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Campanha de jeans com Sydney Sweeney gera debate sobre “genes” e “jeans” e provoca acusações de racismo

A mais recente campanha de moda da American Eagle estrelada pela atriz Sydney Sweeney, intitulada “Sydney Sweeney Has Great Jeans” (“Sydney Sweeney tem ótimos jeans”), provocou intensa polêmica nas redes sociais e na imprensa internacional. A campanha faz um trocadilho entre as palavras “jeans” (calça jeans) e “genes” (material genético), que muitos interpretaram como uma celebração de traços genéticos supostamente superiores, especialmente por associar o corpo da atriz — loira, de olhos azuis e com aparência eurocêntrica — a um ideal racial genético.

Nos vídeos, Sweeney afirma: “Os genes são transmitidos de pai para filho, muitas vezes determinando características como cor do cabelo, personalidade e até a cor dos olhos. Meus genes são azuis.” Logo depois, surge a voz que completa o trocadilho: “Ela tem uns ótimos jeans”. Essa estratégia publicitária foi enxergada por críticos como evocativa de teorias antigas de eugenia, especialmente por reforçar estereótipos de beleza ligados à supremacia branca.

Diversas vozes em redes sociais e especialistas levantaram preocupações graves. Sayantani DasGupta, da Universidade de Columbia, apontou que a narrativa ressurge “mensagens eugenistas”, já que coloca em evidência características brancas como alvo de desejo. Além disso, foi mencionada a expressão histórica “sangue azul” usada para reforçar distinções de elite racial.

Apesar das críticas, a American Eagle defendeu a iniciativa e classificou boa parte da reação como “barulho da internet”. Executivos afirmaram que pesquisas internas indicam que cerca de 70% dos consumidores reagiram positivamente ao anúncio e que a marca pretende canalizar os lucros com o modelo “The Sydney Jean” para a crise de violência doméstica, com doações à ONG Crisis Text Line.

Enquanto isso, personalidades como Lizzo e o senador Ted Cruz entraram no debate. A cantora fez paródia no TikTok afirmando “meus jeans são pretos”, como forma de crítica aos padrões de beleza racializados da campanha; vários conservadores defenderam Sydney alegando que o anúncio trata apenas de estilo, não de raça.

Jornais e analistas culturais compararam a campanha à propaganda de Brooke Shields para Calvin Klein, de 1980, que também destacou genética e juventude em um contexto altamente sexualizado. Muitas dessas referências críticas ressaltam que, além de denotar eugenia implícita, o anúncio sexualiza o corpo de Sweeney diante de um público majoritariamente feminino, o que gerou acusações de objetificação.

Ainda que o slogan seja em tom provocativo, críticos afirmam que a combinação entre sexualidade, beleza, raça e genética ultrapassa limites éticos do marketing. No entanto, a polêmica também gerou repercussão comercial: ações da American Eagle subiram cerca de 10% a 11% desde o lançamento, adicionando milhões ao valor de mercado da empresa.

Até o momento, nem Sweeney nem a marca emitiram comentários oficiais em resposta às acusações.


Por que essa polêmica é relevante?

A campanha reacendeu o debate sobre onde começa a publicidade provocativa e onde termina a reprodução simbólica de ideologias discriminatórias. O uso do duplo sentido entre “genes” e “jeans” é interpretado como uma estratégia de choque, mas acaba recriando representações históricas de hierarquia genética associadas à supremacia branca.

Além disso, o anúncio ocorre em um contexto crescente de polarização cultural nos Estados Unidos, onde questões estéticas e sociais se tornam terreno de disputas ideológicas — reforçando como figuras femininas são frequentemente alvo de simbologias carregadas e reações amplificadas por grupos ideológicos.

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