Após 17 meses de expansão contínua, produção da BYD sofre queda em julho
A montadora chinesa BYD, uma das líderes mundiais na produção de veículos elétricos e híbridos plug-in, registrou uma retração em sua produção no mês de julho, marcando a primeira queda após 17 meses consecutivos de crescimento. O resultado representa um sinal de alerta para o setor automotivo chinês, especialmente diante de um cenário de estoques elevados e desaceleração na demanda interna.
Segundo dados divulgados pela própria empresa, a produção total em julho somou cerca de 317 mil unidades, o que representa uma queda de aproximadamente 0,9% em relação ao mesmo período do ano anterior. Embora o número ainda seja elevado, é simbólico por interromper uma sequência de crescimento que vinha desde o início de 2024. O último recuo havia ocorrido em fevereiro daquele ano, em função do feriado prolongado do Ano Novo Lunar, que impactou a atividade industrial.
As vendas da BYD, apesar da produção menor, tiveram um crescimento modesto de 0,6% em relação a julho de 2024, com um total de cerca de 344 mil veículos entregues. No entanto, esse avanço representa uma desaceleração expressiva em relação ao ritmo observado em meses anteriores, como em junho, quando o crescimento foi superior a 12%.
Esse enfraquecimento está sendo atribuído, em grande parte, a fatores internos. Entre eles, destacam-se a elevação dos estoques em concessionárias, a redução de turnos de produção e o adiamento da entrada em operação de novas linhas de montagem. Informações vindas do setor industrial indicam que, em pelo menos quatro fábricas da BYD na China, a capacidade foi reduzida em cerca de um terço, com suspensão de turnos noturnos e adiamento de projetos de expansão.
A China Automotive Dealer Association, entidade que acompanha o desempenho das concessionárias no país, revelou que o tempo médio de permanência dos veículos da BYD nos estoques já ultrapassa três meses. Para efeito de comparação, a média da indústria automotiva chinesa gira em torno de um mês e meio. Esse excesso de oferta tem pressionado as redes de revendedores, levando algumas concessionárias até a encerrar suas atividades devido ao acúmulo de unidades não vendidas.
Outro aspecto importante é a forte concorrência no mercado de veículos elétricos dentro da China, que tem levado a BYD a adotar políticas agressivas de preços. Em alguns modelos, os descontos oferecidos ao consumidor chegam a ultrapassar o equivalente a R$ 35 mil, em uma tentativa de impulsionar as vendas e reduzir os estoques. Apesar disso, os efeitos dessas medidas têm sido limitados, e a margem de lucro da empresa vem sendo comprimida.
Ainda assim, a BYD continua a liderar o mercado global em volume de veículos elétricos vendidos. Em 2024, a empresa superou a norte-americana Tesla em número total de unidades comercializadas, representando cerca de 41% do mercado global desse segmento. A liderança foi alcançada principalmente com base na força do mercado doméstico chinês e em sua estratégia de diversificação de portfólio.
Em resposta ao ambiente doméstico mais desafiador, a empresa vem intensificando sua presença internacional. Exportações já representam cerca de 20% das vendas da BYD em 2025, com foco em mercados estratégicos como Brasil, Europa e América do Norte. Modelos produzidos especialmente para exportação estão ganhando espaço em países que buscam transição energética e redução na emissão de carbono.
Analistas do setor automobilístico avaliam que a desaceleração de julho pode ser um reflexo temporário de ajustes internos e realinhamento de estratégias. No entanto, alertam que a pressão por lucros em um ambiente de descontos agressivos, alta competitividade e estoques inflados pode representar um desafio de médio prazo para a sustentabilidade do crescimento da empresa.
A empresa, por sua vez, tem buscado tranquilizar investidores ao afirmar que sua capacidade instalada permanece estável, e que os ajustes na produção são medidas temporárias para alinhar a oferta com a demanda. Fontes próximas à montadora indicam que o foco, no momento, é preservar a saúde financeira e manter a liderança em inovação e eletrificação da frota.
O recuo na produção em julho, portanto, não representa apenas uma inflexão estatística, mas também um sinal de que a BYD — assim como outras grandes fabricantes do setor — entra em uma nova fase, onde o crescimento será mais moderado, e a eficiência operacional se tornará ainda mais crucial.