Tesouro Nacional aponta crescimento expressivo no déficit das contas públicas, que alcança R$ 44,3 bilhões em junho
Em relatório divulgado recentemente, o Tesouro Nacional revelou que o déficit primário das contas públicas brasileiras atingiu R$ 44,3 bilhões no mês de junho. O valor representa um aumento expressivo em relação aos resultados anteriores e acende um alerta sobre a trajetória fiscal do país em um momento de desaceleração econômica e desafios para o equilíbrio das contas do governo.
O déficit primário é calculado com base na diferença entre as receitas e as despesas do governo, desconsiderando os pagamentos de juros da dívida pública. Quando o resultado é negativo, como neste caso, significa que o governo gastou mais do que arrecadou ao longo do mês — situação que pressiona o endividamento e dificulta o cumprimento das metas fiscais estabelecidas.
De acordo com o Tesouro, o resultado de junho foi fortemente influenciado por um aumento nas despesas obrigatórias, incluindo transferências sociais, benefícios previdenciários e folha de pagamento do funcionalismo público. Ao mesmo tempo, houve uma queda na arrecadação federal, impactada principalmente pelo fraco desempenho da economia, pela redução na receita com impostos e por medidas de desoneração fiscal adotadas nos últimos meses.
Esse cenário de expansão dos gastos e queda de receitas também reflete os efeitos do novo arcabouço fiscal, que busca impor limites ao crescimento das despesas, mas ainda não encontrou espaço para reverter a tendência de déficit no curto prazo. O governo tem enfrentado dificuldades para ampliar as receitas sem elevar impostos de forma abrupta, o que exige um equilíbrio delicado entre responsabilidade fiscal e compromisso com políticas sociais e de investimento.
O resultado acumulado do ano até junho também preocupa. No primeiro semestre de 2025, o déficit primário das contas do governo central (que inclui Tesouro Nacional, Banco Central e Previdência Social) já ultrapassa R$ 80 bilhões, indicando que o cumprimento da meta fiscal para o ano está cada vez mais distante, a menos que haja uma reversão no comportamento das receitas e maior controle nas despesas nos meses seguintes.
O crescimento do déficit tem implicações diretas sobre o nível de confiança de investidores e agências de classificação de risco. Com um cenário fiscal mais pressionado, o Brasil pode enfrentar encarecimento no custo de captação de recursos no mercado internacional e doméstico, além de perda de atratividade para investimentos de longo prazo.
A reação dos economistas ao resultado foi de preocupação, embora já se esperasse um déficit relevante em junho por conta de fatores sazonais. Ainda assim, o valor de R$ 44,3 bilhões supera as projeções mais conservadoras do mercado, o que reforça a necessidade de medidas adicionais para conter o avanço das despesas obrigatórias e estimular a recuperação das receitas, sem comprometer o crescimento econômico.
O Ministério da Fazenda tem reiterado seu compromisso com a estabilidade fiscal e já anunciou que prepara um conjunto de iniciativas para aumentar a arrecadação e racionalizar gastos, sem recorrer a cortes abruptos ou aumento de tributos que afetem o consumo das famílias e a competitividade das empresas. As próximas semanas devem ser decisivas para a definição dessas medidas, especialmente no contexto das discussões orçamentárias para 2026.
Em meio ao debate sobre o controle do déficit, também ganha força a discussão sobre a reforma tributária, que poderá trazer mais eficiência ao sistema de arrecadação e facilitar o planejamento das contas públicas no médio e longo prazo. No entanto, os efeitos dessa reforma só devem ser percebidos gradualmente, o que mantém a pressão sobre o curto prazo fiscal.
Com o resultado de junho, o governo entra no segundo semestre de 2025 sob forte vigilância do mercado e da sociedade quanto à sua capacidade de cumprir metas, preservar a credibilidade fiscal e, ao mesmo tempo, manter os programas sociais e os investimentos públicos essenciais. O equilíbrio entre responsabilidade fiscal e desenvolvimento econômico será o principal desafio dos próximos meses.