Tesouro norte-americano ou ouro.

Além disso, o fortalecimento do dólar frente a outras moedas internacionais contribuiu para a pressão sobre o preço do Bitcoin. Como a criptomoeda é cotada globalmente em dólares, qualquer valorização significativa da moeda norte-americana tende a reduzir a atratividade de ativos alternativos. Esse movimento afasta investidores de mercados emergentes, que veem o custo de entrada em ativos dolarizados aumentar consideravelmente.

Embora o Bitcoin seja por vezes tratado como um possível “porto seguro digital”, em momentos de pânico financeiro generalizado ele costuma se comportar como um ativo de risco, acompanhando quedas semelhantes às observadas nas bolsas de valores. Isso ficou evidente em ocasiões anteriores, como durante as tensões comerciais de 2019, os primeiros meses da pandemia em 2020 e, mais recentemente, nos choques de política monetária promovidos por bancos centrais.

Especialistas apontam que, mesmo com a queda atual, o Bitcoin ainda mantém fundamentos de longo prazo positivos, especialmente devido à sua escassez programada e à crescente adoção por grandes instituições e plataformas de pagamento. No entanto, alertam que o ativo continuará exposto a oscilações de curto prazo, sobretudo em um ambiente de incerteza política e econômica global como o atual.

A volatilidade observada no mercado de criptomoedas serve como lembrete de que, apesar da sofisticação crescente do setor, ele ainda reage de maneira sensível a fatores externos, especialmente àqueles que alteram as condições de liquidez, estabilidade cambial e confiança dos investidores.

Enquanto isso, analistas seguem acompanhando os desdobramentos da retórica comercial adotada por líderes políticos globais, bem como as respostas dos bancos centrais aos movimentos de fluxo de capital e inflação. Para o Bitcoin, o curto prazo deve continuar marcado por instabilidade, exigindo cautela tanto de investidores institucionais quanto individuais.

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